Colunista de Economia, Neila Fontenele já foi editora da área e atualmente ancora o programa O POVO Economia da rádio O POVO/CBN e CBN Cariri.
Colunista de Economia, Neila Fontenele já foi editora da área e atualmente ancora o programa O POVO Economia da rádio O POVO/CBN e CBN Cariri.
Nesses dias chuvosos, quase morri de saudade da infância. As imagens da neblina em Viçosa e em Ubajara, vistas em redes sociais, me levaram a lugares distantes da memória. A tranquilidade da Serra da Ibiapaba, com um clima mais fresco, muitas frutas e um povo acolhedor, voltaram à minha cabeça.
Esse é um Ceará diferente: não tem as marcas do Sertão que sofre com a seca, nem do litoral, com peixes e banho de mar. É um outro ritmo de convivência. Nas minhas memórias de infância, há caças a tanajura com o meu avô, as sombras de mangueiras frondosas, paredes geladas de casas e escolas, e muita gente que já se foi, mas deixou rastros da sua existência no lugar.
Em Viçosa, os bustos do General Bezerril e de Clóvis Beviláqua, autoridades de uma época (nomes perpetuados no bronze das estátuas das praças); mas na minha cabeça está a Chicuta, apelido de uma moradora do Patronato Tenente Ângelo Siqueira Passos. Acolhida pelas freiras no espaço escolar, vivia atormentada pelas crianças e suas bonecas de pano. Também havia um homem que catava tampinhas nas ruas, uma espécie de precursor dos trabalhos de reciclagem.
Os jardins das praças também eram magnificamente ornados por plantas de várias espécies; muitas delas viraram saladas nas brincadeiras de cozinha. Na subida para a Igreja do Céu, com seus mais de 300 degraus de escadaria, o som ensurdecedor das cigarras, e jaqueiras com frutos enormes, além de uma vista das montanhas e orquídeas.
Tudo isso também faz parte do Ceará. Um estado marcado pela pobreza do seu povo, mas também por belezas e riquezas ainda pouco exploradas. São construções naturais, mas também de memórias de pessoas e de famílias. O apego à terra não consiste apenas em uma questão monetária, mas está associado ao pertencimento
Por essa razão, os documentos e estudos sobre o litígio entre o Ceará e o Piauí (sobre parte da Serra da Ibiapaba) precisam levar em conta quem habita o lugar. Os verdadeiros donos desse território são aqueles com uma relação com a cultura da região. São os donos das histórias, os possuidores de vivências e de memórias.
Não basta um documento com uma decisão da Justiça; existem laços que demoram décadas para serem construídos e ficam enraizados em gerações. Uma pequena chuva resgata a memória.
Se tiver neblina, então… n
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