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Márcio Coimbra: Clima Internacional
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Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, cientista político, mestre em Ação Política pela Universidade Rey Juan Carlos (2007), diretor-executivo do Interlegis do Senado Federal. Analisa o cenário político nacional, a partir de um merguilh0op mais profundo nas causas e efeitos.

Márcio Coimbra: Clima Internacional

Tipo Opinião

Meio Ambiente é tema essencial da agenda brasileira. Tem sido assim historicamente. Pioneiro em criar uma estrutura governamental para sistematizar o setor e detentor de uma das mais importantes biodiversidades do mundo, o Brasil é um player relevante nesta matéria, servindo de referência ao longo dos anos em política ambiental por diversos governos.

Internacionalmente o país se tornou interlocutor respeitado no assunto logo depois de sediar a Rio 92, conferência internacional das Nações Unidas, que recebeu dezenas de Chefes de Estado e Governo, assim como lideranças ambientais e ONGs para amplo debate sobre os rumos da questão ambiental. A partir daquele momento, o Brasil, que retomava sua democracia, adquiria legitimidade real para tratar do tema.

Fato é que a imagem internacional do Brasil dialogou de forma profícua com a questão ambiental ao longo dos anos, passando a um entrelaçamento natural. Tanto na esfera multilateral, como nas relações bilaterais, esta agenda integrou-se em nossa política externa como tema relevante e estratégico. Isto significa, em outras palavras, que a percepção internacional do Brasil passou a transitar também por este assunto.

No governo Bolsonaro houve uma inversão. O Brasil saiu da posição de player para pária na questão ambiental. Às vésperas da COP26 em Glasgow, que reúne lideranças de todo o mundo para discutir metas e compromissos dos países em relação às mudanças climáticas, a imagem do Brasil continua altamente deteriorada quando o assunto é meio ambiente. Foram negativas 80,7% das 114 reportagens sobre o tema publicadas sobre o país de janeiro a setembro deste ano em alguns dos mais importantes veículos das Américas.

Grande número de notícias nos primeiros nove meses do ano deu destaque a questões relativas a Amazônia e políticas do presidente Bolsonaro "que estão ativamente prejudicando a floresta tropical".

Algumas reportagens colocaram o tema ambiental em perspectiva mais ampla, na esfera das chamadas melhores práticas em governança, mas sempre em desfavor do Brasil. Isto ficou estampado em publicações como Wall Street Journal, The Economist, Libèration, Toronto Star e La Nación. Muitas matérias têm especial foco em Minas Gerais, pois citam a terrível tragédia em Brumadinho, além do desastre em Mariana e a contaminação do Rio Doce.

O Brasil tem diante de si mais uma oportunidade para operar uma guinada profunda em sua imagem internacional. A conferência em Glasgow apresenta-se como instrumento para este caminho. Os governos estrangeiros pouco esperam de Bolsonaro, é verdade, mas uma política mais profissional e menos ideológica já cairia muito bem para o Brasil.

Ao dialogar de forma propositiva, existe real possibilidade de colhermos êxito. Podemos discutir a agenda climática, fortalecendo nossa posição histórica de referência no meio-ambiente e construir pontes para a discussão de uma série de assuntos estratégicos. Assim como no período pós-Rio-92, seria inteligente voltar a liderar esta agenda como o mais importante player internacional.

Uma estratégia de longo prazo com benefícios políticos e sociais, além dos reflexos positivos diretos na imagem internacional do Brasil. n

 

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