Do que me lembro quando penso em você?

E olha que me lembro tão pouco da minha infância.

Lembro de você levar a gente para brincar no adro da igreja de São Francisco.

Lembro de sempre confiar que podia conversar com você quando estava agoniado.

Lembro da gente desenhando na rua em Ouro Preto. Você me contava casos da sua terapia de grupo.

Gostava tanto da conversa que acabei fazendo Psicologia.

Lembro do seu olhar de susto quando eu chegava todo machucado. Levado como era, eu caía muito. E de tudo.

Lembro da minha cama quentinha naquelas noites tão frias e você vindo me dar um beijo.

Lembro da gente andando de carro, da kombi, da Brasília. lembro de chegar na Escola de Arte da FAOP e te encontrar. Lembro das aulas com você.

Lembro de ir correndo te abraçar quando você chegou e eu já sabia que papai tinha morrido.

Lembro que eu sempre tive certeza de que você me amava. Lembro que já fui injusto com você quando achava que você devia ser mais firme com algum irmão. Lembro que me esqueci de dizer com todas as letras o tanto que te admiro e o tanto que reconheço sua luta por todos nós, quando saí com você no amigo oculto do Natal.

Lembro de quando mudamos de casa. Alguns meses depois você me perguntou o que eu estava achando da moradia nova. Eu respondi que parecia eu estava há três meses de férias.

Lembro da praia na primeira vez e em tantas outras, dos pic-nics nas cachoeiras, inclusive daquele que você se esqueceu do abridor de garrafas. Lembro de tantos aniversários cheio de primos e amigos que você fez pra todos nós.

Lembro do tanto que sempre te achei bonita. E de como você fica feliz quando nos abraça. Lembro que sempre te amei e ainda te amo muito.

Receba um grande beijo meu, mãe. Com muita gratidão e amor. Deus me abençoou muito ao me dar uma mãe como você.

Do seu filho,
Nello