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Soltei fogos quando o Brasil perdeu para a Argentina
Foto de Meu Dia de Copa
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Crônicas de jornalistas do O POVO sobre Copa do Mundo. Textos às terças, quintas e aos sábados.

Soltei fogos quando o Brasil perdeu para a Argentina

Memórias de uma criança em tempo de Copa do Mundo em 1990
Tipo Crônica
Taça da Copa do Mundo de 2022, disputada no Japão e na Coreia do Sul (Foto: Rener Pinheiro / CBF)
Foto: Rener Pinheiro / CBF Taça da Copa do Mundo de 2022, disputada no Japão e na Coreia do Sul

Nunca se é tão feliz como quando criança em Copa do Mundo ou no Natal. Não sei quantas crianças estarão lendo este texto — poucas, imagino, até porque é a primeira vez em que se tem uma Copa perto do Natal. A concorrência não é fácil. Então, se você não é criança, mas convive com uma, permita e a ajude a aproveitar essa época. Copas só ocorrem a cada quatro anos. Quando chega a seguinte, às vezes a infância já ficou para trás.

Na Copa de 1986, eu tinha 4 anos. Tenho flashes de memória ao brincar no enorme balançador que havia na área (provavelmente era até pequeno) enquanto o pessoal estava na sala diante da TV.

A minha Copa mais feliz foi a de 1994. Fomos campeões. Romário, Bebeto, Taffarel, gol do Branco. Pênalti do Baggio. Galvão: "Cabou, cabou! É tetra! É tetra". Nunca haverá outra narração como aquela. Eu tinha 12 anos, já na fronteira da adolescência. Assistia às mesas redondas, lia análises, debatia sobre Raí, Zinho e o esquema do Parreira.

A minha Copa de criança foi em 1990.

Os jogos eram na casa das minhas tias, vizinha à minha. Na entrada havia uma área enorme a percorrer — que hoje sei ser até um pouco apertada. Havia os bolões de quem faria o primeiro gol. Sorteava-se o nome dos jogadores entre os participantes. Contra a Costa Rica, tirei Muller, e ganhei. No jogo seguinte, Tia Tetê tirou o Muller. Argumentei que eu tinha sido vitorioso com ele no jogo anterior e perguntei se ela não aceitava trocar. Ela não entendia muito de futebol e eu tinha 8 anos, não sabia que um atacante tinha mais chances de fazer o gol do que... não lembro quem eu tirei. Não tive intenção de trapacear a tia, mas, com o dinheiro dos dois bolões, comprei um boneco do Comandos em Ação.

Contra a Argentina, quem tirou Muller não foi eu nem ninguém que quisesse trocar comigo. O Tio Zé chegou com um rojão e me deu para soltar na hora do gol do Brasil. Eu não me continha de empolgação. A seleção fazia a melhor partida, quase marcou várias vezes. Mas, Maradona arrancou, lançou Caniggia e a Copa acabou para o time de Lazaroni.

Eu estava ali com o rojão. O que fazer com aquilo? No fundo, era mais importante que a partida. Fui para o meio da rua que ainda era de calçamento e, apesar da reprovação dos meus amigos, soltei fogos depois que o Brasil perdeu para a Argentina.

Por isso, se a seleção sair derrotada (toc, toc, toc) e você ouvir fogos ao longe, saiba que não necessariamente é alguém do contra, que não torce pelo Brasil — o que, diga-se, é um direito. Patriotismo não é torcer no futebol ou acampar diante de quartel a pedir golpe. De volta aos rojões, os estampidos podem ser a brincadeira que uma criança não quis abandonar por causa de uma derrota.

Hoje sei que soltar rojão, mesmo sob supervisão, como foi o caso, não é a coisa mais segura do mundo aos 8 anos. E, em qualquer idade, é melhor evitar. Nada compensa o trauma para os animais.

Foto do Meu Dia de Copa

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