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Cuide das mães: sua aposentadoria depende disso
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Colunista de Economia, Neila Fontenele já foi editora da área e atualmente ancora o programa O POVO Economia da rádio O POVO/CBN e CBN Cariri.

Cuide das mães: sua aposentadoria depende disso

O dilema da reduação das famílias e o aumento de custo das aposentadorias é uma conta que não fecha. O fenômeno, que já havia chegado a outros continentes, foi registrado no Brasil pelo Censo 2022 do IBGE. Um dos responsáveis apontados é desincentivo à marternidade no mercado de trabalho
Tipo Análise
Renata Lino, 
CEO da startup Mommy Tech (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Renata Lino, CEO da startup Mommy Tech

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Você já se projetou para daqui a alguns anos? Como será a sua vida e como estarão as suas necessidades? Esse é um exercício difícil, principalmente para quem chegou aos 50 e 60 anos, mas necessário, diante da elevação do número de centenários. Pense que um deles no futuro pode ser você.

O Censo de 2022, apresentado no final de junho pelo IBGE, abre várias frentes nessa discussão. Um dos dados relevantes está na redução do tamanho das famílias brasileiras. A informação já era esperada: conforme o IBGE, o núcleo das famílias do país tem menos de três pessoas. Isso quer dizer que haverá um número menor de pessoas para pagar a conta das aposentadorias do INSS.

Embora a população tenha crescido, a quantidade de brasileiros teve uma queda de 4,7 milhões de pessoas em relação às previsões. Nas cidades com maior escolaridade, como Porto Alegre, é visível como muitas famílias optaram por ter menos filhos, ou simplesmente não colocar mais ninguém no mundo.

Esse cenário já era percebido na Ásia e Europa, e começa a ocorrer no Brasil, mas existem boas razões na tomada da decisão de ter menos filhos. A CEO e fundadora da Mommy Tech, startup de recolocação de mães no mercado de trabalho, Renata Lino, conversou com a coluna sobre o assunto. Na sua avaliação, a decisão de ter menos filhos é um dos resultados das "agressões" das empresas às mulheres que se tornam mães.

"50% das mulheres são desligadas até dois anos após a licença-maternidade no mercado de trabalho brasileiro. Essa estatística é devastadora, mas reflete, de fato, inúmeros relatos que recebo em meus encontros e também a minha própria experiência pós-maternidade", acrescenta.

Reprodução da discriminação

Há um desincentivo à maternidade. Renata lembra os problemas do preconceito: mulheres têm menos preferência em relação a homens para vagas de emprego, pela simples possibilidade futura de uma licença-maternidade.

Outro fato grave é que mulheres líderes também reproduzem a discriminação. "60% das mães que declararam sofrer preconceito dos líderes por causa da maternidade tinham líderes mulheres". Essa falta de solidariedade feminina, na avaliação de Renta, ocorre porque as mulheres sabem da complexidade da conciliação da vida materna com o trabalho.

Em São Paulo, por exemplo, algumas empresas chegam a aceitar apenas dois atestados médicos por ano de mães trabalhadoras que acompanham seus filhos doentes. "Sua posição ainda piora nos eventuais momentos em que os filhos adoecem e ela não pode levá-los à creche ou à escola; inconcebível, então, é a situação de uma mãe de filhos atípicos, que precisa acompanhá-los em seus longos tratamentos médicos", reforça.

Mudança de postura

Diante de todas essas situações, é preciso uma mudança na postura das empresas e da sociedade em geral. Caso contrário, teremos uma população mais velha, pobre e com menos pessoas para cuidar dos idosos. As crianças e os jovens de hoje serão os responsáveis pelo pagamento das aposentadorias de amanhã. A questão não é de interesse apenas das mulheres, mas possui consequências para todos.

Existem várias soluções a serem adotadas pelas empresas com efeitos de longo prazo e que podem ajudar jovens a terem seus filhos e a se manterem no trabalho. A primeira é a consciência da necessidade de um tratamento melhor para as mães - por exemplo, através da viabilização de creches para crianças com até seis anos de idade, o que tende a melhorar o relacionamento interno nas companhias. Até essa idade, as crianças ganham mais autonomia, garantindo maior tranquilidade para as mães.

Outro ponto importante: a implantação das licenças-paternidade. Essa medida é considerada fundamental para reduzir a discriminação contra as mulheres.

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