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Versão particular da volta dos que não foram
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Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.

Versão particular da volta dos que não foram

E talvez a expressão "rata de academia" me sirva perfeitamente, pois é como me sinto em tal lugar: um bichinho miúdo e assustado
Tipo Crônica
Versão particular da volta dos que não foram (Foto: Pexels/Brett Jordan)
Foto: Pexels/Brett Jordan Versão particular da volta dos que não foram

Sou uma despreparada física. Ao longo da vida, quase não frequentei aulas de ginástica e praticamente saí ilesa das ondas sucessivas que marcaram a adolescência, juventude e maturidade desta cronista, desde as coreografias da aeróbica das décadas de 1990 e dos anos 2000 até os atuais treinos de cardio.

E talvez a expressão “rata de academia” me sirva perfeitamente, pois é como me sinto em tal lugar: um bichinho miúdo e assustado, esgueirando-se para passar despercebido, esconder-se no primeiro buraco de parede e fugir dos olhares de estranhamento de quem testemunha a risível falta de intimidade com as rotinas e com os aparelhos. Os da sala de pilates, então, são, no olhar de uma leiga, tão intimidadores quanto instrumentos de tortura.

Entretanto, eis-me aqui, consciente da necessidade da prática imprescindível à saúde. Conto com a cumplicidade, a companhia solidária de minha filha, bailarina assídua no jazz e no sapateado, e que provavelmente se candidatou a ir comigo para garantir que eu não me torne a sua mãe entrevada em futuro próximo.

Antes da estreia, a análise das possibilidades, onde fazer, de preferência, perto de casa, e, finalmente, a matrícula. Por último, a compra dos “lookinhos” de malhar, despojados, que não incluem as lycras brilhantes e os meiões-tornozeleiras, acessórios frequentes diante dos espelhos de priscas eras, quando o culto ao corpo se espalhou pelo país.

40 anos depois dessa febre contagiar a nação, vivo uma versão particular da volta dos que não foram. E, no primeiro dia do pilates, a surpresa. Após 40 minutos, revejo conceitos não mais consolidados. Rendo-me.

Foto do Marília Lovatel

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