Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.
Foto: Instituto Ling
Nina Simone, pianista, cantora, compositora e ativista dos direitos civis nos Estados Unidos
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A leitura de "Esperando Bojangles", de Olivier Bourdeaut, me trouxe uma experiência singular. Um universo se mudou de diante dos meus olhos para dentro dos meus ouvidos. Seja por causa da playlist do filme homônimo ou unicamente pela versão de Nina Simone, evocada nas páginas do romance, não há como escapar do mantra.
A ficção literária, inspirada na vida dos icônicos Zelda e F. Scott Fitzgerald, constitui também o encontro da literatura com a música e com o cinema. Ler o livro é ouvir Nina. Ouvir Nina ou Sammy Davis Jr. ou Bob Dylan ou John Denver ou Robbie Williams em looping das interpretações da mesma composição me conduz às cenas da película em que reconheço a trama lida.
Fui tirada para dançar no meio do salão e nele tenho rodopiado, sendo lançada de uma forma de expressão à outra, e devolvida aos braços da narrativa escrita. Nos fones conectados ao computador, na caixinha de som em concorrência com o barulho do chuveiro, no interior vedado do carro, sigo alternando palavras, frases, imagens e harmonias. Sou flagrada e recebo a censura gentil de minha filha “ainda nessa música que nunca termina, mãe?”. Ainda.
Espero que essa presença lítero-fílmico-musical não se apresse em me deixar. Porque enquanto a mulher de nomes diários, o menino aposentado e o caçador profissional de moscas com arpão estiverem por perto, Nina será ouvida ao fundo e saltará muitas vezes para o centro da minha atenção. Gravada por ela no álbum "Here Comes the Sun", de 1971 – ano do meu nascimento –, a canção hipnótica vem reunindo para mim significados relevantes.
De autoria de Jerry Jeff Walker, "Mr. Bojangles" se refere ao apelido usado por Bill Robinson, um sapateador de grande sucesso, movie star da década de 1930, quando muitos dançarinos de rua negros ganharam idêntica alcunha. As histórias do casal Fitzgerald, de Bill, de Nina e das personagens de Olivier Bourdeaut têm em comum o incomum: o amor na loucura, a arte imortalizando talentos no auge da vigência do preconceito explícito das segregações raciais. Enquanto a voz rara de Nina Simone ecoar a música sem fim, acreditarei que nada é impossível.
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