Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.
Foto: Acervo pessoal
Marília Lovatel, Lilían Martins e Dércio Braúna
Participei do V Festival Letras & Músicas, realizado na Praça da Igreja Matriz de Pacatuba. Dividi mesa com o historiador e poeta Dércio Braúna e com a jornalista Lílian Martins — brilhante mediadora.
Nosso diálogo, intitulado “Memória, ficção e identidade: escrever para [re]criar a vida”, abriu a primeira noite, 31/10, e, na chegada à cidade, o encantamento: paredões verdes da Aratanha tendo por moldura o entardecer, ao som instrumental da Banda de Música Walter da Costa Carmo.
A luz da decoração natalina foi acendendo suas frutinhas temporãs, elétricas por toda a parte. Nesse clima, deu-se a conversa para lá de boa, no palco Gilvan Gomes, a convite do curador do evento, o amigo e poeta Renato Pessoa.
Pacatuba tem filhos ilustres, como os imortais Eduardo Campos e seu primo, Artur Eduardo Benevides. É a terra dos pais de Juvenal Galeno, Barões do Café.
As ruínas da Casa da Baronesa despertam a imaginação sobre um tempo em que ali esteve a Comissão Científica Exploradora de D. Pedro II, a Comissão das Borboletas. Lílian nos fala tais curiosidades no trajeto a pé da pousada, onde fomos recebidos, até a festiva praça.
Pouco antes, ela apontara a fachada do Sobrado da Abolição — impossível não se entusiasmar com a riqueza do patrimônio. De repente, à lembrança de Lílian veio Emília Freitas. Abolicionista como Juvenal Galeno, a escritora foi ativa participante da Sociedade das Cearenses Libertadoras e colaborou para jornais literários do Ceará, como o Libertador.
Foto: Acervo pessoal
V Festival Letras ENTITY_amp_ENTITYMúsicas, realizado na Praça da Igreja Matriz de Pacatuba
Sua obra de maior destaque, ARainha do Ignoto (1899), é considerada inaugural do gênero fantástico no Brasil. Porém, silenciada por uma história que relega às mulheres os papéis secundários, muitos não conhecem o seu pioneirismo.
Na narrativa, uma sociedade secreta de mulheres vive na Ilha do Nevoeiro, sob as ordens de sua rainha, súditas fiéis por ela recrutadas, libertas da violência e da opressão patriarcal — Emília vale esse aparte.
Depois, o show “Príncipe dos Poetas Cearenses”, um tributo de Lauro, deu sequência à programação e, ao ouvir o recital empolgando a plateia, pensei nos versos arturianos: “Andei, andei, andei / andei, andei, andei tanto / e hoje me sento neste banco / sem saber se já cheguei!”.
Incentivador de meus passos iniciantes na literatura e meu padrinho de formatura em Letras, na Uece, Artur Eduardo Benevides, em tom bem-humorado, à minha saudação respondia: “Príncipe dos Poetas não tarda a Príncipe dos Esquecidos”. Felizmente ele estava errado.
Na manhã seguinte, reverberavam os ecos mágicos do dia anterior, quando, logo nas primeiras páginas ignotas, li o nome — incomum — de meu pai:
“Uma noite destas, viu, ela mesma, descer da serra e passar cantando pela estrada uma moça bonita vestida de branco. [...]
— Isto é sério, Valentim?
— Ora se é, ela trazia também um cachorro preto, que dava ondas à claridade da lua! Minha avó quase morre de medo, chamou meu pai, e ele também viu. Conta a quem quiser ouvir, e todos sabem que meu pai não é homem de mentiras”.
Em Pacatuba, Emília e Artur foram lembrados, a rainha e o príncipe presentes. Doces mistérios.
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