Juiz federal, foi vice-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe/2010-2012). É professor em cursos de pós-graduação e professor convidado da Escola da Magistratura Feral da 5ª Região (Esmaf), da Escola da Magistratura do Estado do Ceará (Esmec) e da Escola de Administração Fazendária (Esaf). É autor dos livros
Ainda há muita fome no Brasil, muito autismo, muito câncer, muita dor nas costas, muita gente morando na rua e milhares de processos pra amenizar isso. Há muitas piscinas rasas, é preciso ter cuidado antes de pular nelas
Foto: Lima Jr/divulgação
Bebê disputando o Taíba Festival Kite, etapa do Campeonato Brasileiro de Kitesurf
O ano em que a maré secou. A água recuou tanto que pareceu que não iria mais voltar. Pulei de ponta em uma piscina linda, abri os braços, voei como os Clavadistas de La Quebrada. Calculei mal, fui tudo um erro, caí de cabeça com água na canela, me quebrei todo. Apesar disso, comprei um barco para navegar sozinho, como a Tamara. Espero a maré encher de novo para zarpar. Quem sabe um dia? Marés secas, barcos e piscinas rasas nos ensinam muito sobre o desamparo. Essa foi a primeira lição.
Ainda há muita fome no Brasil, muito autismo, muito câncer, muita dor nas costas, muita gente morando na rua e milhares de processos pra amenizar isso. Há muitas piscinas rasas, é preciso ter cuidado antes de pular nelas. Mas é impossível saber tudo, controlar o vento, separar a maré seca da cheia e conhecer exatamente a fundura das piscinas onde você escolhe se banhar. Há muito prazer e muita dor e tudo está misturado. A maré que seca é mesma que enche. Essa foi a segunda lição.
Aprendi a velejar com o kite, mas só depois que entendi que é o vento que te leva, você não pode empurrar nem se agarrar. O kite é contraintuitivo. Não há nada mesmo em que se segurar, é só se deixar levar e, em caso de emergência, solte a barra. Parecia impossível, mas tentar fazer o que parece impossível te leva pra dentro. Essa foi a terceira lição.
Amadurecer é aceitar que não controlamos o vento, nem as marés, nem a profundidade das piscinas. Na verdade, ninguém navega sozinho, carregamos em nós os faróis acesos de quem, mesmo ao longe, está muito perto. Aprender a ler os sinais, escolher os saltos, esperar a maré cheia não nos livra nem da queda nem no naufrágio, mas pode nos levar mais longe, quando menos, nos fazer mais íntegros.
Que em 2026 teu peito se abra mais uma vez para o salto, que as marés cheias te levem mais longe, que você tenha a felicidade de cair em uma piscina bem funda, de águas calmas e possa boiar. Que os ventos te ensinem que, para velejar, é preciso não agarrar e que haja sempre muitos faróis a iluminar o teu barquinho. A vida é mais bonita quando não navegamos sozinhos.
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