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Cartel de Caracas
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CEO do Instituto Monitor da Democracia e membro do Conselho Superior da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal. Mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos, Espanha

Cartel de Caracas

.Tecnicamente, o ponto de não retorno ocorreu quando o Estado passou a monopolizar o crime. A Venezuela tornou- se o centro logístico global do tráfico
Tipo Opinião
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OS PRESIDENTES dos EUA e da Venezuela (Foto: Federico PARRA / AFP)
Foto: Federico PARRA / AFP OS PRESIDENTES dos EUA e da Venezuela

Na ótica da análise de riscos geopolíticos, a Venezuela de Maduro deixou de ser um Estado falido convencional para se tornar uma organização criminosa transnacional com assento na ONU. O que observamos não é apenas uma crise humanitária, mas a consolidação de um "narco-estado de exceção". Os indicadores descrevem um país em extermínio.

Com um PIB que encolheu 80% e inflação que pulverizou a moeda, o regime utiliza a fome como ferramenta de controle social. Contudo, o que sustenta Maduro n ão é a economia, é o terror. Relatórios da ONU documentam, com precisão forense, o uso sistemático de tortura e execuções extrajudiciais ditadas pelo Palácio de Miraflores. Tecnicamente, o ponto de não retorno ocorreu quando o Estado passou a monopolizar o crime. A Venezuela tornou- se o centro logístico global do tráfico.

O Cartel de los Soles, integrado pela alta cúpula militar, utiliza portos e radares estatais para o
escoamento das drogas. Mais grave é a soberania cedida a grupos terroristas: o país é santuário para
o ELN, dissidentes das FARC e possui laços operacionais documentados com o Hezbollah e o Irã. Caracas é, hoje, um porto seguro para o terrorismo nas Américas.

Diante de um aparato repressivo financiado pelo narcotráfico, a "solução interna" é uma ilusão. A sociedade está desarmada e a oposição, exilada. Uma intervenção externa coordenada e robusta tornou- se a única via pragmática.

A pressão norte-americana via sanções e indiciamentos criminais, provou-se fundamental. Tratar Maduro não como presidente, mas como líder de um cartel, é a única linguagem que o regime teme. Relaxar essa pressão agora seria um erro de cálculo catastrófico. Entretanto, o maior risco na gestão desta crise é a "mudança cosmética".

Remover Maduro sem desmantelar a estrutura do chavismo militar seria inócuo. As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas foram corrompidas até a medula. Generais gerenciam desde a distribuição de alimentos até a PDVSA. Uma transição que ofereça anistia irrestrita aos militares condenaria a Venezuela a ser uma democracia tutelada pelo crime organizado.

A intervenção precisa ser cirúrgica e profunda, extirpando os tentáculos da corrupção que dominam o Estado há três décadas. Para o Brasil, a neutralidade diplomática tornou- se negligência estratégica. O risco de contágio é imediato. A facção venezuelana Tren de Aragua já opera em Roraima e em outros estados, formando alianças com o crime organizado local.

Nossas fronteiras são permeáveis ao fluxo de armas e drogas que o regime vizinho fomenta. Apoiar uma intervenção internacional e a refundação institucional na Venezuela não é ingerência, é uma medida urgente de legítima defesa da soberania brasileira.

Foto do Márcio Coimbra

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