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O pessoal do Ceará
Foto de Marília Lovatel
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Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.

O pessoal do Ceará

Como a música proporciona uma memória democrática, no tempo e no espaço, e por que ouvir o pessoal do Ceará é uma imersão que faz tão bem
Pessoal do Ceará: Rodger, Teti e Rdnardo (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Pessoal do Ceará: Rodger, Teti e Rdnardo

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As músicas e as fotos importam em uma viagem. As fotos são registros que precisamos buscar onde foram guardados, armazenados em álbuns, hoje em dia – quase sempre – virtuais. Já a memória auditiva pode ser despertada em qualquer local e tempo por nossa vontade ou obra do acaso.

Ao aprontar a bagagem, separar o que vai vestir, calçar, os itens indispensáveis à necessaire, vale a pena escolher o que ouvir durante os passeios. Como estar em Majorlândia é uma imersão cearense, escutando o pessoal do Ceará, compus a trilha desses dias.

Faz um bem tão grande ouvir o Ednardo, enquanto ele engoma a calça e nos conta uma história curtinha. Todo o país se encanta com a singeleza da canção, mas o verbo engomar nos religa em uma prece coletiva. Não há nada melhor que deitar os olhos cansados aonde a vista alcançar, nas dunas brancas, sentir o sol e a areia. Ou almoçar em casa. Na hora do almoço, no centro da sala, diante da mesa, o pai na cabeceira diz é hora do almoço, a mãe nos chama, é hora do almoço, a avó reclama, é hora do almoço, acordes e versos servem o alimento que à alma contenta.

Nós comemos e brindamos, somos parte da mesma família nesse lugar onde se preservam galos, noites e quintais. Visitamos uma morada no sentimento, de um jeito que dispensa explicações. Seja qual for a maneira, o momento, o endereço. Se você vier me perguntar por onde andei, de olhos abertos lhe direi, estive em muitos recantos na companhia da minha gente, apreciando o pertencimento a uma identidade, realidade nossa. Alucinação? Meu delírio é a experiência com coisas reais.

Quando viajamos, voltamos para dentro de nós. Por isso, mantenho a roupa com cheiro de mala. Amelinha, Belchior, Ednardo, Fagner, Fausto Nilo – também representando aqui os que injusta e imperdoavelmente escaparam da citação nesta crônica – ainda me ressoam nos ouvidos. Porém, toda viagem tem o seu começo e o seu fim. Então, deixemos de coisa, cuidemos da vida, pois se não chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta moço sem ter visto a vida.

Foto do Marília Lovatel

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