Espaço dos correspondentes escolares do Programa O POVO Educação 2021. O programa reúne 140 jovens estudantes do ensino fundamental das redes pública e privada de Fortaleza. Os correspondentes participam de oficinas nas quais aprendem a editar jornais, roteirizar podcasts e apresentar programas de rádio, entre outras atividades
"A alegria da escrita", de Wis?awa Szymborska, nomeou para mim uma sensação antiga: a tomada de decisão sobre o que faço com as palavras que escolho pôr em ordem para descrever uma cena que só existe no meu mundo interior ou naquele raio de sol que atravessou a capela e deixou alguém extremamente triste com a chegada da noite.
O artista seleciona o que compõe sua obra. O público recebe finalizada, moldada pelo desejo estético e pessoal de quem a cria. Eu, por exemplo, amo muito mais a versão demo de "Architecture", com o verso "você fez tudo pela fama". Na versão oficial, em "Norman Fucking Rockwell!", de 2019, Lana Del Rey trocou por "O que quer que aconteça hoje à noite, eu só quero curtir com você". Odiei.
Em outra faixa, Lana Del Rey canta: "Life on Mars ain't just a song". Ou seja, "Life on Mars", de David Bowie, não seria apenas uma música qualquer. Pensei então: se Bowie tivesse escrito essa canção de outra forma, qual seria o impacto na própria Lana Del Rey e em todos que se vincularam à sua obra?
As decisões são pesadas e espinhosas. Muitas vezes o artista precisa se debruçar sobre si mesmo: decidir se a morte de um personagem será essencial à trama, efeito colateral ou apenas um recurso para chocar. Seja como for, tudo reverbera, ecoa, e será interpretado de formas imprevisíveis.
Certa vez, em uma entrevista, me perguntaram o que eu quis dizer com determinada frase.
Respondi que não fazia ideia de que tinha escrito aquilo. Ri depois, claro que sabia o que quis dizer, mas complementei: uma vez lançado, já não era apenas meu. As pessoas iriam se apegar, odiar, reproduzir, se afeiçoar.
Retomando Szymborska, em "A Vida na Hora", ela encerra com: "E o que quer que eu faça, vai se transformar para sempre naquilo que fiz." É isso. O artista decide, e ao decidir deixa milhões de possibilidades para trás. O público quase nunca saberá. O artista sabe. E precisa conviver com isso. Só existe porque o artista decidiu que teve que existir e dessa forma. Machado de Asis, provavelmente, sabe se houve traição ou não. Eu acho que não.
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