
Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018
Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018
Tem dias em que o Brasil parece um grande teatro. O cenário é bonito, tem luz na medida, o palco é amplo e o público está cheio de esperança. Mas lá dentro, entre cortinas e discursos ensaiados, o que se desenrola é uma farsa. E como em toda peça, o figurino diz muito sobre o personagem.
A tal PEC da Blindagem, que agora querem empurrar goela abaixo, é exatamente isso: um figurino sob medida para proteger quem devia estar nu diante da lei. É um manto de impunidade costurado nos bastidores do Congresso, sob o silêncio ensurdecedor de muitos — e a zombaria descarada de alguns.
O rapper Gabriel, O Pensador, já declamava isso em 2001, quando sua música “Pega Ladrão” foi ridicularizada na Câmara dos Deputados. Ele foi lá falar sobre educação e ouviu que rap não era música. Pois bem, declamou versos que narravam mansões compradas com verba desviada da saúde, mesadas de milhões pagas com o dinheiro da merenda, aviões privados bancados com a verba da construção de prisões.
Eles riram. E agora, mais de 20 anos depois, seguem rindo da nossa cara.
Criam leis para proteger os seus, como se o mandato fosse escudo, não serviço. Como se tivessem imunidade moral. Querem que crimes cometidos por parlamentares sejam julgados… por eles mesmos. Imagine o lobo presidindo o julgamento do lobo. É o teatro da democracia com o script da hipocrisia.
E nós? Nós, os espectadores do cotidiano, aplaudimos ou protestamos? Assistimos paralisados ou levantamos da cadeira?
A grande tragédia é que há brasileiros honestos, trabalhadores, que se tornaram figurantes da própria história. Que vão às urnas, mas esquecem em quem votaram. Que reclamam da corrupção, mas se calam diante da blindagem institucional.
A peça não termina porque o público não reage.
Mas há uma saída — e ela começa pela tomada de consciência. Pelo voto informado. Pela cobrança ativa. Pelo cidadão que troca o papel de plateia pelo de protagonista. Porque, no fundo, a democracia só é espetáculo de verdade quando o povo deixa de ser figurante para ser autor do enredo.
O sucesso de um país não está em ter instituições, mas em ter instituições justas. Não está em parecer democrático, mas em funcionar com justiça para todos — inclusive para os que vestem terno e têm foro privilegiado.
É hora de rasgar o figurino da impunidade.
Chega de teatro. Queremos justiça.
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