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As falhas evitáveis nos hospitais
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Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno

Neila Fontenele ciência e saúde

As falhas evitáveis nos hospitais

Entre agosto de 2023 e julho de 2024, foram contabilizadas 13.619 erros na assistência à saúde. No Brasil, foram quase 400 mil erros
Tipo Notícia
GILVANE Lolato, gerente de operações da ONA (Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)
Foto: Divulgação/Arquivo pessoal GILVANE Lolato, gerente de operações da ONA

Os hospitais brasileiros ainda enfrentam um desafio significativo: a revisão de seus processos para reduzir erros e falhas evitáveis na assistência à saúde. Dados levantados pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), com base em informações fornecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), revelam que o Brasil registrou 396.629 falhas na assistência à saúde.

No Ceará, a situação é igualmente preocupante. Entre agosto de 2023 e julho de 2024, foram contabilizadas 13.619 ocorrências. Esses números abrangem uma gama de problemas, desde questões menos graves até situações gravíssimas, como a administração incorreta de medicamentos — seja por dosagem ou tipo errados — e a realização de cirurgias em locais equivocados no corpo dos pacientes.

Entre os erros identificados no Ceará, 4.256 estão relacionados a lesões por pressão. Esses problemas são frequentemente categorizados em contusões (lesões nos tecidos moles), entorses (alongamento dos ligamentos) e luxações, que são consideradas as mais graves, pois envolvem o deslocamento do osso da articulação.

Além disso, foram registradas 2.300 falhas durante a assistência à saúde e 2.290 erros envolvendo cateter venoso. Esses dados refletem a seriedade dos problemas que permeiam o sistema de saúde brasileiro e o impacto direto que podem ter na segurança dos pacientes.

Caminhos para a redução de erros

Apesar dos problemas, há caminhos para a melhora da segurança na realização de procedimentos. Durante a Feira Hospitalar 2025, realizada em São Paulo, conversamos com Gilvane Lolato, gerente de Operações da ONA. Ela destacou diversas medidas que podem e são implementadas para mitigar esses erros e até evitar óbitos. A implantação de processos de acreditação, acompanhada de protocolos de segurança, é um dos caminhos sugeridos.

Gilvane compartilhou que existem experiências bem-sucedidas no Ceará, implementadas pela Secretaria de Saúde do Estado, que visam diminuir os erros mais comuns. Recentemente, a ONA conduziu uma pesquisa com cerca de 100 instituições de saúde para avaliar suas falhas após a adoção de medidas de segurança.

Os resultados são promissores: "Mais de 30% dos entrevistados relataram que as falhas na administração de medicamentos diminuíram em 51%; os erros na identificação de pacientes caíram 52%; as infecções hospitalares reduziram 42%; as falhas na prescrição de medicamentos baixaram 35%; e os problemas de comunicação diminuíram 37%. Além disso, houve uma redução de 33% nas quedas de pacientes nos leitos e de 45% tanto nas falhas na esterilização de materiais quanto na manutenção preventiva dos equipamentos", ressaltou Gilvane.

O desafio da acreditação

No Ceará, a ONA conta com 28 instituições acreditadas. Contudo, como já mencionado, a jornada para a redução de erros é longa. Das mais de 380 mil organizações de saúde no Brasil, conforme o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), apenas 2.030 estão acreditadas por metodologias nacionais ou internacionais.

As mudanças nos protocolos hospitalares não são simples e exigem treinamentos intensivos. Gilvane enfatiza que os processos de acreditação são desafiadores, requerendo comprometimento, disciplina e uma transformação cultural nas organizações.

"Esses processos, além de aumentarem a segurança no atendimento médico e na realização de exames e diagnósticos, também proporcionam maior precisão e confiança tanto para pacientes quanto para profissionais de saúde", conclui Gilvane.

A luta pela segurança do paciente nos hospitais brasileiros é um caminho repleto de desafios, mas, com iniciativas e comprometimento, é possível vislumbrar um futuro mais seguro para todos.

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