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A "melhor via"
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É mestre em Direito pela UFC e doutorado em Direito pela Johann Wolfgang Goethe-Universität Frankfurt am Main. Atualmente é professor da Universidade de Fortaleza e Procurador do Município de Fortaleza

A "melhor via"

Tipo Opinião
Martônio Mont'Alverne Professor doutor da Universidade de Fortaleza - Unifor (Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal Martônio Mont'Alverne Professor doutor da Universidade de Fortaleza - Unifor

Em 1921 Freud produziu um dos mais interessantes termos a contribuir para a teoria política e para a sociedade do pretensamente consumo cultural de hoje: o narcisismo das pequenas diferenças. É o comportamento de grupos sociais, fechados em seus espaços, mas que ressaltam a superficialidade de suas diferenças com orgulho, apoiados na sua hipersensibilidade.

Na verdade, pouco ou nada os difere do que realmente são, mas o narcisismo destas insignificantes diferenças produz o sentimento de autonomia; ainda que falsa autonomia.

Como a disputa eleitoral de 2022 já está nas ruas, um grupo de candidatos agora recusa a definição de terceira via, e exige ser qualificado de melhor via". Em sua quase totalidade, foram apoiadores de Bolsonaro, à procura de uma inexistente diferença com o presidente, na qual buscam a expiação dos seus pecados de ação ou de omissão.

Todos sabiam quem era Bolsonaro, e não seria necessário esoterismo algum para enxergar aonde chegaríamos. Criticam a polarização entre Lula e Bolsonaro.

Esta retórica se esvazia quando se observa polarização em democracias mais antigas que a nossa: Alemanha, EUA, França, Reino Unido etc. Lá nem haveria polarização, e se há, é coisa de rico: é permitida. Eles sabem o que fazem; nós não sabemos sair sozinhos de nossos dilemas.

Quem quer se constituir em "melhor via" deveria olhar sua própria história: se aceitou enfrentar mais de 3 décadas de lutas internas partidárias, e teve a virtù de remover as pedras que lhe foram postas pelo caminho, se procurou constituir forte base social... esses aborrecimentos fora dos conchavos de gabinetes econômicos e políticos de Brasília ou São Paulo. Compungidos em lamentos, a "melhor via" não viu qualquer diferença na escolha de 2018.

Nisso foi ainda acudida pela maior parte da grande imprensa que lhe receitou o tranquilizante para seu narcisismo. Insiste em querer se afastar da prova de sua cumplicidade, exatamente à cata da diferença que jamais existiu. Orgulhosa de sua atitude salvadora do mundo, é mesmo um laboratório vivo para cientistas políticos... e sobretudo para psicanalistas.

 

Foto do Martônio Mont'Alverne

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