CEO do Instituto Monitor da Democracia e membro do Conselho Superior da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal. Mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos, Espanha
.O que se constata é que Lula não possui o prestígio internacional que acredita ostentar. Se, em mandatos anteriores, sua retórica encantava plateias estrangeiras, hoje ela soa cansada e desconectada
Foto: Ricardo Stuckert/PR
LULA e presidentes dos países amigos do Brics
A cúpula dos Brics, sediada no Rio de Janeiro, deveria ser o grande trunfo diplomático de Lula em 2025. Porém, ao contrário, o encontro se transformou em um constrangedor retrato do desprestígio internacional do presidente brasileiro. O que deveria ser um palco para reafirmar sua liderança, se tornará um festival de ausências - e não por acaso. A lista de chefes de Estado que já declinaram é longa, e as razões são reveladoras.
A mais significativa é a de Xi Jinping. Até recentemente tratado como parceiro prioritário pelo Planalto, o líder chinês optou por não viajar ao Rio. Sua ausência é um recado claro e expressa, entre outras coisas, o descontentamento diante da decisão do governo brasileiro em deixar de aderir formalmente à Iniciativa da Nova Rota da Seda - eixo central da projeção geopolítica de Xi. Ao optar por tornar o Brasil apenas um parceiro preferencial, Lula gerou desconforto e desconfiança nos líderes orientais.
Além disso, recentemente Pequim flexibilizou a entrada de turistas brasileiros em seu território como um gesto de aproximação. O Brasil, contudo, decidiu manter exigências e burocracia para cidadãos chineses. Na diplomacia, reciprocidade é fundamento. Na política externa, é preciso ler nas entrelinhas dos pequenos gestos e os chineses entenderam o recado. E não gostaram.
Entretanto, talvez o episódio mais incômodo tenha ocorrido no plano simbólico. Durante jantar de Estado em Pequim, a primeira-dama Janja quebrou o protocolo ao se dirigir diretamente a Xi Jinping e, de forma inusitada, aproveitou a oportunidade para criticar o TikTok. A intervenção foi considerada desrespeitosa e causou visível desconforto à primeira-dama chinesa, Peng Liyuan. No universo altamente codificado da política oriental, esse tipo de atitude é lido como desconsideração pessoal e diplomática. Foi o empurrão final para a decisão de Xi de se manter distante do Rio. Isto significa que não estamos falando apenas de um desencontro de agendas, mas o sintoma de um desgaste latente que a retórica oficial tenta maquiar.
O que se constata é que Lula não possui o prestígio internacional que acredita ostentar. Se, em mandatos anteriores, sua retórica encantava plateias estrangeiras, hoje ela soa cansada e desconectada. O desprestígio que antes se intuía, tornou-se fato consumado. E a reunião dos Brics no Rio promete ser o cenário definitivo onde se confirmará que a política externa brasileira, sob Lula, perdeu relevância - até entre seus aliados naturais.
Entre o discurso de grandeza e a prática diplomática há um fosso. E nele, afunda o Brasil - sem plateia, sem aliados e, cada vez mais, sem relevância.
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