Na melhor cena, Ralph Fiennes, depois de defender a diversidade, diz "ao longo de muitos anos de serviço à nossa mãe Igreja, devo dizer que há um pecado que passei a temer acima de todos os outros: a certeza. A certeza é a grande inimiga da União. A certeza é inimiga mortal da tolerância". O filme é Conclave, e esse discurso bem que poderia ser um prenúncio do conclave que se iniciará no dia 7 de maio.

Quando assumiu o papado, Francisco pediu que o povo reunido na Praça de São Pedro o bençoasse, antes que ele mesmo abençoasse o povo. Francisco fez uma opção radical pelos pobres e pelos excluídos, desde a escolha do nome pontifício. Autorizou a benção para casais do mesmo sexo, e para casais em segunda união. Combateu a intolerância religiosa. Fixou regras claras para o combate aos abusos sexuais, determinando o fim do segredo pontifício.

Lembro duas de suas frases mais icônicas: "Quem sou eu para julgar?" e "Eu nunca recusei a eucaristia a ninguém. A comunhão não é um prêmio para os perfeitos". Em um mundo dividido, a certeza de Francisco parecia ser que o amor de Cristo prega o acolhimento e a inclusão. Foi o próprio Jesus quem disse "Amai os vossos inimigos, orai pelos que vos perseguem. Porque, se amais os que vos amam, que recompensa tereis?".

Amar exige o deslocamento, a dúvida quanto às nossas certezas. É preciso abrir espaço para acolher o diferente. Infelizmente, na nossa cultura, a dúvida ainda é um sinal de fraqueza. Somos ensinados a matar e morrer pelos nossos ideais. Não à toa a Ciência tem estado sob constante ataque, já que utiliza a dúvida como método.

Sim, precisamos de algumas certezas. O amor é a principal delas. Estamos juntos tateando em um mundo louco, difícil e imprevisível. Podemos estar certos, podemos estar errados. Todos buscam a felicidade, todos querem se livrar do sofrimento. Talvez discordemos sobre o que é a felicidade, ou como a conseguiremos alcançar, mas se conseguirmos amar, pelo menos respeitar os caminhos diferentes escolhidos por pessoas diferentes, será mais fácil alcançá-la.