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Leão XIV e os desafios do mundo contemporâneo
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Professor de Filosofia da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Leão XIV e os desafios do mundo contemporâneo

Sabemos que estamos diante da possibilidade de nossa própria extinção de tal modo que a catástrofe ecológica se mostra hoje como o inimigo verdadeiro e, assim, constitui um desafio para humanidade inteira
Recém-eleito Papa Leão XIV, Robert Prévost discursa à multidão pela primeira vez na varanda principal da galeria central da Basílica de São Pedro, após o encerramento do conclave pelos cardeais, no Vaticano, em 8 de maio de 2025. Robert Francis Prévost foi eleito na quinta-feira o primeiro papa dos Estados Unidos, anunciou o Vaticano. Moderado, próximo do Papa Francisco e missionário no Peru há anos, ele se torna o 267º pontífice da Igreja Católica, adotando o nome papal Leão XIV. (Foto de Tiziana FABI / AFP) (Foto: Tiziana FABI / AFP
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Foto: Tiziana FABI / AFP Recém-eleito Papa Leão XIV, Robert Prévost discursa à multidão pela primeira vez na varanda principal da galeria central da Basílica de São Pedro, após o encerramento do conclave pelos cardeais, no Vaticano, em 8 de maio de 2025. Robert Francis Prévost foi eleito na quinta-feira o primeiro papa dos Estados Unidos, anunciou o Vaticano. Moderado, próximo do Papa Francisco e missionário no Peru há anos, ele se torna o 267º pontífice da Igreja Católica, adotando o nome papal Leão XIV. (Foto de Tiziana FABI / AFP)

Dirigindo-se ao colégio de cardeais, o papa Leão XIV afirmou que gostaria que renovassem juntos a plena adesão ao caminho que a Igreja universal percorre desde o Concílio Vaticano II. Entre várias características deste caminho, citou duas centrais: o cuidado amoroso com os marginalizados/excluídos e o diálogo confiante com o mundo contemporâneo.

Isto implica uma tomada de consciência dos traços da civilização técnico-científica que construímos na modernidade, em que a ciência e a técnica deram à ação humana um alcance de dimensão planetária, ampliando o horizonte de sua responsabilidade. A ação humana, tecnicamente potencializada, pode deteriorar, de forma irrevogável, a natureza e o próprio ser humano. Tal postura pressupõe uma dicotomia radical entre homem e natureza e compreende ciência e técnica como instrumentos de domínio.

Um dos resultados mais visíveis deste processo é o aumento crescente de bem-estar para uma parte da população mundial, gerador de uma elevação do consumo, vinculada a uma intensa degradação do meio ambiente natural, limitado em seus recursos, e ao aumento exponencial da população, que provocou busca maior de recursos naturais.

A aporia básica desta civilização se revela na terrível incapacidade de pôr um fim ao progresso calculável, destrutivo de si mesmo e da natureza. Por esta razão, sabemos que estamos diante da possibilidade de nossa própria extinção de tal modo que a catástrofe ecológica se mostra hoje como o inimigo verdadeiro e, assim, constitui um desafio para humanidade inteira. Construímos sociedades sem o mínimo de respeito aos direitos mais fundamentais do ser humano e destruidoras da natureza.

A configuração da relação entre os povos passa por grandes transformações enquanto estão em curso tanto um processo de imbricação mundial da vida política e cultural quanto um processo de articulação de um sistema econômico mediante a inclusão de todas as sociedades no sistema de mercado. Sobretudo nos mercados financeiros, que assumem a condução de todo o processo econômico, legitimado por uma teoria econômica que defende o mecanismo de mercado como a forma exclusiva de coordenação de uma sociedade moderna.

Experimentamos um rápido crescimento tecnológico que resulta num grande aumento da produção de riquezas, com a diminuição dos custos das empresas provocada, também, pela diminuição da mão-de-obra. Ao mesmo tempo, aumentam igualmente a fome e a miséria que levam a uma desagregação social cada vez maior ou mesmo à morte de milhões de seres humanos, à disparidade na distribuição de renda e de riqueza. São milhões as crianças desnutridas no mundo e cada vez mais trabalhadores, nos países em desenvolvimento, são expulsos do setor formal da economia para o setor informal. Isto coloca cada ser humano, cada nação, cada cultura face ao desafio de assumir possibilidades e riscos dos efeitos de suas ações.

O filósofo O. Höffe fala de uma "globalização da violência", em que o arbítrio e o poder substituem o direito nas relações entre os povos e as pessoas são marcadas por um crescente egoísmo individual e grupal, pela criminalidade organizada, pelo comércio de armas, drogas e seres humanos, pelo terrorismo internacional.

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