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A ameaça silenciosa dos antibióticos
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Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno

Neila Fontenele ciência e saúde

A ameaça silenciosa dos antibióticos

Até 2050, a resistência antimicrobiana pode se tornar a principal causa de mortalidade global
NOVAS tecnologias podem ajudar na criação de políticas públicas da saúde (Foto: Adobe Stock)
Foto: Adobe Stock NOVAS tecnologias podem ajudar na criação de políticas públicas da saúde

A resistência antimicrobiana (RAM) é, sem dúvida, um dos maiores desafios que o setor da saúde enfrenta hoje. As projeções são alarmantes: até 2050, a RAM pode se tornar a principal causa de mortalidade global, superando o câncer e outras enfermidades já conhecidas.

Essa urgência já mobilizou a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o G20, que emitiram alertas sobre o assunto. Afinal, as estimativas da ONU são assustadoras: sem medidas eficazes, poderemos ter 10 milhões de mortes anuais e uma perda econômica de US$100 trilhões na economia global.

A RAM tem uma característica particularmente perigosa: sua evolução silenciosa e progressiva, muitas vezes impulsionada pelo uso indiscriminado ou incorreto de medicamentos, especialmente antibióticos. Embora as ações ainda pareçam lentas diante da magnitude do problema, a boa notícia é que empresas e instituições estão se movimentando para enfrentar esse cenário com novas tecnologias.

Parcerias locais: Grupo HS e BioMérieux

Aqui no Ceará, já existem iniciativas concretas para expandir e organizar dados sobre quadros infecciosos, o que pode abrir caminho para a melhoria de políticas públicas. O Grupo HS (um prestador de serviços para diversos hospitais públicos do estado, com atuação também no Piauí e Amazonas) formou parceria com a francesa BioMérieux.

Com mais de 20 anos de atuação, o Grupo HS, originário da Diagnósticos Nordeste (DNEDS), pretende ampliar o uso de novas tecnologias. Valmique Gomes Filho, um dos sócios da empresa, destaca que, além das análises clínicas, a parceria permite a aplicação de diagnósticos mais rápidos e o uso de plataformas digitais para a criação de mapas epidemiológicos.

 

Valmique Gomes Filho, sócio do Grupo HS(Foto: Carolina Geraldo)
Foto: Carolina Geraldo Valmique Gomes Filho, sócio do Grupo HS

 

Para demonstrar o potencial dessas inovações, dois representantes da BioMérieux estiveram em Fortaleza. O médico infectologista Ruan de Andrade Fernandes e o gerente sênior de Soluções de TI para a América Latina na BioMérieux, Samir Weres, reuniram-se com a direção do Grupo HS e com representantes da Secretaria de Saúde. Novos encontros estão previstos para amadurecer as possibilidades de uso desses dados na gestão da saúde pública local.

Novas ferramentas

Entre as soluções apresentadas, duas se destacam. A primeira é a Biofire Syndromic Trends, baseada em nuvem de dados, que coleta e compila resultados de testes realizados em laboratórios e hospitais. Essa tecnologia pode contribuir com a criação de mapas de resultados.

Segundo Samir Weres, o sistema proporciona uma percepção rápida e visual sobre as doenças infecciosas detectadas, permitindo uma compreensão local e regional das tendências de circulação de patógenos. Ou seja, é possível saber para onde o perigo está se movendo e como ele se manifesta.

Samir Weres, gerente sênior de Soluções de TI para a América Latina na BioMérieux(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Samir Weres, gerente sênior de Soluções de TI para a América Latina na BioMérieux

 

A outra tecnologia é o Real. Esse sistema foi desenvolvido para facilitar a tomada de decisões clínicas. A proposta é melhorar o monitoramento das resistências microbianas, podendo tornar o uso de antibióticos muito mais eficiente. Com o Real, conforme a explicação de Samir, os profissionais de saúde podem agir com mais precisão, garantindo que o tratamento seja o mais adequado possível.

Futuro mais seguro

Diante disso, pode-se afirmar que há uma evolução significativa nas ferramentas disponíveis para a área da saúde. O maior desafio, talvez, esteja na parte humana, já que são exigidos novos treinamentos e o rompimento de hábitos enraizados nas instituições hospitalares (muitos ainda baseados em protocolos e registros feitos em papel). Com novos mecanismos e suportes, pode haver uma efetividade maior na prevenção de novas epidemias.

 

 

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