Juiz federal, foi vice-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe/2010-2012). É professor em cursos de pós-graduação e professor convidado da Escola da Magistratura Feral da 5ª Região (Esmaf), da Escola da Magistratura do Estado do Ceará (Esmec) e da Escola de Administração Fazendária (Esaf). É autor dos livros
Um amigo meu diz que o ser humano se acostuma a tudo, só não ao fogo. Eu não me acostumo com a beleza do Rio de Janeiro, nem me acostumo ao modo como nos acostumamos com algumas coisas
Foto: VANDERLEI ALMEIDA
Aerial view of the Christ the Redeemer statue atop Corcovado Hill and the Mario Filho (Maracana) stadium in Rio de Janeiro, Brazil on May 10, 2013. The Maracana stadium will host the upcomig Confederations Cup next June, the Brazil 2014 FIFA World Cup and the 2016 Summer Olympics. AFP PHOTO /VANDERLEI ALMEIDA
Quando estive no Rio de Janeiro pela primeira vez, para fazer o doutorado, a minha orientadora disse: se for procurar apartamento em Copacabana, evita a subida do morro, pois sempre tem tiroteio por ali. Ela falou como se falasse de uma chuva que costuma cair no final da tarde. Achei aquilo estranho, desisti do doutorado, mas por outros motivos. Voltei muitas vezes.
Nunca vi lugar mais lindo. O Rio me encanta, me intriga, é complexo, difícil de entender. Um amigo meu diz que o ser humano se acostuma a tudo, só não ao fogo. Eu não me acostumo com a beleza do Rio, nem me acostumo ao modo como nos acostumamos com algumas coisas.
Dessa vez fui correr a meia maratona. A maratona do Rio é a maior corrida do Brasil. Setenta e cinco mil pessoas inscritas. Um megaevento. O sistema de inscrição eletrônica é ruim, entre ineficiente e inoperante. Filas quilométricas para a entrega dos kits, horas de espera, desorganização e calor. Ainda assim, nos acostumamos, pagamos um tributo ao Rio, à sua beleza, à sua cultura.
Nada saiu como planejado. Minhas costas travaram algumas semanas antes. Decidi relaxar e fazer o que desse. O taxista que quebrou todos os meus galhos mora no morro, ele me disse que todo morro tem um dono. E a polícia? Perguntei. Eles convivem bem, faz tempo que não tem guerra lá. Ele parecia tranquilo, fazendo o que pode, do jeito certo, dia após dia.
Decidi subir o morro. Fui pro samba no Vidigal. A comunidade é vibrante, a vista maravilhosa, comida boa, atendimento de primeira. A polícia fica embaixo, tem guardas do tráfico em cima, e parece haver um acordo tácito entre eles. Fica tranquilo, doutor. Todo mundo aqui se entende.
Talvez a virtude do brasileiro seja também o seu vício. Inventamos jeitos de conviver com a desigualdade, com a pobreza, com a violência, com a ineficiência. Nos acostumamos. Somos mais felizes? Mais tolerantes? Menos indignados?
Não sei. O que sei é que o Rio de Janeiro continua lindo. Quero ir de novo, muitas vezes mais, mas gostaria de encontrar um jeito de conviver com as filas, com a desigualdade e com a violência, sem me acostumar com elas.
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