A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
O acervo do O POVO destaca hoje um episódio de repercussão internacional: na manhã do dia 15 de março de 1994, dom Aloísio Lorscheider (1924-2007), então arcebispo de Fortaleza, foi feito refém por detentos, no interior do presídio Instituto Paulo Sarasate, quando visitava prisioneiros. Outras 12 pessoas da comitiva que o acompanhava também foram sequestradas pelos presidiários.
A situação foi resolvida somente depois de um dia inteiro de negociação, com a soltura de todos os reféns. Dom Aloísio pediu para ser o último a ser libertado.
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"Horas de pânico e tensão marcaram, ontem, no Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), a 27 quilômetros de Fortaleza, a vida de 12 pessoas, entre elas o cardeal dom Aloísio Lorscheider. Todas foram tomadas como reféns por um grupo de presos comandado pelo assaltante de bancos Antônio Carlos de Souza Barbosa , o "Carioca", 28. Além de dom Aloísio, os detentos dominaram os bispos dom Edmilson Cruz e dom Geraldo Nascimento, o padre Aldo Pagotto, o deputado Mário Mamede, O vereador Severino Pires, a mulher de le, Rejane Pires, o advogado Raimundo Brandão, a promotora Sheila Cavalcante. os repórteres fotográficos João Carlos Moura (O POVO) e Avelino Neres (Tribuna do Ceará) e o soldado PM Demétrio.
O vereador Severino "Bibica" Pires e sua esposa Rejane e mais o fotógrafo do O POVO João Carlos Moura foram postos em liberdade, às 01h45min de hoje, no distrito de Cristais, a 100 quilômetros de Fortaleza. Os outros reféns, inclusive o cardeal Aloísio Lorscheider, continuaram sendo seqüestrados. "Todos estão tranquilos", disse João Carlos, por telefone, à sua mulher, jornalista Suzete Nocaro. Um Centro de informações foi instalado no Gabinete do Governador para acompanhar a fuga dos detentos.
Na segunda parte do seu depoimento, João Carlos relembra o momento em que foi libertado, em Cristais
"Eles pediram dois carros pequenos, ou um carro forte, ou um furgão para a fuga, depois optaram por um carro forte em razão da segurança. O carro forte chegou e o Carioca foi examinar o carro. Verificar a questão de óleo, freio. Eles examinaram o carro todo, verificaram as armas, a munição. Eles estavam com tanta vontade de sair que pediram 100 balas para revólver 38, mas não chegou toda munição. Teve revólver que saiu de lá com duas balas.
Na hora da fuga eles disseram pra gente como sair. "Ninguém reage porque se reagir a gente mata vocês numa boa. Porque a gente vai entrar no carro. Tem que ser rápido". Já estava tudo certo. Primeiro saiu Dom Aloísio, em seguida saíram os padres. Eu e o padre Aldo saímos por último, junto com o Avelino, o repórter fotográfico da Tribuna do Ceará. O Dom Aloísio foi na frente do carro, os dois bispos e quatro pessoas. Um dirigindo e três armados. O resto do pessoal estava atrás, num buraco que você não se mexia, ou você ficava meio em pé, porque não dava para ficar em pé no carro, ou sentado.
Lá dentro do carro forte o calor era horrível. Os caras quando passavam em qualquer lugar e avistavam um carro, as colocavam nos buracos reservados para elas no carro forte. Dentro lodos os reféns estavam calados, enquanto eles comemoravam a fuga . "Nós conseguimos. Olha aí mundão que a gente espera". Comentavam o lugar para onde iam. "Vamos pra Quixadá ou lpiuna". Outro dizia que queria ficar no meio dos matos. Já outro detento queria ir para o sul do País. Eles começaram então a programar um assalto porque estavam sem dinheiro. Inclusive eles pediram nosso dinheiro. Pediram. Não era obrigado a dar. Eles chegaram próximo aos reféns e disseram "dar quem quer, a gente não quer nada de ninguém", Um deles pegou o relógio do repórter Avelino, mas depois entregou. Pegaram o meu. Quando o cara quis me entregar, isso já foi na hora que eu desci do carro forte, eu disse que ele levasse o relógio. Ele estava muito nervoso. Então, desejei boa sorte. Queria era sair fora daquela confusão. Eu queria me ver livre daquilo.
Perto de Morada Nova tinha uma camioneta no acostamento. Eles decidiram render o motorista. Já desceram do carro forte com as metralhadoras nas mãos, mandando os ocupantes da camioneta ficarem longe do veículo. Mas um dos pneus estava furado e eles • desistiram de levar o carro. Nesse momento, um dos líderes dos detentos, disse que ali iriam descer as duas mulheres. Maria Rejane Gomes de Holanda Sousa, esposa do vereador Severino Pires "o Bíbica", a Promotora, o próprio Bibica e mais um refém. Quando ele disse a palavra mágica "mais um", eu saí daquele sufoco perto de Cristais. Os detentos continuam ainda com oito reféns. Mas acredito que se outra pessoa tivesse pedido para descer do carro forte, eles deixariam. Eles queriam mesmo era Dom Aloísio, que esteve calmo durante todo o percurso do IPPS até onde fomos soltos. Mas em nenhum momento ameaçaram a vida de Dom Aloísio. Falaram até que ele é o Papa do Ceará. Uma das recomendações dos detentos para os que foram libertados, era de que a Polícia não tentasse segui-los. Caso isso acontecesse iria complicar tudo e eles não iriam mais se responsabilizar por nada. Na estrada andamos cerca de meia hora e encontramos o comboio da Polícia. Tratamos logo de passar as exigências dos detentos para os policiais e principalmente para não chegarem muito perto deles.
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O cardeal-arcebispo de Fortaleza foi libertado às 6 horas de hoje e reza pelos detentos
"Vivemos uma pequena epopéia . Sofremos um pouco, mas eles nos trataram bem. E rezarei por eles". Foi assim que dom Aloísio Lorscheider, 68, Cardeal-Arcebispo de Fortaleza, definiu as quase 20 horas que passou em poder de presidiários. Ele chegou à residência episcopal, na Prainha, por volta das oito horas de hoje, acompanhado de policiais federais, após ser libertado às 6 horas. na localidade de Serra Azul, município de Quixadá, a 168 quilômetros de Fortaleza.
A situação foi resolvida somente depois de um dia inteiro de negociação, com a soltura de todos os reféns. Dom Aloísio pediu para ser o último a ser libertado.
O ÚLTIMO A SER LIBERTADO
O acervo do O POVO destaca hoje um episódio de repercussão internacional: na manhã do dia 15 de março de 1994, dom Aloísio Lorscheider (1924-2007), então arcebispo de Fortaleza, foi feito refém por detentos, no interior do presídio Instituto Paulo Sarasate, quando visitava prisioneiros. Outras 12 pessoas da comitiva que o acompanhava também foram sequestradas pelos presidiários.
A situação foi resolvida somente depois de um dia inteiro de negociação, com a soltura de todos os reféns. Dom Aloísio pediu para ser o último a ser libertado.
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