Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.
A casa onde vivem minha irmã, meu cunhado e meus sobrinhos é perfeita para recarregar as baterias, sobretudo se o assunto é imersão na natureza. Trata-se de uma residência cravada nas pedras da serra de Petrópolis.
No lugar, somaram-se à flora nativa as espécies trazidas pela família real luso-brasileira, além das contribuições de outros que aqui estiveram de passagem ou firmaram permanência. Assim foi para os nacionais, como Santos Dumont, Pai da Aviação e inventor, abrigado em uma casa com nome A Encantada, por ele construída com muitas de suas inovações e que hoje é um museu a ele dedicado. Assim foi para os estrangeiros, em temporadas – é o caso do francês, autor de O Pequeno Príncipe, Saint-Exupéry –, e, em definitivo, como Stefan Zweig, escritor austríaco, um dos mais célebres de sua época, escolheu se mudar para a região e nela morrer, desiludido com um mundo em guerra.
Em seus textos foi inspirado "O Grande Hotel Budapeste", filme com atuações impagáveis de Ralph Finnes, Bill Murray, Edward Norton, Jude Law, Adrien Brody e William Dafoe, entre outras estrelas hollywoodianas. Dessa mistura de gente, fauna e flora, resultou o cenário eclético composto por pinheiros, cerejeiras e espatódeas, à sombra de palmeiras imperiais. Às mansões suntuosas se avizinham moradores de encostas, sujeitos aos repetidos desastres climáticos acompanhados com perplexidade pelo noticiário. Na segurança que deveria ser a condição base de todos os lares, o de minha irmã oferece aos hóspedes uma perfeita harmonia com o entorno de montanhas, névoa, nuvens, os variados tons da vegetação, no santuário da Mata Atlântica, e os bichos. Esses merecem à parte um capítulo.
Quem chega à confortável estrutura de madeira, alvenaria e vidro deve estar preparado para compartilhar o aconchego com seres de patas, de pelos, de penas, de escamas. Não, ela não mora em um zoológico, mas, fazer o quê?, muitos desses animais elegeram o habitat. São dois cachorros: a vira-lata Gaya e o golden Léo, e três gatas, recolhidas da rua; Mia e Stella, criadas da porta para dentro, e Helena, da porta para fora – a paz depende da habilidade para não juntar aqueles que não querem ser reunidos. No espelho d’água, doze carpas dão um toque oriental ao jardim.
Há os visitantes frequentes, tatus, tucanos, pica-paus-amarelos e vermelhos, lagartos, cobras, corujas e porcos-espinhos. Há visitantes muito frequentes: gambás, jacus, micos, sabiás, beija-flores, bem-te-vis, morcegos e aranhas. E há as maritacas, que vêm duas vezes ao dia. É uma festa para nossos filhos – tiveram contato mais direto com cães, gatos, no máximo, um coelho. Nem tanto para o marido, arredio principalmente aos felinos.
Para mim, tem sido mágico, sensação traduzida pelas cores e sons do bando de passarinhos nos galhos da cerejeira em flor. Ao assisti-los, agora de manhã, fui eu A Encantada. Protegidos do rigor do frio no calor humano de estar em família, nem o Grande Hotel Budapeste teria nos recebido melhor.
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