Logo O POVO+
Mais fiéis, viagens e encíclicas: Papa Francisco em números
Reportagem Seriada

Mais fiéis, viagens e encíclicas: Papa Francisco em números

Após 4.422 dias à frente da Igreja Católica, papa Francisco deixa um legado marcado pela humildade e pelo crescimento do número de fiéis. Presente fisicamente em todos os continentes do globo ao longo dos últimos 12 anos, o Santo Pontífice exerceu uma liderança atenta ao individuo, ao espírito e às questões urgentes do mundo contemporâneo
Episódio 2

Mais fiéis, viagens e encíclicas: Papa Francisco em números

Após 4.422 dias à frente da Igreja Católica, papa Francisco deixa um legado marcado pela humildade e pelo crescimento do número de fiéis. Presente fisicamente em todos os continentes do globo ao longo dos últimos 12 anos, o Santo Pontífice exerceu uma liderança atenta ao individuo, ao espírito e às questões urgentes do mundo contemporâneo
Episódio 2
Tipo Notícia Por

 

 

Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um bispo a Roma. Parece que os meus irmãos cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui!

 

Com essas palavras, Jorge Mario Bergoglio se apresentava ao mundo como o novo líder da Igreja Católica. Escolhido para suceder Bento XVI, o argentino tornava-se o primeiro papa não europeu em mais de 1.200 anos, assumindo a missão de conduzir uma instituição em meio a desafios internos e incertezas sobre seu futuro. Após 4.422 dias à frente do catolicismo, ele deixa um legado marcado pela humildade, pelo aumento do número de fiéis e pela atenção às urgências do mundo contemporâneo.

Seu pontificado teve início em 13 de março de 2013 e durou até 21 de abril de 2025. Neste período, ele construiu como diálogo, reformas e buscou tornar sua Igreja a mais acessível possível a todas as nações. Por si só, a escolha de um nome inédito entre os papas também já sinalizava o compromisso com os valores de São Francisco de Assis, espelho de simplicidade, fraternidade e amor à criação.

Brasão do Papa Francisco(Foto: AFP)
Foto: AFP Brasão do Papa Francisco

Ao longo de sua liderança, que se estendeu até sua morte em 21 de abril de 2025, a Igreja passou por um processo de revitalização, ampliando sua presença na sociedade e fortalecendo laços com milhões de fiéis. Reflexo desse movimento, dados apontam para um crescimento expressivo no número de católicos ao redor do mundo, resultado de um papado que esteve presente em todos os continentes ao longo de 12 anos.

Até o início dos anos 2000, a Igreja Católica experimentava um crescimento estável, mas modesto, em sua população global. Entre 1998 e 2012, por exemplo, o percentual de católicos na população mundial se manteve em torno de 17,4% a 17,5%, com pequenas variações anuais. Esse período indicava certa estabilidade na presença católica global, sem grandes flutuações.

Com a eleição do papa Francisco, porém, foi possível observar uma mudança mais significativa nesse padrão. Em 2013, o percentual de católicos na população mundial aumentou para 17,7%, e, no ano seguinte, atingiu o maior índice registrado nas últimas décadas: 17,8%.

Esse crescimento representa não apenas o aumento no número absoluto de fiéis, mas também uma maior presença e influência da Igreja Católica em diversas regiões do mundo. Atualmente, esse número está estável em 17,7%. Os dados são do documento Estatísticas da Igreja Católica de 2024 (Catholic Church Statistics 2024, em inglês).

 

Evolução da proporção de católicos no mundo

 

Ao analisar essas informações de maneira geográfica, dá para perceber que houve um crescimento do catolicismo em todos os continentes. Regiões como a África e América, porém, se destacam com os aumentos mais relevantes. Em contrapartida, a Europa, região tradicionalmente católica, aparece nessa conta com um crescimento mais tímido.

Conforme dados do Anuário Pontifício 2024 e do Anuário Estatístico da Igreja 2022, a população católica global aumentou de 1,25 bilhão, em 2013, para 1,39 bilhão de fiéis, em 2022. A África se destacou com um crescimento notável. Nesse período, o continente registrou um aumento de 215 milhões de fiéis para 273 milhões.

Na América, o número de católicos chegou a mais de 666,2 milhões em 2022, com um aumento de 40 milhões de fiéis em relação a 2013. Esse crescimento, inclusive, ajuda a consolidar o continente com a maior população católica do mundo.

Em contraste, a Europa apresentou uma estabilidade no número de católicos, com 286 milhões de fiéis em 2022, sem variações significativas em relação a 2013, quando o número era de 285 milhões de fiéis.

 

População católica global por continentes

 

 

Presente em todos os continentes, Francisco é o 2º papa que mais viajou

Com sua figura humilde e uma postura de proximidade com fiéis ao redor do mundo, o papa Francisco se destacou pela intensa atividade internacional. Desde sua eleição, realizou 48 viagens fora da Itália, visitando mais de 60 países – uma média de quatro viagens anuais.

As viagens papais, no entanto, são uma tradição relativamente recente. Foi apenas em 4 de janeiro de 1964 que um pontífice embarcou em um avião pela primeira vez, quando Paulo VI inaugurou o que o Vaticano passou a chamar de "viagens papais da era moderna".

Ainda assim, foi João Paulo II quem levou essa prática a um novo patamar. Ao longo de 15 anos, ele visitou 129 países em 104 viagens, tornando-se o papa mais presente fisicamente na história da Igreja. Francisco ocupa o segundo lugar nesse ranking, seguido por Bento XVI e pelo próprio Paulo VI, que, ao dar início a esse novo momento de atuação papal, recebeu o apelido de “papa peregrino”.

 

Os números de viagens internacionais dos papas



Segundo papa que mais viajou para fora da Itália, Francisco iniciou seu pontificado em 2013 com uma viagem significativa ao Brasil, participando da XXVIII Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Este evento reuniu milhares de jovens de todo o mundo, refletindo o compromisso do pontífice com a juventude e a evangelização global.

Nos anos seguintes, Francisco manteve um ritmo constante na sua incursão pelo mundo, ao realizar 32 viagens internacionais nos seus primeiros sete anos à frente da Igreja. Em 2020, porém, devido à pandemia de Covid-19, o Santo Padre e todo o mundo precisaram ficar mais reclusos, evitando viagens internacionais como medida para se proteger do vírus e evitar com que ele se propagasse ainda mais.

Em 2021, o papa Francisco voltou a viajar para além dos muros do Vaticano, iniciando com uma visita ao Iraque. Esta viagem histórica foi a primeira de um pontífice ao país e teve como objetivo apoiar a comunidade cristã local e promover a paz na região, que sofre com o domínio do Estado Islâmico.

Em 2024, Francisco realizou uma viagem apostólica de quase duas semanas ao Sudeste Asiático, visitando Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura. Na ocasião, ele passou por dois continentes e quatro fusos horários diferentes, naquela que foi considerada uma das viagens mais desafiadoras de seu pontificado, especialmente após a pandemia.

 

As viagens internacionais de Papa Francisco



O POVO+ explorou, coletou e organizou as bases de viagens apostólicas fora da Itália, registradas no site oficial do Vaticano, para mapear cada um dos locais visitados pelo papa Francisco. Abaixo, é possível acompanhar toda a linha histórica dessas peregrinações ao redor do globo.

 

Linha histórica das viagens internacionais de papa Francisco

 

 

Da fé às questões climáticas: as 4 encíclicas de Francisco

Desde quando assumiu o posto mais importante da Igreja Católica, o papa Francisco tem sido uma figura central não apenas para a religião, mas também para o cenário global. Seu compromisso com questões sociais, ambientais e espirituais reflete um desejo de adaptar a Igreja aos desafios do mundo moderno, buscando diálogo constante entre a fé e as necessidades urgentes da sociedade.

Como prova disso, seu pontificado é marcado pela produção de diversas encíclicas, documentos que articulam a visão do papa sobre questões urgentes do nosso tempo. Para além das questões próprias da , como o amor, a fraternidade e a comunhão, Francisco aborda a necessidade das pessoas estarem atentas às demandas dos tempos atuais, como as emergências climáticas e a justiça social.

Ao todo, quatro desses documentos foram publicados sob sua gestão: Lumen Fidei (2013, com autoria dividida com o papa Bento XVI), Laudato Si' (2015), Fratelli Tutti (2020) e Dilexit Nos (2022). Somadas, as encíclicas trazem em 23 capítulos 813 pontos que abordam as mais diversas temáticas que guiaram sua atuação frente à Igreja Católica.

 

As encíclicas publicados pelo papa Francisco

 

A primeira encíclica, Lumen Fidei, foi uma continuidade da obra de seu antecessor, o Papa Bento XVI, mas com a marca pessoal de Francisco. Nela está a reflexão sobre a relação intrínseca entre fé, verdade e amor, ressaltando como a fé ilumina a razão e vice-versa. Bento XVI e Francisco propõem que a fé cristã deve guiar as ações humanas em um mundo muitas vezes marcado pela dúvida, oferecendo uma luz que orienta escolhas cotidianas e molda as atitudes diante da vida.

A encíclica Laudato Si', por sua vez, foi um ponto de destaque no pontificado de Francisco. Através do documento, o Santo Padre faz um apelo por uma "ecologia integral", que articula a preocupação com o meio ambiente e com a justiça social. Ele critica ainda a mentalidade tecnocrática que prioriza o lucro e o crescimento desmedido em detrimento do bem-estar humano e do cuidado com a Terra.

Papa Francisco participa de encontro com fiéis católicos da diocese de Vanimo em frente à Catedral da Santa Cruz em Vanimo, Papua Nova Guiné, em 8 de setembro de 2024(Foto: Tiziana FABI / AFP)
Foto: Tiziana FABI / AFP Papa Francisco participa de encontro com fiéis católicos da diocese de Vanimo em frente à Catedral da Santa Cruz em Vanimo, Papua Nova Guiné, em 8 de setembro de 2024

Fratelli Tutti aborda a preocupação com as desigualdades exacerbadas pela pandemia e destaca a necessidade de uma fraternidade universal. Nessa encíclica, o papa defende o conceito de "amor político", sugerindo que a construção de um mundo mais justo depende de uma abordagem política que coloque o bem comum e a dignidade humana no centro das ações.

Além disso, a encíclica Dilexit Nos enfatiza a importância da reconciliação e do amor genuíno em tempos de crescente polarização e superficialidade. Francisco faz um apelo à transformação interior, convidando os fiéis a redescobrirem a importância de um amor que transcende as divisões sociais e culturais, promovendo a reconciliação e a solidariedade como bases para uma sociedade mais justa e fraterna.

 

 

Metodologia

Para esta reportagem, O POVO+ consultou o site oficial do Vaticano para extrair informações sobre as viagens apostólicas fora da Itália. Além do mais, reuniu dados do Anuário Pontifício 2024, Anuário Estatístico da Igreja 2022 e do documento Catholic Church Statistics 2024 (“Estatísticas da Igreja Católica de 2024”, em tradução livre), para agrupar e analisar dados sobre a evolução da população católica no mundo. Os dados serviram para construir mapas e gráficos utilizados na reportagem.

Para garantir transparência e a reprodutibilidade deste material, os dados podem ser acessados pela pasta "Números do papa Francisco - Igreja Católica", disponível publicamente no Google Drive.

O que você achou desse conteúdo?

O adeus ao Papa da esperança

Francisco sucedeu a um papa ainda vivo, algo que não acontecia há mais de seis séculos. Foi o primeiro papa latino-americano da história. Seu pontificado de mais de uma década foi marcado por tensões internas e externas,mudanças climáticas intensas, um mundo em guerra e uma volta da extrema-direita ao cenário sócio-político mundial. Francisco, porém, não se omitiu em deixar claro de que lado esteve. Foi um resistente: na alegria, na simplicidade, na misericórdia, no carisma, nos posicionamentos... Produziu números gigantes. Esta série de reportagens traz alguns fragmentos dessa Papa que se despede