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As brumas da ideologia e o freio no carro
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Colunista de Economia, Neila Fontenele já foi editora da área e atualmente ancora o programa O POVO Economia da rádio O POVO/CBN e CBN Cariri.

As brumas da ideologia e o freio no carro

Os discursos contrários às medidas não questionam a possibilidade delas darem resultados positivos.O que parece haver é um temor em relação à possibilidade de sucesso do projeto
Tipo Opinião
Neila Fontenele, jornalista do O POVO (Foto: Aurélio Alves/O POVO)
Foto: Aurélio Alves/O POVO Neila Fontenele, jornalista do O POVO

Quem não gosta de cheiro de carro novo? Agora, imagine a possibilidade de comprar um veículo zero por um preço menos proibitivo. A ideia de satisfazer esse desejo não é nova e já foi implantada em outros governos. No governo Itamar Franco, se chegou a ressuscitar o Fusca, cuja linha de montagem havia sido descontinuada em 1986 - uma iniciativa também muito criticada à época mas, junto com um pacote de medidas de redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) em 0,1% para incentivar os carros populares, ajudou a recuperar a economia.

Naquele início dos anos de 1990, entre 1993 e 1994, período de instalação do Plano Real, os incentivos marcaram um recomeço da indústria. O Fusca de Itamar era movido a álcool e virou motivo de muitas piadas, mas funcionou por um período; o Plano Real não só organizou como destravou a economia nacional. Vale lembrar que o "fusquinha" voltou ao mercado custando US$ 7.200, o equivalente a R$ 35.280 a preço de hoje. Deixo claro que não advogo o retorno do Fusca, mas lembro a importância do setor.

O posto Ipiranga do ex-presidente Bolsonaro, Paulo Guedes, também criou incentivos à indústria. Houve, em 2022, uma renúncia de 50% do IPI, mas a medida com o preço final dos itens fabricados não foi amarrada.

As brumas ideológicas têm marcado os comentários mais ácidos ao ministro Fernando Haddad, ao anunciar novos incentivos para que alguns "carros básicos" possam se tornar mais acessíveis. As críticas, na maioria delas, seguem dois caminhos: 1) a falta de foco em alternativas à mobilidade urbana; e 2) a ausência de visão do poder público ao incentivar modelos que utilizam combustíveis fósseis. A primeira está sendo resolvida com a inclusão de ônibus e caminhões na nova política de incentivos.

Os discursos contrários às medidas não questionam a possibilidade de resultado. Parece haver um temor em relação à possibilidade de sucesso do projeto. Na época do Plano Real também havia muita divergência, mas foi preciso um esforço político para as coisas darem certo. Um país rachado torna tudo mais difícil - mas, quem sabe, o cheiro de carro novo ajude a diminuir as resistências... n

 

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