Logo O POVO+
Cuidado com o overbooking na saúde
Comentar
Foto de Neila Fontenele
clique para exibir bio do colunista

Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno

Neila Fontenele ciência e saúde

Cuidado com o overbooking na saúde

Clínicas e laboratórios usam estratégias para reduzir custos diante dos índices de faltas de pacientes
Tipo Opinião
Comentar
capa - judicialização da saúde (Foto: adobe stock)
Foto: adobe stock capa - judicialização da saúde

Quem nunca passou por isso: você faz o agendamento de um exame com certa antecedência, chega na hora marcada e passa mais de uma hora esperando para ser atendido?

Essa cena, infelizmente, não é exclusividade do SUS. O problema do overbooking (agendamento de quantidade de pacientes maior do que a capacidade de atendimento) é uma rotina em muitas clínicas e laboratórios particulares, e ele traz consigo riscos que vão além da sua paciência.

Vamos entender por que essa prática existe, o que ela diz sobre a humanização do atendimento e como a pressa pode comprometer o seu diagnóstico.

Por que o overbooking acontece?

Muitas clínicas utilizam essa estratégia para tentar compensar as altas taxas de faltas (os no-shows). A lógica é simples: se 15% dos pacientes faltam, são agendados 15% a mais para que as máquinas e os profissionais não fiquem ociosos. O objetivo, claro, é otimizar recursos, reduzir custos e aumentar a eficiência.

No entanto, o que ocorre na prática é o inverso, com os aumentos da indignação e dos relatos de pacientes sobre longos tempos de espera, e a prova de que há uma estratégia falha nos processos de humanização dos atendimentos.

Um caso de falta de empatia

Presenciei recentemente uma situação que ilustra perfeitamente essa falta de planejamento e empatia. Em uma sala de espera lotada e fria, pessoas idosas aguardavam há mais de uma hora. Uma funcionária propôs a "solução" de levar alguns pacientes para o atendimento em um hospital do mesmo grupo, próximo ao local, para realizar os exames. Um senhor em cadeira de rodas perguntou se o local era acessível, e a resposta foi chocante: "Não tem como o senhor ir; há um declive".

Fica a reflexão: há altos investimentos em tecnologia, robôs de chamada e uso de mármores e granito nas salas, mas falta um olhar básico sobre as condições de acesso e de acolhimento para quem realmente precisa.

Exames malfeitos comprometem o diagnóstico

A realização de exames (mamografia, ressonância magnética etc.) é fundamental para diagnósticos precisos, mas são necessários cuidados em todas as etapas dos procedimentos.

Há uma preocupação em muitos locais de saúde sobre os processos para zerar filas, mas quantidade não é qualidade. Por essa razão, os protocolos de acreditação são considerados instrumentos para minimizar falhas.

Pelos dados da Organização Nacional de Acreditação (ONA), coletados junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), entre janeiro e junho de 2025, foram registrados 45,9 mil novos casos de erros assistenciais em saúde no Brasil. Equívocos comuns durante a mamografia, por exemplo, envolvem técnica inadequada e má qualidade de imagem (compressão insuficiente ou posicionamento incorreto do equipamento), o que pode ocultar áreas importantes da mama.

De acordo com Gilvane Lolato, gerente-geral de Operações da ONA, “a densidade mamária alta pode mascarar tumores, especialmente em mulheres jovens. Além disso, nódulos fibrocísticos e calcificações benignas podem ser confundidos com câncer, gerando diagnósticos equivocados”, explica Gilvane.

Gilvane reforça que a acreditação em hospitais, clínicas e laboratórios é essencial para reduzir riscos.

Velho, Eu?

Hoje, às 19 horas (logo após o O POVO News Segunda Edição), na TV O POVO (Canal 48.2) e no YouTube, será apresentado o programa Velho, Eu?, dedicado a discutir questões sobre longevidade. Deste episódio, participa a professora de dança e psicopedagoga Ana Sanford, que fala sobre a relevância da dança para a melhora dos processos cognitivos e de autoestima. O programa é apresentado por esta jornalista e psicóloga envelhescente, e pela médica pneumologista Márcia Alcântara.

Foto do Neila Fontenele

A saúde no centro da discussão. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?