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Paulo Mendes Campos é autor de um texto lindo, intitulado “O amor acaba”. Tomei a liberdade, bastante arriscada, de dialogar com essa escrita inigualável, no texto abaixo.

O amor não acaba

O amor não acaba. Ao se passar onde se iniciou, nos momentos de vazio que a distância impõe, nos sonhos invadidos por lembranças (in)desejadas, quando se consegue parar um pouco o desespero, o amor não acaba.

O amor não acaba quando diante de um pouco de paz. Quando na calma sem pressa, diante da espera, nem que seja só um pouco, o amor não acaba. Quando se vê adiante novos dias, novas vidas, novos tempos, ele não acaba.

O amor não acaba a cada nascimento de uma criança.

Por vezes, diante de desentendimentos muito pesados e de palavras muito duras, parece que o amor acaba. Mas ele acaba é por aproveitar-se, em algum momento, de qualquer pequena fresta para insinuar-se, nos interstícios entre as certezas e os impropérios, recuperando o antigo frescor, o amor primordial do colo materno, do abraço diante do medo do escuro, do cobertor colocado de madrugada, com a chegada do frio inesperado.

O amor não acaba quando se sente o toque, quando se olha com suavidade.

O amor não acaba se não se almeja perfeito, nem completo, nem sem mácula.

O amor não acaba se é mesmo amor. A paixão acaba. E volta. E acaba. E volta. A obsessão quando acaba é um alívio. O amor acaba, muitas vezes, confundido com a paixão ou a obsessão. Pois essas sim, acabam. Mas não o amor.

O amor não acaba quando se olha para o filho. Mesmo que ainda não se converse com ele. Diante dos amigos, diante dos amores, ou mesmo distante, mas presentes à lembrança, aí está o amor, que não acaba.

Nem mesmo com a morte o amor acaba. Ele permanece, preenche a lembrança de afetos, distanciando o desespero.