Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.
No Dia dos Namorados, aos 50 anos, constato o quanto aprendo com meus filhos. Matheus, aos vinte e quatro, namora Luiza há quase uma década. Amor paciente, bonito de acompanhar. Estão tecendo juntos o futuro imprevisível. Que seja recompensador, embora imperfeito, como imperfeitos somos e todas as relações são – meu coração de mãe torce. Marcela, aos dezessete, completa um ano de namoro com Saymon. Amor estalando de novo, nas descobertas diárias. Ela me mostrou uma foto colorida de um beijo, não dela, de Katú Mirim, rapper e ativista da causa indígena LGBTQIAP+. Linda foto, concordei.
Essa juventude enxerga a vida pelas lentes do respeito às diferenças. Na idade deles, eu e minha muito amada irmã cantávamos a canção do Lulu Santos, a plenos pulmões adolescentes. Sem a exata noção da importância, celebrávamos o verso, considerando justa toda forma de amor. Exceção feita ao que se reveste de amor para camuflar violências várias, na posse da alma e do corpo alheio. Todo desamor é injusto, disfarçado ou não. Tem a cor do hematoma, da nódoa que permanece depois que a pele se refaz, porque na pancada desce, alcança as camadas mais profundas onde o espírito substitui a carne.
A história que os dois iniciam não tem garantia de final feliz, mas a certeza de um começo épico e a beleza de uma cerimônia indiana multicolor. Amar é correr entre os tigres e nadar com crocodilos. “Amor, que vence os tigres por empresa, tomou logo render-me; ele declara contra meu coração guerra tão rara que não me foi bastante a fortaleza.”
Amar faz temer as penhas mais duras nos versos árcades de Cláudio Manuel da Costa e nos do Lulu, que ouço enquanto faço a minha homenagem. Matheus, Luiza, Marcela, Saymon, Katú Mirim, Krishna e Abhik estão plugados na vida, estão curando as feridas das gerações que os antecederam, dando visibilidade a quem, na foto, ainda é cerceado em seu direito de ser, de beijar e de amar. A eles e a todos os enamorados desejo felicidade, uma que seja crônica, pulsante, vibrante, como o amor e todas as suas cores.
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