CEO do Instituto Monitor da Democracia e membro do Conselho Superior da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal. Mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos, Espanha
.Em um contexto de crime organizado transnacional, defender a cooperação técnica entre nações é imperativo que deve ser cobrado de nossa diplomacia, uma vez que fortalece nossa segurança interna, fecha brechas na rede global de inteligência e prioriza resultados concretos acima de vetos ideológicos
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Vista da igreja da Penha, do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro
A operação deflagrada no Rio de Janeiro expôs a face transnacional do crime organizado. Ao enfrentar o Comando Vermelho, a polícia estava também atingindo pontos nevrálgicos de uma organização criminosa transnacional. Estamos diante de um sistema que alimenta redes globais de tráfico, lavagem e violência que demandam respostas coordenadas além de nossas fronteiras. Sem integração plena de inteligência, operações como essa combatem apenas sintomas enquanto o ilícito se reorganiza em tempo real.
Em um mundo onde o crime ignora soberanias, a cooperação policial internacional é imperativa. A Interpol, com seu canal I-24/7, processa 1,2 milhão de consultas diárias. Ainda assim, a rede apresenta vazios criados por critérios políticos. Cidades do porte de Hong Kong e países como Kosovo e Taiwan poderiam estar mais integrados ao sistema internacional.
Apesar da expertise, permanecem fora das reuniões, treinamentos e do I-24/7 - uma exclusão ditada por pressões políticas. As forças de segurança de Taipei, por exemplo, desmantelaram em 2024 uma plataforma de exploração infantil com 5 mil membros, rastreando criptomoedas e operadores transfronteiriços.
Taiwan não é um caso isolado. Hong Kong foi rebaixado a "escritório de ligação" após 1997 e Kosovo, reconhecido por mais de cem países, ainda luta por acesso. Todas essas jurisdições possuem forças policiais operacionais e registros de cooperação bilateral exitosa, mas são mantidas à margem por vetos políticos. A resolução da 53ª Assembleia Geral da Interpol, em 1984, não impôs barreiras a participações como a de Taiwan, uma vez que a organização trabalha com a mais ampla assistência mútua. Logo, subordinar o órgão a disputas diplomáticas é escolher ideologia em vez de resultados reais que podem salvar vidas.
A segurança internacional não tolera pontos cegos. Na 93ª Assembleia Geral da Interpol, em 2025, priorizar capacidade técnica e poder de cooperação sobre política é medida de pragmatismo e de segurança, não de cortesia. Conceder acesso aos países capazes de ajudar a combater o crime organizado em outras jurisdições é essencial, evitando lacunas que podem ser exploradas por organizações que operam nas sombras da lei.
A inclusão de todas as jurisdições competentes na Interpol é reforço operacional que beneficia diretamente o Brasil. Em um contexto de crime organizado transnacional, defender a cooperação técnica com essas nações é imperativo que deve ser cobrado de nossa diplomacia, uma vez que fortalece nossa segurança interna, fecha brechas na rede global de inteligência e prioriza resultados concretos acima de vetos ideológicos. É preciso combater o crime em todas as frentes e com todos os mecanismos possíveis.
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