Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
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Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.
Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
Cada vez mais transportadas para outra época, temos compartilhado essas páginas, portal de libertação do dinossauro linguístico, bicho que minha mãe jurava extinto e ao qual nos afeiçoamos.
Foto: DIVUGAÇÃO
Família Marshall e o elo perdido: lembranças de um vocabulário que ficou no passado
Na série americana da década de 70, com reprise nos anos 80, a família Marshall, após um grande terremoto, se descobre em um ambiente pré-histórico, onde, para sobreviver, precisa lutar contra criaturas consideradas extintas. Aos meus contemporâneos essa é uma sinopse conhecida, assim como as imagens, os sons e os movimentos dos dinossauros por ela evocados.
A TV nos uniu a um mundo perdido. E foi diante do aparelho, mas com a atenção na leitura de Leopold, uma novela, que ouvi minha mãe repetir em voz alta, “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?”. Nas mãos dela, o recente lançamento de Luiz Antonio de Assis Brasil, caríssimo mestre, promovendo o reencontro com uma expressão de sua infância, há muito esquecida. O impecável texto é uma ficção, a partir de sólida pesquisa sobre o pai de Wolfgang Amadeus Mozart, em que o personagem central – e título do livro – conta a angústia maior de sua vida a um casal adormecido na diligência.
O veículo os conduz, durante a viagem noturna, de Viena a Salzburg. Cada vez mais transportadas para outra época, temos compartilhado essas páginas, portal de libertação do dinossauro linguístico, bicho que minha mãe jurava extinto e ao qual nos afeiçoamos. Decidimos domesticá-lo. Agora não se perde oportunidade de inquirir Catilina. Mesmo à minha filha, quando ela se comunica, com a voz da sua geração, no auge dos 18 anos, e espera ser perfeitamente entendida ao nos sugerir (à avó na casa dos 90 e à mãe na dos 50) determinado restaurante, pois “está no hype”, ou comentar “o vídeo flopou”.
Eu me pergunto se tais termos serão dinossauros no futuro, se aguardarão adormecidos dentro de algum dicionário ou preservados em uma história, elo às expressões perdidas, se terão a mesma sorte do resgate por meio de uma bela obra, do tipo que nos afeta com a força de um terremoto.
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