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Adeus a uma mulher centenária
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Neivia Justa é jornalista, empreendedora, palestrante, mentora, professora, fundadora e líder da JustaCausa, com 30 anos de experiência como líder de Comunicação, Cultura, Diversidade, Equidade e Inclusão em empresas como Natura, GE, Goodyear e J&J. Criadora do programa #LíderComNeivia e dos movimentos #OndeEstãoAsMulheres e #AquiEstãoAsMulheres, foi a vencedora do Troféu Mulher Imprensa e do Prêmio Aberje 2017 e, em 2018, foi eleita uma das Top Voices do Linkedin Brasil

Adeus a uma mulher centenária

Maria Arsênia Martins Parente, filha de Aracy e Raimundo, esposa e viúva de Francisco, duas vezes primeira dama de Santa Quitéria, mãe de 12 filhos, avó de 24 netos e bisavó de 32 bisnetos, sempre viveu cercada de pessoas
Tipo Opinião

Vovó se foi, prestes a completar 103 anos. Há muito tempo eu não perdia uma pessoa amada. Muito embora a morte seja das poucos certezas da vida, estranhamente, quando ela chega, mesmo para quem já viveu mais de um século, nos parece cedo ou rápido demais.

Não é fácil aceitar que a vida é frágil, fugaz e finita. Assim como é difícil viver o luto, algo absolutamente pessoal e intransferível, em que colo, ombro amigo e abraços valem mais que mil palavras, até que a dor da ausência física se torne uma doce saudade.

Nascida em 1922, vovó tinha 10 anos quando nós, mulheres, conquistamos o direito ao voto e 40, quando, em 1962, a "lei da mulher casada" permitiu que exercêssemos nossos direitos e deveres de forma igualitária com nossos maridos.

Passamos a ter autonomia para trabalhar, viajar, receber herança, administrar bens ou contrair dívidas, assim como solicitar a guarda dos nossos filhos e dividir os bens adquiridos durante o casamento, em caso de separação.

Eu nasci um dia antes dela completar 47 anos. Celebrávamos nossos aniversários juntas. Será doído não cantar parabéns nem soprar as velas com ela, no próximo mês de julho. Coleciono incontáveis lembranças da nossa história de amor de mais de meio século. E essas lembranças têm movimento, cor, cheiro e sabor.

Foi na casa da Dom Manuel que aprendi a andar de bicicleta sem rodinha. As mais saborosas goiabas e seriguelas que já comi são do seu quintal. As férias em Santa Quitéria nos rendiam enxovais novos de roupas que ela mesma cortava e costurava, depois de escolher os tecidos e modelos. Foi ela quem me ensinou a fazer crochê e jamais existirá um doce de mamão verde melhor que o dela. Sua casa era cheia de vida, amor, harmonia, sabedoria e alegria. E de gente.

Maria Arsênia Martins Parente, filha de Aracy e Raimundo, esposa e viúva de Francisco, duas vezes primeira dama de Santa Quitéria, mãe de 12 filhos, avó de 24 netos e bisavó de 32 bisnetos, sempre viveu cercada de pessoas. E seguirá viva no coração de todas e todos nós que formamos a multidão presente em seu velório, enterro e missa de 7º dia. Obrigada por tudo, vovó.

 

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