
Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018
Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018
Era uma vez uma casa grande. De portas abertas, janelas largas, bandeira hasteada na fachada e vozes que ecoavam dizendo que ali morava a democracia. Foi erguida com suor, luta e sangue. Tijolo por tijolo, assentados por gerações que sonharam com liberdade, justiça e igualdade. Mas, aos poucos e quase sempre de forma silenciosa os pilares começaram a trincar.
Não houve um estrondo, nem um terremoto. Só o tempo e o desvio. Uma regra dobrada só dessa vez. Uma exceção aceita por uma boa causa. Um privilégio mantido porque sempre foi assim. E quando alguém ousava apontar as rachaduras no concreto da República, a resposta era sempre a mesma: Ah, mas é o Brasil, né?
A verdade é que fomos normalizando o desvio. Como quem vê a parede entortar e, ao invés de reforçar a estrutura, pinta por cima para disfarçar. Como quem sente o piso afundar e joga um tapete novo por cima. E assim seguimos maquiando os sintomas, ignorando as causas.
Mentiras políticas ganharam o status de narrativas estratégicas. Corrupções viraram falhas de comunicação. Grossura passou a ser chamada de autenticidade. E incompetência virou sinônimo de gestão fora da caixa. Aos poucos, o povo esse mesmo que um dia marchou pela redemocratização foi se acostumando. E o que era inaceitável passou a ser cotidiano.
O mais perigoso é que começamos a defender justamente aquilo que antes denunciávamos. Quando o anormal se repete, ele deixa de causar espanto e passa a ser normal. Um país que defende a impunidade de seus ídolos, que elege quem deveria estar se explicando, e que aplaude quem ataca as instituições, caminha com os olhos vendados rumo ao abismo.
Nossas instituições, que deveriam ser colunas mestras dessa casa chamada Brasil, também deram sinais de fadiga. O Judiciário, confundido com palanque. O Legislativo, convertido em balcão. O Executivo, muitas vezes mais preocupado em apagar incêndios do que em construir caminhos. E no meio disso, o povo ajustando o sofá, pendurando quadros tortos para disfarçar a parede torta.
Mas não deveríamos nos acostumar. Não deveríamos jamais achar que é assim mesmo. Porque cada desvio aceito cria um novo padrão. E quando o padrão é torcido, a ética vira miragem, a justiça se torna seletiva e o mérito vira motivo de desconfiança.
O Brasil corre o risco de se tornar uma casa bela só na pintura. Com discursos de progresso, mas alicerces corroídos pela indiferença. E casa que se mantém em pé apenas na aparência, um dia cai e quando cair, cairá sobre todos.
Se quisermos reconstruir, será preciso coragem. Para encarar as rachaduras. Para refazer os alicerces. Para lembrar que democracia não se pinta se sustenta.
Porque quando a estrutura enverga e ninguém reage, não é a casa que desaba.
É a esperança que sai pela porta dos fundos.
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