Miguel Pontes é Streamer de Games na Twitch. Host, editor e produtor do Mais Um Podcast de Games e da Comunidade Nerd do O POVO. Pesquisador da Central de Jornalismo de Dados - Datadoc e Acervo O POVO. Neste espaço, vai falar sobre jogos, noticiar eventos, analisar games e opinar sobre a indústria de jogos
A Pizza Delivery: quando uma pizza fria aquece o coração
Criado por Eric Osuna e lançado pela Dolores Entertainment, em 07/11, o jogo te coloca no papel de B, uma entregadora de pizza encarando sua última entrega enquanto conhece pessoas dispostas a compartilhar sentimentos enquanto comem uma fatia de pizza.
Foto: Dolores Entertainment | Divulgação
Criado por Eric Osuna, A Pizza Delivery entrega muito mais que uma pizza quentinha
Tem jogos que não começam quando você aperta “Start”. Começam quando você respira fundo. A Pizza Delivery é exatamente assim: um jogo que chega devagar, com a cara de quem não vai mudar muito seu dia — e termina abrindo uma portinha na sua cabeça que você nem sabia que estava trancada.
Criado por Eric Osuna e lançado em 7/11, pela Dolores Entertainment, o jogo te coloca no papel de B, uma entregadora de pizza, em sua estilosa scooter, seguindo a rota de sua última entrega em meio a paisagens que variam entre o urbano sem graça e o paradisiaco contemplativo. Parece simples, e é!
Nenhuma promessa grandiosa, nenhum “salve o mundo”, nenhuma trama explosiva. Mas, o jeito como essa premissa simples se desenrola, é o que faz A Pizza Delivery ser um jogo especial.
Desde o primeiro minuto, o jogo te faz sentir entrando em uma daquelas noites estranhas que a gente vive de vez em quando, onde tudo está silencioso demais e qualquer luz acesa parece esconder alguma coisa. A scooter de B desliza por um espaço que é meio rua, meio pensamento, meio sonho — e, às vezes, nem isso.
As pessoas que ela encontra pelo caminho são mais do que NPCs: são quase reflexos... dela, do mundo, do jogador? Vai saber! Personagens que falam pouco, mas que trazem questões profundas e que parecem colocar uma vida inteira dentro de uma frase curta. Dai você divide uma pizza e escuta, interaje e reflete muito depois. Bem longe da proposta de um game habitual.
O jogo tem essa delicadeza: ele te pede para prestar atenção. Não em mecânicas, mas em sentimentos ali narrados, fazendo com que A Pizza Delivery não seja realmente sobre entregar a útlima pizza, e sim sobre entregar um pedaço de si, e receber algo em troca. Eu senti essa vibe. Aquela sensação de que você está jogando pouco, mas sentindo muito.
Só que essa entrega, vez ou outra, tropeça
E tropeça onde menos deveria: na movimentação com a scooter em meio aos cenários. Ou melhor, naquela física que parece ter sido feita com sabão líquido no lugar do atrito com o solo. Eu sei que o jogo não é sobre ação, nem sobre precisão. Mas tem hora que é dificil manter a scooter em linha reta sem ter que ficar dando varios toquinhos no controle para que ela se mantenha no rumo.
É suave demais, lisa demais, quase etérea — e olha que em um jogo a assim eu poderia romantizar esse problema como se fosse alguma espécie de metafora para a dificuldade da vida em nos manter no rumo mas, ironicamente, isso puxa você pra fora do clima contemplativo e quebra a imersão. Não é um defeito catastrófico, mas é daquelas coisinhas que fazem você parar e pensar “poxa, isso podia ser um pouquinho mais firme”.
Mas o ponto que mais me deixou dividido mesmo foi a narrativa, ou melhor, a falta de pistas. A Pizza Delivery aposta forte na ambiguidade — e eu até gosto disso. Adoro quando um jogo me trata como adulto e te deixa interpretar as coisas para além do puramente mecânico.
Só que aqui, senti que faltou um fio, um detalhe, qualquer coisinha que explicasse por que a história começa daquele jeito e termina daquele outro. Não precisa de resposta direta, não precisa de final fechado; só de um pouco de contexto.
E para ser justo, existe um momento em que o jogo até te dá uma pista sobre a protagonista ao te mostrar um livro que B também tem igual, um livro de auto-ajuda sobre estar estagnado na vida, mas é preciso ler a contracapa (em inglês) para pegar essa pista. É como se o jogo estivesse segurando uma metáfora muito bonita, mas com medo de te deixar entender.
Mesmo assim, o jogo funciona bem
E funciona porque ele não tenta ser grande, ele tenta ser íntimo. Não tenta te impressionar, tenta te acalmar. Ele constrói situações e encontros em meio ao silêncio dos cenarios e ao barulho da scooter. E quando B encontra alguém e divide um pedaço de pizza, ali existe algo. Algo pequeno, mas verdadeiro, interpretativo e reflexivo para ela ou para nós como jogadores.
No fim das contas, A Pizza Delivery é aquele jogo que você termina e fica sentado por uns segundos. Às vezes olhando pro nada. Às vezes olhando pra tela pensando “o que foi isso mesmo?”. Ele não responde. Ele nem tenta responder. Ele é um jogo que existe para deixar você existir um pouco mais dentro de si. E, sinceramente? Tá massa assim.
Pena que é curto, cerca de duas ou três horas para finalizar tudo, sendo bem paciente e sem pressa. E também custa baratinho para um lançamento: R$ 39,90 no Xbox, R$ 44,00 na Steam e R$ 79,90 no Playstation. O jogo tem a opção de lingua portuguesa, mas na cópia que recebi em antecipado o idioma não estava funcionando, espero que já tenham corrigido, caso contrario fica dificil pra quem não manja de inglês entender tudo o que o game tem a oferecer como narrativa.
Só queria que a scooter parasse de deslizar como se tivesse passado a noite toda tomando banho de WD-40.
Mas mesmo escorregando, A Pizza Delivery é uma entrega que vale a pena.
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