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Trump, equilíbrio e dependência
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É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política

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Trump, equilíbrio e dependência

Equilíbrio no comércio entre Brasil e EUA não significa que a dependência comercial mútua seja equivalente
Tipo Opinião
O presidente dos EUA, Donald Trump (Foto: Anna Moneymaker / Getty Images via AFP)
Foto: Anna Moneymaker / Getty Images via AFP O presidente dos EUA, Donald Trump

A posse de Donald Trump na última segunda-feira, 20, foi um dos principais temas da semana, com os desdobramentos da volta dele à Casa Branca seguindo em alta nos dias seguintes e, provavelmente, nos que ainda virão.

A reportagem da última quinta-feira, 23, (“Quem depende de quem: Relação comercial entre EUA e Brasil movimenta US$ 80 bilhões por ano”) foi bem oportuna ao repercutir com números as declarações do novo presidente sobre a dependência do país com o Brasil e a América Latina. “Eles precisam de nós mais do que precisamos deles”, disse Trump à repórter Raquel Krähenbühl, correspondente da Globo em Washington.

Os dados na reportagem mostram que houve no último ano um equilíbrio no comércio entre os dois países, com o Brasil exportando US$ 40,3 bilhões aos EUA e importando US$ 40,5 bilhões dos norte-americanos. Porém, o texto associa este equilíbrio à “interdependência”, como se um dependesse do outro na mesma proporção, o que não é correto afirmar.

E isso é confirmado nos parágrafos seguintes que mostram os EUA como segundo maior parceiro comercial do Brasil, enquanto este é o 16º entre os que mais exportam para os americanos e o 27º na lista dos que mais importam.

Essa discrepância de maneira nenhuma significa que os EUA prescindem do Brasil, afinal são os maiores importadores do mundo e compram daqui produtos essenciais para sua economia. As declarações de Trump não encontram consonância com a realidade e visam mais atender a interesses políticos de sua agenda para a América Latina. Mas o peso americano na balança comercial brasileira é inegavelmente superior ao inverso. E não é errado afirmar que a dependência do Brasil é maior nesta relação.

Os números e dados estatísticos são uma fonte rica de informações para as matérias e reportagens. Com eles, é possível confirmar ou refutar hipóteses ou fazer uma leitura analítica dos fatos. Mas é necessário cuidado para trabalhar bem essas informações e conceitos e decodificá-las de maneira assertiva para que o leitor possa ter uma melhor compreensão da mensagem a ser passada no texto.

Nome de escola ausente

No último dia 17 de janeiro foi publicado no portal O POVO uma matéria com o seguinte título: “Funcionária PCD ganha processo trabalhista contra escola particular em Fortaleza”.

O texto traz logo no lide alguns dos principais pontos do caso, como a indenização de R$ 10 mil imposta pela Justiça do Trabalho ao colégio em favor da funcionária, uma pessoa com deficiência que foi demitida sem justa causa. Ela, que foi readmitida após a decisão, pedia reparação por danos morais afirmando que o desligamento da empresa agravou sua condição física.

É comum no Jornalismo a adoção de um procedimento, que costuma ser seguido pelo O POVO, que é o de não mencionar o nome de uma empresa no título de um texto numa situação da qual ela é vítima. Por exemplo, como ocorreu em matéria publicada na última sexta-feira, 24, sobre um bar em Fortaleza invadido e assaltado por três homens na noite anterior. Porém, não era este o caso da escola, condenada pela Justiça do Trabalho.

O POVO é um veículo de comunicação que tem em seu rol de anunciantes mais de uma dezena de escolas particulares. Desde instituições de pequeno e médio porte a grandes conglomerados educacionais conhecidos em todo o Brasil. Ao folhear o jornal, o leitor se depara praticamente todos os dias com peças publicitárias desses colégios, algumas pegando uma ou mesmo duas páginas completas, às vezes.

Não mencionar o nome da escola particular em um caso como este pode passar uma mensagem ruim ao leitor e fazê-lo suspeitar da independência jornalística do O POVO.

Editora-chefe de Cidades, Joelma Leal afirmou que as informações contidas na matéria foram fornecidas pelo Tribunal Regional do Trabalho - 7ª Região (TRT-7) e que a reportagem não teve acesso, por meio do órgão, ao nome da escola condenada.

“Cometemos um equívoco ao não explicitar aos leitores acerca do procedimento e bastidores da apuração. Aproveitamos para reforçar que não houve nenhum tipo de orientação ou censura no que diz respeito a publicizar os nomes dos envolvidos no caso”, esclarece Joelma.

Elon Musk e a “saudação romana”

Voltando a falar sobre a posse de Trump, o reprovável e infame gesto feito pelo bilionário Elon Musk esteve nas páginas do O POVO. Na reportagem da edição de terça-feira, 21, a imagem do bilionário com o braço direito estendido em uma clara referência ao nazifascismo dizia na legenda que “Musk fez um gesto que usuários nas redes sociais associaram a uma saudação nazista. Outros citam que o gesto surgiu no Império Romano”.

Em e-mail enviado ao ombudsman, o leitor Rafael Lobato Pinheiro comentou a legenda aplicada à imagem. “Não compreendo porque o jornal inverteu as coisas. O gesto conhecido como saudação romana surgiu no Império Romano e depois foi usado pelos nazistas… isso é conhecimento público, a emulação que os nazistas faziam do Império Romano. Outra coisa: por que dizer que usuários das redes sociais associaram a uma saudação nazista? Por que não dizer simplesmente: ‘Musk fez um gesto que pode ser associado a uma saudação nazista’?. Porque foi o que ele fez, justamente para gerar um fato nas redes sociais”.

A crítica do leitor é pertinente. Sem entrar na discussão quanto às origens na Roma Antiga, fato é que a associação do gesto de Elon Musk com “sieg heil” do nazismo foi imediata até mesmo para quem tem um conhecimento superficial da História. Ainda na tarde de segunda-feira, ato contínuo à viralização do vídeo foram as manifestações de pesquisadores da área confirmando que a relação era clara.

A imagem da atitude de Musk na edição de terça-feira poderia já estar acompanhada de uma legenda de tom mais analítico. No online, matérias publicadas no dia seguinte produzidas pela BBC Brasil e reproduzidas pelo O POVO traziam especialistas formando consenso quanto à relação do nazismo com a saudação repugnante feita por Musk, assim como as explicações cínicas feitas posteriormente pelo empresário.

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