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Risco chinês
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CEO do Instituto Monitor da Democracia e membro do Conselho Superior da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal. Mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos, Espanha

Risco chinês

.A centralização excessiva, que reprime vozes dissidentes e inovações não sancionadas, contrasta com a promessa de prosperidade e expõe a fragilidade de um sistema que teme a abertura
Tipo Opinião
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante coletiva de imprensa em Pequim, na China (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Foto: Ricardo Stuckert/PR Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante coletiva de imprensa em Pequim, na China

O Quarto Plenário do 20º Comitê Central do Partido Comunista Chinês (PCCh), em Pequim, não é um mero evento rotineiro, mas um momento de engenharia estratégica que visa redefinir o caminho do país num cenário global crescentemente hostil. Reunindo mais de 350 dirigentes, o foco central transcende a governança partidária, voltando-se para a sobrevivência econômica e segurança nacional, materializada nas propostas para o 15º Plano Quinquenal.

O teor central do Plenário, realizado sob acentuada desaceleração econômica e colapso no investimento estrangeiro, foi a mudança brusca de prioridade: do crescimento a todo custo para a segurança e autossuficiência. Sob Xi Jinping, o PCCh busca uma China menos vulnerável a pressões externas, com investimentos maciços em setores estratégicos como inteligência artificial, tecnologia quântica, semicondutores e energia limpa.

Contudo, a alocação seletiva de recursos para esses setores, em detrimento de uma recuperação econômica ampla, repete erros passados. A crise da dívida local e o colapso do setor imobiliário, problemas herdados do 14º Plano, continuam a desafiar a estabilidade, e a insistência em soluções centralizadas revela a incapacidade de promover reformas estruturais profundas.

Longe da retórica de "modernização socialista", a estratégia esconde riscos sistêmicos e geopolíticos. O redirecionamento massivo de crédito da construção civil para a manufatura avançada, sem consumo interno que absorva essa produção, pode simplesmente transferir e agravar a sobrecapacidade industrial, desestabilizando os mercados globais.

Ao forçar a autossuficiência em tecnologias sensíveis, a China acelera a fragmentação dos padrões tecnológicos globais. Isso dificulta o comércio, podendo forçar empresas estrangeiras a escolherem entre o mercado chinês e o resto do mundo, dividindo cadeias de valor e aumentando custos para todos os países, incluindo o Brasil.

O comunicado final consolida diretrizes inquestionáveis, mas a visão do PCCh, ancorada em controle rígido, levanta sérias dúvidas sobre sua sustentabilidade. A centralização excessiva, que reprime vozes dissidentes e inovações não sancionadas, contrasta com a promessa de prosperidade e expõe a fragilidade de um sistema que teme a abertura.

Comparado aos planos anteriores, que se beneficiaram de um ambiente global mais favorável, o 15º Plano enfrenta um mundo mais hostil, onde a desconfiança gerada pelo autoritarismo do PCCh mina a cooperação internacional. O custo dessa abordagem - isolamento econômico, tensões geopolíticas e erosão da coesão social interna - pode superar as ambições do regime, revelando um modelo que, sob a fachada de força, camufla profundas vulnerabilidades.

 

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