Jornalista, repórter do O POVO+ e professor de Linguagens, graduado em Letras/Inglês pelo Centro Universitário Unicesumar. Homem pansexual, foi ativista organizado do Movimento LGBTQIA+ de 2014 a 2021. Em 2020, foi um dos idealizadores do festival artístico Tomada Drag, que mais tarde se tornaria o Coletivo Tomada.
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Pensar em mitigar a vulnerabilidade desses idosos é uma preocupação recente do movimento LGBT
No último sábado, fui a uma festa com dois amigos. Era uma festa de Halloween voltada ao público “bear”, termo usado na comunidade queer para descrever homens gays ou bissexuais com características físicas como corpo corpulento ou musculoso, peludos e barbudos.
Eu mesmo só tenho a barba, então estava ali quase que de penetra. E já fazia algum tempo que não frequentava um ambiente exclusivamente masculino, então tive alguns estranhamentos.
Mas devo dizer que, apesar dos problemas, foi interessante ver corpos constantemente postos à margem sendo celebrados, desejados e desfrutando da liberdade que só uma pista escura e barulhenta pode proporcionar.
Ali, estavam homens altos e baixos, negros e brancos, solteiros, casais, trisais, jovens e também velhos. Não vou tentar ser antisséptico e usar o termo “maduros”, ou algo que o valha. Eram, sim, gays velhos, no sentido mais brilhante da palavra.
Perspectivas
No dia seguinte, o Enem traria a velhice ao centro da discussão em todo o País com o tema da redação. Quais as perspectivas do envelhecimento na sociedade brasileira? Para a comunidade LGBTQIAPN+, envelhecer é, antes de tudo, um privilégio.
Envelhecer fora do armário, com direitos assegurados e sem o pânico da epidemia de HIV é uma realidade recente. Por isso, pensar em mitigar a vulnerabilidade desses idosos é uma preocupação recente do movimento LGBT.
Carlos Henning, professor de Antropologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), afirma que quando se trata de um homossexual, ao envelhecimento biológico acrescenta-se uma complexa teia de problemas discriminatórios.
“A maioria foi expulsa de casa e perdeu essa rede de suporte, que é a família. Além disso, enfrenta maiores dificuldades no serviço público de saúde.”
Para Henning, o fato de muitas casas de repouso serem administradas por instituições religiosas representa uma barreira a mais para pessoas queer que precisam do serviço.
“É comum transsexuais terem de desfazer o processo de transição, cortar o cabelo, tirar as próteses e mudar de roupa para serem aceitas ali.”
Etarismo persiste
Além disso, há o problema do etarismo dentro da própria comunidade. Na festa do sábado, apesar da celebração à diversidade, não era incomum ver olhares tortos aos mais velhos. E quanto mais jovens, parece que mais insensíveis. Maricona é o termo menos ofensivo que se usa.
E isso gera um impacto na saúde física e mental. A National Poll on Healthy Aging, conduzida pela Universidade do Michigan, identificou que mais de 80% dos respondentes com mais de 50 anos, enfrentou algum tipo de preconceito etário no dia-a-dia.
A forma mais comum eram piadas sobre envelhecimento e pessoas idosas, juntamente com mensagens de que os adultos mais velhos eram pouco atraentes. Quase metade disse ter sofrido preconceito etário em suas interações interpessoais, inclusive em relacionamentos.
Essa discriminação constante cobra seu preço físico. Idosos que relataram três ou mais formas de preconceito etário apresentaram menor probabilidade de classificar sua saúde física geral como “excelente” ou “muito boa”, em comparação com aqueles que relataram menos formas de preconceito.
Eles também apresentaram maior probabilidade de ter uma condição crônica de saúde, como diabetes ou doença cardíaca, e de relatar sintomas de depressão.
Curiosamente, o mesmo estudo da Universidade de Michigan descobriu que a maioria dos idosos entrevistados tinha uma “atitude positiva”. Nove em cada dez se sentiam mais confortáveis consigo mesmos e 80% tinham um forte senso de propósito.
O envelhecimento precisa ser normalizado e mais acolhido nos espaços queer. O aprendizado que pode surgir da convivência entre gerações só tem a acrescentar nas vidas e nas lutas coletivas de quem ainda sonha com uma sociedade mais justa.
No(i)tinhas
Esta semana está bem servida de eventos na Terra do Sol, a quem interessar possa.
Hoje, quinta-feira,13, tem um sonzinho mais íntimo, no Moto Libre. Juruviara toca com o JC do Acordeon no Forró do Povo, a partir das 21h.
Amanhã, sexta-feira, dia 14, é dia de limpar o óculos escuro e colar no Fuzuê Club para curtir o Calúnia Dance Club, com o som frenético do Calú e do Linhatenia, em uma parceria que promete. RyanBNog e Monstrava completam esse lineup 100% LGBTQIAPN+, valorizando o protagonismo que a comunidade tem na cena clubber.
Monstrava, que, aliás, estará presente no The Lights também na sexta-feira, 14. É a Noite Mais Triste do Mundo, que traz aquele som pra chorar dançando. No lineup também estão Bugzinha, Peaug e Ordinara.
No sábado, 15, a bola da vez é o Festival Zepelim, que resgata as saudosas Tendas Eletrônicas com o ZEP CLUB. Festa Lá em Cima e Bateu, pode comemorar! comandam o som, com Julie Gadelha e Fixter como convidados mais que especiais.
Para quem, como eu, não conseguiu comprar o ingresso, tem Oh My Gaga no The Lights, com ingresso na faixa pelo Sympla, entrando até 23h. O Trio Fever promete 80% de mother monster e 20% das outras divas do pop. Espero que toque a nova da Robyn também.
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