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Ceará colhe algodão utilizando tecnologia
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Jornalista, colunista de Economia da rádio O POVO/CBN; Coordenador de Projetos Especiais do Grupo O POVO DE COMUNICAÇÃO; Co-Autor do livro '50 Anos de Desenvolvimento Industrial do Ceará' e autor dos 'Diálogos Empresariais', dois livros reunindo depoimentos de líderes empreendedores do Estado do Ceará

Ceará colhe algodão utilizando tecnologia

É sempre muito bom lembrar que em passado recente fomos o segundo maior produtor de algodão do Nordeste, alcançando 190 mil t/ha. A produção extensiva e sem tratos veio abaixo com a praga do bicudo
É sempre muito bom lembrar que em passado recente fomos o segundo maior produtor de algodão do Nordeste, alcançando 190 mil t/ha. A produção extensiva e sem tratos veio abaixo com a praga do bicudo (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves É sempre muito bom lembrar que em passado recente fomos o segundo maior produtor de algodão do Nordeste, alcançando 190 mil t/ha. A produção extensiva e sem tratos veio abaixo com a praga do bicudo

O empresário Luis Girão recebeu em sua magnífica fazenda, no Limoeiro do Norte, uma comitiva de produtores rurais, capitaneada pela grande estrela do evento, o empresário Raimundo Delfino, que naquela manhã oferecia um presente ao Ceará: a colheita de dois mil hectares de algodão irrigado, com elevada produtividade.

Isto para o Ceará é um milagre. É sempre muito bom lembrar que em passado recente fomos o segundo maior produtor de algodão do Nordeste, alcançando 190 mil t/ha. A produção extensiva e sem tratos veio abaixo com a praga do bicudo. O governo do Estado sumiu na ajuda, rendendo-se à praga.

O efeito não foi só no campo. Dezenas de indústrias de beneficiamento distribuídas pelo interior e Fortaleza fecharam suas portas de repente. Muitas endividadas. Impacto menor atingiu a dinâmica indústria têxtil instalada que teve de recorrer à importação. Foi o caos, em meio à falta de visão de produtores tradicionais e industriais acomodados a clientes "garantidos", desinformados das modernas técnicas e modelos de organização em cooperativas, por exemplo.

E VEIO RAIMUNDO DELFINO

Quarenta anos depois, o chão coberto de branco a perder de vista em Tabuleiro do Norte, na manhã do início deste mês, mexeu com as esperanças da região, e não faltaram Cid e Camilo Santana nas comemorações. Em dias diferentes.

As plumas brancas estavam sendo colhidas mecanicamente, utilizando processos digitais com GPS, numa demonstração de que a tecnologia poderia virar a mesa da inviável cultura. O empresário Raimundo Delfino estava a colher 300 arrobas de algodão por hectare. A mesma produtividade de Goiás.

A GIGANTE SANTANA TEXTILES

Delfino nasceu em Jaguaruana, vizinha de Tabuleiro e de Limoeiro do Norte, de onde saiu em 1960 e hoje retorna cobrindo seu berço com plumas de algodão. Essa mesma vocação empreendedora se deu na indústria, quando em 1993 liderou com a família a criação da Santana Têxtil, revolucionando a produção de índigo no País com tecidos de alta qualidade para o mercado interno e exportações. Levou uma "trombada" do mercado por questões cambiais e reergueu-se ainda maior.

Com suas duas unidades industriais no Ceará e na Argentina (daí a mudança para Santana Textiles) a empresa produz hoje perto de 6 milhões de metros de tecidos/ano, abastecendo o mercado argentino, Brasil, Colômbia e México.

Conversando comigo, Delfino destacou que a sua unidade do Ceará representa 70% da produção total, consumindo matéria prima nordestina da Bahia, Maranhão e Piauí. "Mas eu espero que em uma década o médio Jaguaribe e o Sertão Central sejam fornecedores expressivos de algodão para nossa indústria", desafiou. A colheita deste setembro representou apenas 3% do total/ano industrializado.

ORGANIZAR A PRODUÇÃO PARA VOLTAR A SER GRANDE

"Para voltar a ser grande iremos precisar de tecnologia, assistência técnica, crédito e organização dos produtores para alcançarem produtividade e competitividade", destaca o líder da Santana Textiles. O que fomos no século passado, não se aplica à realidade de hoje, cujos preços são ditados por grandes centros produtores com alta produtividade por hectare.

Os próximos passos do governo do Estado, Embrapa, Ematerce e prefeituras devem ser na busca de uma produção de escala que atenda à demanda industrial.

Nada mais verdadeiro. A fruticultura do Ceará serve de bom exemplo, e tudo começou com a cajucultura e o melão em seguida, com produção em alta escala e controle de qualidade. Compradores internacionais foi o resultado.

Recuperar a cultura do algodão no interior do Ceará, com resultados para quem produz, não precisa inventar a roda nem ter medo do bicudo. Basta organização, como na fazenda do cearense Delfino.

Foto do Nazareno Albuquerque

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