Mailson Furtado é escritor, dentre outras obras, de À Cidade (livro vencedor do Prêmio Jabuti 2018 – categorias Poesia e livro do Ano). Em Varjota-CE, fundou a CIA teatral Criando Arte, em 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, e é produtor cultural da Casa de Arte CriAr. Mailson escreve, quinzenalmente, crônicas sobre futebol e outros temas
Clube do Remo, um clube de pescadores no sertão cearense
Diante do acesso do xará/inspiração paraense, cronista levanta a trajetória do Club do Remo de Varjota, equipe cearense criada às margens do açude Araras
Foto: Emanuell Coelho/ Especial para O Povo
Açude Araras, quarto maior do Ceará, e co-responsável pela fundação do Club do Remo de Varjota
Na semana que o Club do Remo escreve uma das melhores histórias do futebol brasileiro deste 2025, mergulho em meados da década de 1960, onde o azulino do Norte tornava-se inspiração de uma bela história esportiva em pleno sertão cearense.
Às margens do recém construído açude Araras, concluído em 1958, no distrito de Araras, que se tornaria anos mais tarde a cidade de Varjota, milhares de migrantes, operários das frentes de serviço das obras públicas, alicerçavam, ali, sua moradia, crentes em dias melhores, por um novo lugar nos sertões, marcado pela fartura — um bilhão de metros cúbicos de água a lavar dezenas de quilômetros as várzeas dos rios Acaraú, Jatobá e Batoque —, quebrando qualquer imagem ou perspectiva de uma terra marcada pela estiagem.
A semana tomada pelo trabalho, era nos fins de semana a possibilidade de um ou outro lazer — um forró, um samba, e claro o futebol, a marcar a fuga da rotina incessante. Das milhares de pessoas que ali decidiram ficar, fugindo das secas, encontraram no açude, principalmente na pesca, a sua principal fonte de renda.
E é aqui que começa nossa história. Ainda no ano de 1954, nos primeiros anos das obras da barragem, uma pequena elite de funcionários públicos do DNOCS criam o Araras Sporting Club, o primeiro time daquelas terras, que reuniam apenas pessoas ligadas a esse núcleo social.
Com o passar dos anos, pescadores e moradores de comunidades ribeirinhas às margens do açude, passam a compor a equipe, mobilizando as classes mais populares do lugar, dentre elas muitas pessoas, entre jogadores e torcida, que em diversas canoas atravessam as águas do açude para jogar ou acompanhar as partidas geralmente realizadas nos domingos à tarde no distrito do Araras.
Diante de tudo isso, em 1966, o time já abraçado por toda a população, busca um novo nome que traduza da melhor forma seu novo momento, e encontrando a influência no clube paraense, muda seu nome para Clube do Remo, marcando a sua relação com as águas através do azul; aos pescadores; e com o próprio lugar que foi responsável através de seu povo por escrever a história do próprio time.
O Clube do Remo de Varjota, passadas mais de cinco décadas de história, segue vivo. É uma associação juridicamente estabelecida desde os seus primeiros idos, e por onde alguns jogadores de destaque regional e estadual passaram, como Chiquinho do Araras ex-Fortaleza, Guarany-Sobral e Icasa, e Rogerinho ex-Fluminense. Atualmente, o time participa de campeonatos amadores locais, regionais e estaduais de diversas categorias, sendo em 2024, campeão cearense 50tão.
Ver toda a festa que Belém ainda faz por conta do acesso do azulino à Série A depois de mais de três décadas, é confirmar que a grandeza de um grande clube mora no seu povo. E diante isso, é bonito saber que o seu nome — Remo — na pequena Varjota, no sertão cearense, foi a tradução do encontro da paixão de um povo por um time e pelo futebol.
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