Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018
Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018
Com o Ano Novo se aproximando, muita gente acredita que a vida muda quando algo chega. Um cargo, um título, um tempo novo no calendário. Mas a experiência ensina outra coisa: a vida muda, de verdade, quando algo parte. O novo não nasce do excesso; nasce do espaço. A existência até teme o vazio, mas só o preenche quando encontra portas abertas. É como um vaso esquecido num canto da casa: antes das flores, é preciso retirar as folhas secas.
Somos, quase sem perceber, grandes acumuladores. Guardamos lembranças que já não aquecem, medos que já não protegem, objetos que perderam a função e sentimentos que já não nos cabem. Empilhamos compromissos, expectativas e versões antigas de nós mesmos. E, como gavetas que evitamos abrir, vamos empurrando tudo para dentro, até que a desordem externa se transforma na inquietação silenciosa que carregamos por dentro.
A virada acontece quando compreendemos a lei do vácuo: nada floresce onde não há espaço para germinar. Terrenos carregados não acolhem sementes. Relações superlotadas não respiram. Instituições engessadas não se renovam. A vida, assim como as casas antigas, precisa de janelas abertas para voltar a cheirar a lar — e de vento suficiente para contar novas histórias.
Aprendi isso cedo, observando a simplicidade das coisas. Ensinei às minhas filhas que, ao ganhar um brinquedo novo, outro deveria ser doado a quem precisasse mais, uma cultura viva na Escola Vila onde estudaram. Não era sobre desapego material, mas sobre entender que a abundância mora no movimento, não no acúmulo. Quem segura tudo, perde o essencial. Quem deixa fluir, cria futuro.
Esse aprendizado ganha um significado ainda mais profundo agora, quando assumimos coletivamente, a presidência do CDL Fortaleza. Liderar também é esvaziar: abrir espaço para o novo, ouvir vozes diferentes, acolher ideias frescas sem desprezar a experiência. A nova diretoria traz renovação, mas também a sabedoria de um Conselho Consultivo formado por empresários que já atravessaram muitos ciclos. É o encontro entre vento novo e raízes profundas.
A revelação é clara: aquilo que já não serve mais para um tempo pode ser exatamente o que prepara o próximo. Há objetos que encontram sentido quando mudam de mãos. Há ideias que só florescem quando deixamos antigas certezas descansarem. E há fases inteiras — pessoais ou institucionais — que só começam quando temos coragem de aprender com as experiências e com os que nos antecederam com gratidão.
Estamos sempre esperando que o Ano Novo faça mágica. Mas a mágica, quase sempre, é nossa. Um armário arejado muda o clima da casa. Uma gaveta organizada muda o tom da alma. Uma instituição aberta ao diálogo muda a cidade. Pequenos esvaziamentos produzem grandes recomeços.
No fim das contas, organizar o que temos — na vida, no trabalho, nas responsabilidades — é a forma mais silenciosa e poderosa de dizer ao futuro: estamos prontos. E quando o vento encontra espaço, ele entra. E transforma. Peço a Deus sabedoria para nos guiar nesta jornada coletiva.
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