CEO do Instituto Monitor da Democracia e membro do Conselho Superior da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal. Mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos, Espanha
A lição do atentado frustrado na Cidade do México é cristalina: a comunidade internacional não pode expor-se ao risco. A abordagem ocidental não pode se limitar a conter grupos proxy, deve confrontar com vigor a fonte primária da instabilidade e regimes aliados, como em Caracas
Foto: ATTA KENARE / AFP
Jornais em Teerã trazem na primeira página notícias sobre o acordo mediado pela China entre o Irã e a Arábia Saudita para restabelecer os laços, assinado em Pequim no dia anterior, em 11 de março de 2023
Enquanto a atenção mundial se concentrava nos conflitos abertos no Oriente Médio, um plano ousado, gestado nos porões de Teerã, foi desmontado a tempo de evitar uma tragédia de proporções internacionais. Poucos meses atrás, o governo mexicano, em coordenação com agências de outros países, frustrou uma conspiração orquestrada pela Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã, para assassinar Einat Kranz-Neiger, Embaixadora de Israel no México.
O caso, que recebeu escassa atenção da imprensa brasileira, serve como alerta contundente: a máquina de desestabilização iraniana não apenas permanece ativa, mas opera com audácia crescente em territórios distantes, mesmo após os reveses de seus aliados mais visíveis.
O modus operandi envolvia o recrutamento de um cidadão mexicano, seguindo ordens diretas de um agente iraniano. A estratégia de recrutamento local evidencia uma nova tática da Guarda Revolucionária dos aiatolás na América Latina, operando desde a Venezuela. O objetivo principal é minimizar riscos e aumentar as chances de sucesso em solo estrangeiro, demonstrando uma sofisticação funcional que vai além do teatro de guerra convencional.
Este episódio é um exemplo emblemático da doutrina de "guerra híbrida" iraniana. Ao mirar uma alta figura diplomática em um terceiro país como o México, o regime sinaliza que sua campanha de antagonismo não conhece fronteiras. A escolha do alvo - uma mulher que representa Israel diplomaticamente - foi claramente calculada para infligir um golpe estratégico e simbólico, criando uma crise internacional de grandes proporções.
A contenção bem-sucedida deste complô, um triunfo silencioso da cooperação em inteligência, evitou uma catástrofe. No entanto, a tentativa em si é a mensagem mais alarmante. Ela desmente qualquer narrativa de que um Irã sob sanções (e com seus proxies enfraquecidos) estaria contido. Pelo contrário, revela um regime que, quando pressionado, pode tornar-se mais ousado e imprevisível, recorrendo a operações de alto risco em territórios alheios ao seu teatro de operações para projetar poder e vingança.
A lição do atentado frustrado na Cidade do México é cristalina: a comunidade internacional não pode expor-se ao risco. A abordagem ocidental não pode se limitar a conter grupos proxy, deve confrontar com vigor a fonte primária da instabilidade e regimes aliados, como em Caracas.
É imperativo intensificar a pressão diplomática, ampliar a cooperação em inteligência e fechar as brechas nas sanções que permitem a Guarda Revolucionária financiar operações globais. Ignorar a persistência da ameaça iraniana é um erro. O perigo não se dissipou, simplesmente se transmutou e expandiu seu raio de ação.
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