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Martônio Montalverne: A viagem para a China
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É mestre em Direito pela UFC e doutorado em Direito pela Johann Wolfgang Goethe-Universität Frankfurt am Main. Atualmente é professor da Universidade de Fortaleza e Procurador do Município de Fortaleza

Martônio Montalverne: A viagem para a China

O Brasil deve estar atento a estes movimentos e não deve perder oportunidades de se inserir numa nova realidade mundial, onde disponha de mais espaço para a defesa de seus interesses

O presidente Lula desmarcou uma histórica viagem à China em razão de uma leve pneumonia. Com mais de 240 integrantes, a comitiva incluía representantes políticos e empresários de diferentes setores econômicos. A República Popular da China preparava uma recepção especial para o presidente brasileiro, o que deverá ser mantido para a nova data da visita, que poderá ser no mês de abril.

Com a mudança de data da visita, Lula silenciou um possível barulho caseiro: Bolsonaro anunciou que retornaria ao Brasil exatamente no dia 30 de março, para celebrar o golpe militar de 1964, como sempre fez, estando ou não na presidência. Com Lula fora do Brasil, o ambiente para Bolsonaro recuperar o golpismo de janeiro passado e tentar envenenar a democracia restaria mais favorável. O cancelamento da viagem à China fez com que Bolsonaro revisse seus planos e anunciasse suposta viagem à Europa.

Além de ser o maior destino das exportações brasileiras, a China integra com o Brasil o grupo dos Brics, que elegeu Dilma Rousseff como presidenta do banco do grupo, o Novo Banco de Desenvolvimento. A posse da nova presidenta ocorreria durante a viagem desmarcada. Como se observa, cada vez mais o Brasil procura agir no Sul Global, e assim recuperar seu protagonismo, suspenso desde o golpe de 2016. Porém, há mais o que se dizer desta parceria.

China e Rússia são também membros do Brics. Na semana passada se deu a visita de Xi Jinping a Vladmir Putin. Moscou e Beijing estão certas de que haverá uma mudança mundial. Não se pode falar em aliança sólida, já que estes dois países não são conhecidos pelas sólidas alianças entre si. As posições da China sobre a guerra na Ucrânia levam a crer, porém, que uma derrota da Rússia fortalecerá os EUA, com quem a China não tem mais ilusões de seguras relações.

A aposta será, então, na nova ordem mundial, onde China e Rússia possam exercer sua soberania econômica, com a defesa de suas empresas e tecnologias. A China é muito superior economicamente à Rússia; esta possui superioridade militar, além de grande influência na Eurásia, ainda não desfrutadas pela China.

O Brasil deve estar atento a estes movimentos e não deve perder oportunidades de se inserir numa nova realidade mundial, onde disponha de mais espaço para a defesa de seus interesses. O fortalecimento do grupo Brics, e a posição brasileira de participar do processo de construção da paz possível no conflito europeu devem abrir portas para outras possibilidades. Por isso que a viagem do presidente Lula à China não deve tardar. Lula sabe o quê pode render esta parceria para o desenvolvimento econômico nacional e a reposição do Brasil com nação autônoma. Nenhum país do mundo gozou de respeitabilidade internacional adotando condutas de alinhamentos automáticos.

Exemplo que vem de outro um membro do Brics, a Índia. Se a leve pneumonia do presidente brasileiro serviu para mantê-lo no País numa semana importante, seu futuro deslocamento para China, o mais breve possível, chega a ser quase uma histórica necessidade para seu terceiro mandato.

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