
Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018
Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018
Eu juro para vocês que minha intenção, ao preparar essa crônica, era pautar um assunto que, na minha óptica, seria o de maior importância das últimas duas semanas: a escolha do novo papa, que já demonstrou que se preocupa com os pobres, que quer combater a desigualdade social e ainda é adepto de uma boa cervejinha.
Mas, que me perdoe Leão XIV! Pelo menos no Brasil, a pauta caiu. A escolha do conclave já foi superada pela mais nova polêmica nacional: estão tratando as bonecas hiper-realistas bebê reborn como gente. E isso num país em que mais de 6 milhões de crianças reais padecem de insegurança alimentar (também conhecida como fome).
Obviamente que aqui não estamos tratando das pessoas que colecionam ou adquirem os mimos para rememorar a tenra infância. Isso, sim, é coisa de gente normal. Mas requerer guarda de bebê reborn na Justiça, pedir para o padre batizá-las com água benta e sinal da cruz na testa ou solicitar licença-maternidade para faltar ao trabalho e cuidar do brinquedo, aí já é alucinação.
Ou não! Em todo o país, nas últimas semanas, foram notificados vários casos até de pessoas levando bebês reborn para se tratar em UPA's. E tem gente pagando caro para lojas que oferecem o serviço de parto das bonecas, com direito a certidão de nascimento e carteira de vacinação.
O fenômeno também chegou à Câmara Federal. O deputado Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP) quer impedir a realização de "atendimentos" em instituições de saúde públicas e privadas. Já o projeto do deputado Zacharias Calil (União Brasil-GO) cria uma multa para quem tentar usar as bonecas para ter preferência em filas de atendimento de hospitais, guichês, descontos em mensalidades ou até usar assentos preferenciais em ônibus. E até a deputada Rosângela Moro (União Brasil-SP), mulher do Sérgio Moro, defende que o SUS banque a assistência psicológica para os "pais e mães" com dependência psicológica de bebê reborn.
É bem verdade que nunca se deve olhar para o futuro com os olhos do passado, mas temos sempre a tendência de comparar o tempo de agora com os nostálgicos de outrora. Não sei se é porque pertenço a uma geração onde as bonecas de minhas irmãs - que no interior se chamavam bebés - não se pareciam tanto com gente. Ou se naquele mundo a mentira é que não se parecia tanto com a verdade. O certo é que usávamos a imaginação para algo mais sadio. E nossas carências estruturais eram tantas que não havia tempo para as afetivas.
Mas confesso que éramos bem mais felizes.
E bem menos estranhos.
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