Mailson Furtado é escritor, dentre outras obras, de À Cidade (livro vencedor do Prêmio Jabuti 2018 – categorias Poesia e livro do Ano). Em Varjota-CE, fundou a CIA teatral Criando Arte, em 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, e é produtor cultural da Casa de Arte CriAr. Mailson escreve, quinzenalmente, crônicas sobre futebol e outros temas
Toda cidade merece uma rivalidade futebolística para chamar de sua. Agora, na Série C do Cearense, Sobral finalmente terá a sua
Foto: Divulgação/Vila Real FC
Vila Real Futebol Clube, de Sobral, foi lançado em maio
Comendo pipocas na praça Padre Cícero, na minha primeira ida a Juazeiro do Norte, no ano de 2015, presenciei uma arenga daquelas. Dois torcedores, um do Icasa, outro do Guarani, discutindo sobre qual o melhor time da cidade. Um vai e vem danado, cada um com um argumento sobrepondo o anterior, tendo, no fim, como grande parte das pelejas do tipo, a "briga" como a grande vencedora.
Vendo aquela "rumação", lembrei-me de Sobral e dos seis anos que lá morei. Tudo aquilo memorava a arenga que os torcedores do Guarany buscavam travar para celebrar seus feitos, ou redimir-se de quaisquer tropeço, trazendo, no geral, times da Capital para comparar-se.
Eu, vindo da pequena Varjota, e não tendo assistido presencialmente outra rivalidade maior do que Clube do Remo do Araras x Reriutaba, atiçava o converseiro, dizendo: "Vão arrumar um rival pra vocês" —, sem argumentos plausíveis, aí que o fuá atiçava, iêiiiiiiiiii!
Logo que cheguei a Sobral, o Guarany vivia um dos seus melhores momentos da história — vice-campeão cearense e campeão brasileiro da Série D. Com o peito estufado, na tão conhecida maneira de ser sobralense, a torcida foliava. Com olhos externos, eu sentia que, apesar de tudo, faltava alguma coisa naquela festa, e logo me dei conta que a coisa era ter um rival ali pra mangar já do outro lado da esquina da Boulevard do Arco, do Becco do Cotovelo, do Junco, do Sumaré, Terrenos Novos, logo que o árbitro apitasse o fim da partida.
Essa parte da festa (fundamental!), até enquanto estava ali, nunca pude presenciar.
Consciente disso, eu já tratava dessa questão — da falta de um outro time em Sobral —, como um dos motivos, obviamente não o principal, pelo não fortalecimento do futebol profissional na cidade, antes mesmo de presenciar aquela cena no Cariri.
Até que...
Depois de uma crise sem tamanho tomar o Cacique do Vale, deixando o único representante do futebol sobralense sem calendário por duas temporadas. Este 2025 reservou a Sobral não apenas o retorno do Guarany aos gramados, mas também o surgimento de mais um time na cidade, o Vila Real, que já traz em sua gênese o orgulho de levar a história da cidade em seu nome e sua marca.
No último sábado, dia que Sobral celebrou seus 252 anos de história política, em clima de grande festa, o primeiro embate dos dois agora rivais, pela Série C do Cearense, tendo o placar em 1 a 1 no Juncão.
Confesso que aguardo em uma nova ida a Sobral, enquanto como um pastel com Delrio no Becco do Cotovelo, ver uma dessas arengas de torcedores, que sei já seguem espalhadas pelas ruas.
Personagens em cena, dramaturgia em construção — são nessas historietas que a cidade vai se contando, e se dizendo de novo e de novo. Isso sim, um grande motivo para que nesse dobrar de quarto de milênio, a Princesa do Norte siga a se/nos inspirar.
Viva Sobral. Viva o seu futebol.
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