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Divinas vozes negras cearenses
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Cantora, compositora, jornalista. Lançou sete CDs (Mona Gadelha, Cenas & Dramas, Tudo se Move, Salve a Beleza, Praia Lírica - um tributo à canção cearense dos anos 70 e Cidade Blues Rock nas Ruas); o EP Tudo se Move 20 Anos Depois e vários singles. Fez Comunicação Social na Universidade Federal do Ceará. É mestra em Comunicação (PPGCOM). Lançou o livro "Perfume Azul - Transgressão e Rock na Fortaleza dos Anos 70" (Edição FWA)

Mona Gadelha arte e cultura

Divinas vozes negras cearenses

Caiô e Luiza Nobel iluminam a cena. Luiza vai cantar na Suécia em 31 de agosto (no Brazilian Day Estocolmo, com Chico César e Kiko Loureiro entre as atrações). Caiô e a Outragalera já se apresentaram no Circo Voador e estão na Mostra Cariri deste ano
Luiza Nobel (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Luiza Nobel

O que a “Califórnia Neva”, música de Caiô (Caio Fábio), tem a ver com “Terral”, de Ednardo? Ambas nasceram com vocação de hino. Comovem, emocionam, e deixam na gente o pensamento do exílio - partir ou ficar? Sair da sua terra para desbravar outros palcos, o ouro em pó que reluz.

A linha que separa “Califórnia” de “Terral” é o século XXI com a inversão da ordem das coisas. Ficar pode ser a melhor decisão, mesmo que tudo continue difícil. Muito difícil mesmo.

Nos anos 80 havia uma coluna no caderno Domingo, de O POVO, editado por Isabel Ribeiro, para a qual colaborei, cujo título era “Cearenses que Ficaram”. A ideia era conversar com artistas que preferiram não tomar o rumo do que se chamava “Sul maravilha”. Porque sair da cidade era o caminho natural. Era óbvio.

Havia depoimentos de Angela Linhares, Augusto Pontes (1935-2009), Tazo Costa e mais gente. Ir embora e voltar em “revistas multicoloridas” sob “o sol nas bancas de revista”. Mas Caiô propõe ficar: “No Ceará não tem primavera, amor/Imagina/Você não sabe muito sobre o meu terral/Mas saiba que isso é mentira/ Não quero ir para a Califórnia, não/A Califórnia neva”.

O desejo é de permanecer, assim como em “Terral”, mas a iminência é de seguir viagem, porque esse era o destino. “Eu venho das dunas brancas/da onde eu queria ficar”. Caiô não só ficou, como se tornou uma das vozes mais vigorosas da cena musical cearense.

E quando falo de Caiô, ao seu lado eu vejo Luiza Nobel, cantora, compositora, atriz, interpretando “Califórnia Neva” numa audição do Laboratório de Música da Escola Porto Iracema das Artes, encantando o público do Teatro do Dragão do Mar que a aplaudiu de pé, num arroubo de espontaneidade e espanto, e também conquistou a comissão de seleção formada pelo trio feminino de autoras - Mahmundi, Raquel Virgínia e Suely Mesquita, naquela ano pré-apocalíptico de 2019.

E ela emendou com sua composição “Suspeita”, um manifesto anti-racista pungente: “O meu filho vou criar/para que ele possa entrar onde quiser”. A plateia veio abaixo.

Eu falo aqui de duas vozes negras que renovam, ao seu modo, a lírica cearense, o legado de grandes letristas e intérpretes da década de 1970. É assim que as escuto. E gostaria que muito mais gente ouvisse.

Luiza vai cantar na Suécia em 31 de agosto (no Brazilian Day Estocolmo, com Chico César e Kiko Loureiro entre as atrações). Caiô e a Outragalera já se apresentaram no Circo Voador e estão na Mostra Cariri deste ano.

Cantor Caiô(Foto: Divulgação/Anna Eliz Lopes)
Foto: Divulgação/Anna Eliz Lopes Cantor Caiô

Combativo, inquieto, prolífico, neste ano Caiô já lançou os singles “Não vá pra grupo” (junto com Manicômio Beat), “Rasta Ñ Traballha pra Você”, o EP “OTGLR!”, com a assinatura da Outragalera, a banda formada por ele e os músicos (também compositores, produtores, multi-instrumentistas) Agê, Glauber Alves e Rami Freitas.

Uma vez, numa longa e boa conversa, eu disse para Caiô que ele é um cancionista nato. Vejo o fazedor de canções no cara que faz reggae, dub, hip hop, no caldeirão da cultura de rua.

Luiza também vem com novas músicas nas plataformas. Desde 8 de agosto que o EP “Swing Equatorial” já ganhou o mundo pelas plataformas.

Parceiro em outros carnavais (vale o trocadilho, porque ela também tem o Baile Preto com muitas folias no currículo), Glauber Alves é o produtor musical e instrumentista do disco, em colaboração com Plínio Câmara, guitarrista.

E o sonho californiano de Lulu Santos (“o meu destino é ser star”)? Califórnia never. Sim, nos vemos em 

Serviço

Para ouvir “Califórnia Neva” com Luiza Nobel:

Foto do Mona Gadelha

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