Mailson Furtado é escritor, dentre outras obras, de À Cidade (livro vencedor do Prêmio Jabuti 2018 – categorias Poesia e livro do Ano). Em Varjota-CE, fundou a CIA teatral Criando Arte, em 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, e é produtor cultural da Casa de Arte CriAr. Mailson escreve, quinzenalmente, crônicas sobre futebol e outros temas
Com o "advento" do VAR, teria o ofício de árbitro auxiliar se tornado obsoleto?
Foto: Lucas Emanuel/FCF
Árbitra assistente com a bandeirinha em riste em jogo de futebol
O tempo caminha, e nessa barca conjunta que temos o privilégio de partilhar, a gente quando dá por fé, mal vê que tudo passa. E não, esse texto não é sobre saudosismos românticos de um tempo “que os anos não trazem mais!”, como diz o verso de Casimiro de Abreu, mas constatar que assim é caminhar da humanidade: em um dia, invenção, novidade; em outro, obsolescência.
Com o trilhar frenético da tecnologia, não apenas os objetos possuem uma vida útil mais curta, mas também ofícios acabam por se tornarem perecíveis.
O que faria hoje o acendedor de postes e lampiões, tão importante para iluminar cidades até meados do século XX? Os vendedores de enciclopédia a baterem de porta em porta até o começo dos anos 2000, quem os vê ainda?
De exemplo parecido, recordo do saudoso mestre da rabeca da cidade de Varjota, Antonio Hortensio, que me disse que das tantas profissões a acumular na vida, uma delas foi remendador de pratos — “Freguês não faltava, meu fi!”.
Hoje, esses e tantos outros ofícios marcam a memória de tantas gerações, e apesar de um ou outro desgaste para o término, aceitaram o seu “fim”. E creio que este seu o melhor caminho. Mas o mesmo não acontece sempre. Algumas seguem a teimar para terem seu lugar ao sol, mesmo mostrando-se obsoletas diante deste hoje.
No futebol, nos últimos anos com a inserção da tecnologia como parte do jogo, mudanças incontestavelmente viriam. Com o “advento” do VAR, novas cadeiras de trabalho surgem, somando, e em parte alterando, as funções que já existiam.
Dessas, creio que nenhuma sofreu ou está sofrendo mais que os(as) bandeiras.
Entendo, como o próprio nome aponta — árbitro(a) auxiliar —, que a função deste(a) profissional vá muito além da marcação de linhas impedimentos, mas, desde sempre, pelo menos para o senso comum, essa não foi a sua principal atividade? E, por sinal, extremamente difícil!
Com o VAR, por regra, se precisa revisar todo e qualquer lance de impedimento apontado ou não pelo(a) bandeirinha. Sendo assim, se já não é ele(a) que confirma o lance, para que este(a) segue a se preocupar com isto?
Não entendo, e confesso que sinto até certo constrangimento por este(a) profissional, que segue confirmando suas certezas com prova dos noves (quem ainda lembra?!), enquanto os(as) que decidem de fato, têm computadores com suas calculadoras científicas.
Não sei até quando isso durará, mas aquela reclamação clichê que tanto ouvimos e replicamos — onde tá o impedimento, seu bandeira? —, ele(a) mesmo a marcar, já não sabe, ou pior, já não pode responder.
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