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Mudanças no tempo em que todo papa vira pop
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É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política

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Mudanças no tempo em que todo papa vira pop

Ao longo do tempo, a sucessão de um pontífice também se tornou um evento bem mais midiático. A partir de Paulo VI, papa entre 1963 e 1978, a televisão passou a ser decisiva para mostrar ao mundo imagens de um evento que antes era restrito a quem passava por Roma
Tipo Opinião
Pôr do sol na Basílica de São Pedro, onde o papa Francisco está sendo velado (Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP)
Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP Pôr do sol na Basílica de São Pedro, onde o papa Francisco está sendo velado

Talvez mais interessante que avaliar as coberturas da morte do papa e da sua sucessão seja observar as diferenças na forma de noticiar esse tipo de acontecimento ao longo dos anos. Principalmente quando o intervalo entre cada sucessão papal ultrapassa décadas. Viralizou há alguns anos um comparativo de imagens que mostram o público na Praça São Pedro durante os anúncios dos papas Bento XVI, em 2005, e Francisco, em 2013.

No primeiro registro, os fiéis olham para cima e observam o papa alemão que começava a substituir João Paulo II e que renunciaria oito anos depois. No segundo, entre o povo e o pontífice argentino, dezenas de milhares de telas de tablets e smartphones a registrar aquele momento histórico.

Ao longo do tempo, a sucessão de um pontífice também se tornou um evento bem mais midiático. A partir de Paulo VI, papa entre 1963 e 1978, a televisão passou a ser decisiva para mostrar ao mundo imagens de um evento que antes era restrito a quem passava por Roma. Nas décadas seguintes, internet e redes sociais elevaram a níveis nunca antes vistos essa exposição, que de alguma forma também atende aos interesses de uma Igreja que luta para não perder fiéis.

Capa da edição de 4 de abril de 2005 do O POVO sobre a morte do papa João Paulo II(Foto: O POVO.doc)
Foto: O POVO.doc Capa da edição de 4 de abril de 2005 do O POVO sobre a morte do papa João Paulo II

Fiz nessa semana que passou uma rápida consulta ao acervo do O POVO.doc para ver como a morte de João Paulo II saiu nas páginas do jornal. Em abril de 2005 foram 24 páginas de um caderno especial, o triplo das oito páginas publicadas na última terça-feira, 22, um dia após a morte de Francisco. Por outro lado, há duas décadas a vida era outra e a cobertura de um acontecimento como este no meio digital era uma fração do que é hoje.

Corridas pontifícias 

Pope Francis is silhouetted at the end of a private audience with the President of Equatorial Guinea during a private audience at the Vatican on October 25, 2013.      AFP PHOTO - POOL/Max Rossi(Foto: Max Rossi/AFP)
Foto: Max Rossi/AFP Pope Francis is silhouetted at the end of a private audience with the President of Equatorial Guinea during a private audience at the Vatican on October 25, 2013. AFP PHOTO - POOL/Max Rossi

As primeiras horas do feriado da última segunda-feira, 21, foram uma espécie de corrida na imprensa para ver quem soltava o maior número de informações sobre a morte de Francisco. A todo momento, portais de notícias produziam conteúdo a ser rapidamente distribuído e compartilhado nas redes.

Logo de manhã, perfis robustos, previamente produzidos e rapidamente atualizados contavam a história de Jorge Mario Bergoglio desde a infância em Buenos Aires, passando pela ordenação na juventude, os anos como bispo e cardeal antes de sentar no trono de Pedro e, principalmente, o legado deixado por Francisco para a Igreja. Nos dias que se seguiram, muitos detalhes de como seriam os rituais fúnebres e o sepultamento realizado ontem.

Em outra via, houve a corrida dos infográficos, explicando detalhe a detalhe do conclave, sempre intrigante e rodeado de ritos e mistérios. Mesmo com tanto segredo envolvido, não faltou na imprensa quem arriscasse o levantamento de candidatos favoritos a futuro papa.

Em meio a isso, já crescia a especulação sobre quem o sucederia. Uns apostando na manutenção do perfil reformista do último pontífice, enquanto outros projetando uma guinada mais conservadora. Houve também os que se ativeram a discutir de qual país seria o escolhido, num clima quase que de Copa do Mundo papal. Tudo com muito chute, pouca apuração e quase nenhuma certeza.

Uma cobertura que começou dinâmica

A cobertura do O POVO no dia da morte de Francisco e nos subsequentes seguiu mais ou menos o mesmo roteiro dos demais veículos, tendo também um forte caráter multiplataforma e todas as editorias mobilizadas. Às 6 horas da manhã, pouco tempo após o anúncio oficial do óbito, perfil bem completo do papa argentino já estava publicado no O POVO+. Uma hora depois, mais uma reportagem com números dos 12 anos de pontificado de Francisco.

A plataforma voltada exclusivamente para assinantes tem uma página elencando reportagens especiais sobre a morte do papa, mas que até a noite da última sexta-feira, 25, destacou apenas três conteúdos, todos publicados na segunda-feira. Uma dinâmica que começou bem interessante, mas que não foi sustentada nos dias seguintes.

No portal O POVO, o ritmo também foi intenso ao longo da segunda-feira. Toda a home estava preenchida com conteúdos relacionados a Francisco naquele dia. Sobretudo para as matérias com gancho local relacionadas à beatificação de Padre Cícero, que ficaram de fora do caderno especial impresso da terça-feira, 22. A propósito, a edição impressa foi elogiada pelos leitores, com destaque para as fotos e infográficos utilizados. Contudo, o ritmo de produção no digital também perdeu um pouco da força nos dias subsequentes ao da morte de Francisco.

Por fim, merecem destaque as transmissões ao vivo. Na segunda-feira, edição especial do programa O POVO News no Youtube e na TV O POVO teve mais de cinco horas de duração, com muitas informações e entrevistas. Assim como os programas da Rádio O POVO CBN e Rádio O POVO CBN Cariri, que receberam muitos elogios, com menção especial dirigida aos âncoras e apresentadores Jocélio Leal, Juliana Matos Brito e Letícia Lopes. “Deram show de jornalismo, que ao vivo é mais difícil”, observou um dos ouvintes.

Morte do papa ofusca manchetes de Trump

Presidente dos EUA, Donald Trump(Foto: SAUL LOEB / AFP)
Foto: SAUL LOEB / AFP Presidente dos EUA, Donald Trump

Foi preciso um fato de caráter excepcional, que costuma levar mais de uma década para acontecer, para que as peripécias de Donald Trump ocupassem um patamar secundário no noticiário internacional. O conclave a ser iniciado nos próximos dias será apenas o quarto processo de escolha papal da última metade de século.

É natural, portanto, que a morte de Francisco e todos os eventos subsequentes e detalhes ligados a ela tenham atraído para o Vaticano a atenção da cobertura jornalística nos últimos dias. Embora a causa seja algo a se lamentar, não deixa de ser um refresco ficar um tempinho sem superexposição midiática que Trump provoca a todo momento.

Não que o presidente americano tenha deixado de seguir seu expediente rotineiro de bravatas, mentiras e ataques à China, aos imigrantes e a tudo aquilo que lhe possa parecer uma ameaça. Se na primeira quinzena de abril a guerra tarifária - da qual os EUA parecem cada dia mais perto de pedir penico - foi o principal instrumento da Casa Branca para deixar o mundo com o juízo ainda mais atarantado, o foco mudou nos últimos dias. A bola da vez foi Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, pressionado por Trump para que atue por uma queda na taxa de juros.

Inclusive, este foi mais um exemplo de como a imprensa segue embarcando fácil nos truques retóricos do chefe da Casa Branca. Entre os veículos que também dedicaram atenção ao que ocorria em Washington, destaque para uma “possível” demissão de Powell. No entanto, parece ter sido esquecido o fato de que o presidente do Banco Central americano tem autonomia e não legalmente pode ter mandato retirado. Em se tratando de Trump, contudo, há de se dar um desconto e reforçar aqui o uso da palavra legalmente.

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