Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno
Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno
O tema "saúde mental" dominou as conversas em 2025. De reuniões de família a corredores de empresas, o assunto deixou de ser um tabu para se tornar pauta central. No entanto, esse movimento trouxe novos fenômenos, como a "febre" de autodiagnósticos nas redes sociais, nas quais discussões sobre medicações e transtornos passaram a servir quase como um símbolo de pertencimento a determinados grupos. Mas o que os dados dizem sobre o real estado psicológico dos brasileiros?
A nova edição do estudo "Saúde Mental em Foco: desafios e perspectivas dos trabalhadores brasileiros", realizado pela Vittude em parceria com a Opinion Box, traz números que acendem um alerta vermelho: 66,1% dos entrevistados afirmaram que sua saúde mental já foi afetada pelo estresse no trabalho. Isso significa que dois em cada três brasileiros sofrem as consequências de uma "sociedade da performance", na qual vivemos em um ritmo onde tudo parece ser apresentado sob a pressão de um pitch de startup: rápido, eficiente e impecável. O custo disso é o esgotamento.
Diante de tantas histórias de burnout e perda de qualidade de vida, fica claro que a saúde mental não pode mais ser tratada apenas como problema individual ou subjetivo. Se tanta gente tem adoecido simultaneamente, o problema não está apenas no indivíduo, mas também nos sistemas de condução das equipes.
Embora o trabalho possa ser fator de dignidade e saúde, a sobrecarga e o estresse não podem ultrapassar o limite do suportável. É urgente que as lideranças repensem seus modelos de gestão.
Um dos pontos curiosos da pesquisa é o contraste entre os dados e a percepção dos participantes. Mesmo com altos índices de estresse, a autopercepção geral de saúde mental é inversamente positiva: 38% deram nota 4 para sua saúde mental (em uma escala de 1 a 5); já 28,8% deram a nota máxima.
Como explicar tais dados? O levantamento sugere que essa "positividade" pode ser uma máscara: muitas vezes, a pessoa silencia as próprias dores para manter uma imagem de resiliência ou por faltar um ambiente seguro para expor vulnerabilidades. Ter uma percepção positiva, segundo o levantamento, não significa, necessariamente, ausência de problemas.
O estudo, que ouviu 2 mil pessoas de todas as regiões do Brasil, reforça uma verdade incontestável: as empresas precisam ir além do discurso e mitigar os riscos reais de adoecimento. Saúde mental não é apenas um tema de 2025; é o pilar de sustentação de qualquer organização que pretenda ser sustentável a longo prazo.
O professor e psicólogo baiano Lucas Freire decidiu mergulhar profundamente nos estudos sobre a exaustão crônica e o estigma da lentidão — a qual é frequentemente confundida com ineficiência no ambiente moderno.
O resultado deste estudo é o livro "Exaustos: imaginando saídas para o cansaço diário" (Buzz Editora). Na obra, Freire apresenta o conceito de "playfulness" (ou espírito lúdico) como um caminho essencial para resgatar a leveza e o prazer de viver em meio ao caos.
Um dos pontos centrais da obra é o que o pesquisador chama de "neuroprisão": um estado mental provocado por estímulos incessantes e pela pressão por produtividade constante, controle e vigilância emocional
Um Feliz Natal a todos, com muita saúde física e mental!
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