Logo O POVO+
Oswaldo Cruz - O cientista que o Brasil não esqueceu
Foto de O POVO é História
clique para exibir bio do colunista

A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO

Oswaldo Cruz - O cientista que o Brasil não esqueceu

Um dos maiores cientistas brasileiros, Oswaldo Cruz morreu aos 41 anos, no começo do século passado. O POVO ainda não existia, mas, apesar disso, é um dos personagens mais relatados em suas páginas
Imagem 1.jpg (Foto: opovo é história)
Foto: opovo é história Imagem 1.jpg

Transcorre, hoje, o centenário de nascimento de Oswaldo Cruz, um dos maiores cientistas nacionais, sistematizador da pesquisa biológica e médico brasileiro, organizador do prestigioso Instituto que leva o seu nome e criador da escola de medicina experimental no Brasil. Dos relevantes serviços que prestou à Nação, o mais conhecido é o saneamento da cidade do Rio de Janeiro, livrando-a da febre amarela e da peste bubônica, que no princípio do século atual assolavam a então Capital da República. Fundador do maior e mais prestigioso centro de Biologia e Medicina experimental do Brasil, sem nunca ter sido professor de Medicina, idealizador e construtor de uma das glórias arquitetônicas do Rio de Janeiro, sem ser arquiteto, membro da Academia Brasileira de Letras, sem ser literato, a figura ímpar de Oswaldo Cruz - em quem as preocupações científicas se mesclavam com os anseios de arte e cujos méritos só foram devidamente reconhecidos após sua morte, ocorrida aos 41 anos de idade, no dia 11 de fevereiro de 1917, em Petrópolis.

O único filho varão entre cinco irmãs, do casal Dr. Bento Gonçalvez Cruz e sua prima-irmã D. Amália Taborda de Bulhões, nasceu Oswaldo Cruz a 5 de agosto de 1872, em São Luís do Paraitinga, Estado de São Paulo, nesta cidade viveu até 1877, quando o pai se transferiu para o Rio de Janeiro, onde a princípio clinicou no bairro do Jardim Botânico, fazendo, depois carreira no serviço público, até chegar, em 1892 a ser nomeado inspetor Gera de Higiene, cargo correpsondente ao de Diretor-geral de Saúde Pública, no qual em 1903, seria investido o filho e que lhe possibilitaria encertar e levar a bom termo a incumbência saneadora recebida do Presidente Rodrigues Alves e concretizar o acalentado sonho de fundar um grande Instituto de pesquisas bio-médicas no Brasil.

Oswaldo foi educado segundo princípios rígidos, que visavam a inculcar-lhe a importância do trabalho e da independência e a incutir-lhe diversos hábitos úteis e o valor do estudo metódico, culminando pela erradicação dos vícios e maus instintos. Foi porém, o edificante exemplo do pai, mais do que seus sermões, o fator que contribuiu de maneira preponderante para a formação de caráter do filho. Pode-se aquilatar a extraordinária força de vontade do Dr. Bento pelo seguinte caso verídico. A fim de forçar o filho a abandonar o incipiente vício de fumar, visto que os sermões não estavam surtindo o efeito desejado, ele prôprio, embora tabagista inveterado, deixou o pernicioso vício.

Iniciaram-se cedo os seus estudos. Aos cinco anos já lia corretamente, tendo aprendido as primeiras letras com a mãe. Depois estudou nos colégios Laure e São Pedro de Alcântara. Os preparatórios fe-los parceladamente no Externato Dom Pedro II. Como se vislumbrasse o seu fim prematuro, manifestava pressa em viver terminou o curso médico em apenas quatro anos, de modo que aos 20 anos já era doutor em medicina. Colou grau aos 24 de dezembro de 1892, no mesmo ano da morte do pai.

Aos 5 de janeiro de 1893 casou-se com Dona Emília da Fonseca com quem teve seis filhos. Os sogros facilitaram-lhe os estudos na Europa e o início da carreira profissional. Morto o pai, substituiu-o na clínica da Gávea e nas funções de médico da fábrica de tecidos Corcovado, onde fundou uma creche, talvez a primeira do Brasil. Martins Teixeira, Rocha Farias e Francisco de Castro, lhe abriram os respectivos laboratórios aconselhando-o a deixar a clínica e o pequeno laboratório no porão da residência para empreender viagem de estudo à Europa. Oswaldo Cruz permaneceu quase três anos em Paris, onde estagiou no Laboratório de Toxicologia e, principalmente no Instituto Pasteur. Ali travou conhecimento e amizade com Metchnikoff, descobridor do fenômeno da fagositose, que com Oswaldo conversava em português, língua que aprendera na ilha da Madeira, onde morrera a sua primeira esposa. Metchnikoff convidou Oswaldo Cruz a trabalhar no seu laboratório, mas ele recusou porque, confiante na sua estrela e no poder das quatro palavras - SABER, ESPERAR, QUERER, PODER - que contituia o lema orientador de sua conduta na vida, em sua mente já havia germinado o grandioso projeto de fundar no Brasil, uma prestigiosa escola de Biologia e Medicina experimental.

Instituto Oswaldo Cruz - Manguinhos

Ao regressar, em 1889, Oswaldo Cruz já microbiologista renomado e como chefe de laboratório da Policlinica do Rio de Janeiro, junto com Adolfo Luiz e Vital Brasil, confirmou, clínica e bacteriologicamente que a peste que assolava a cidade de Santos era realmente a bubônica. Diante da situação, as autoridades sanitárias puseram em prática as medidas profiláticas recomendadas e decidiram instalar um laboratório para a preparação de soros e vacinas contra a peste, produtos que na época, eram dificil importação e preços elevados.

Fundaram-se nestas circuntâncias, o Instituto Butantan, em São Paulo, e o Instituto Soroterâpico Municipal, no Rio de Janeiro. Confiou-se a organização do primeiro a Vital Brasil e, a do último ao Barão de Pedro Afonso, médico e cirurgião conceituado e com prática de preparo de soros e vacinas. Para colaboradores, Pedro Afonso convidou Ismael da Rocha, Oswaldo Cruz, Figueiredo Vasconcelos e Ezequiel Caetano.

Em 25 de maio de 1900, o Instituto passou para o governo federal, recebendo então o nome de Instituto Soroterápico Federal. Consistia de duas velhas cazinhas, que seriam o núcleo do atual Instituto Oswaldo Cruz. De fato, em 1901, ao dedicar o seu trabalho "á vacinação antipestosa" "ao Exmo. Sr. Barão de Pedro Afonso Fundador e Diretor do Instituto Manguinhos". Instituto esse que não existia a não ser na sua imaginação, Oswaldo revelava que ia lutar para ver concretizando o seu projeto, até então guardado em segredo, de dotar o páis de uma prestigiosa escola de biologia e medicina experimental.

O saneador

Em março de 1903, por sugestão do seu amigo Dr. Sales Guerra, o Presidente da Republica, Francisco de Paula Rodrigues Alves convidou Oswaldo Cruz a assumir o cargo de Diretor Geral da Saúde Pública Federal com a incubéncia de extinguir a febre amarela, debelar a peste bubônica e reformar completamente os serviços de Higiene, dando-lhe novos moldes e rumos. Pessimamente recebida pela opinião pública, a nomeação provocou pouco depois grita geral por parte da imprensa, dos médicos, do Congresso, da Administração, quando Oswaldo começou a por em prática o seu revolucionário plano de saneamento. Consistia ele em visitas de brigadas de "matamosquitos" a todas as casas - fossem simples choupanas ou luxuosas mansões - para esvaziarem os depósitos de água cheias de larvas do "a aedes aegypti (mosquito transmissor da febre amarela), intimações para impermeabilizar o solo das casas a fim de evitar ratos e pulgas, vetores da peste bubônica, supressão de alcovas nas casas, notificação compulsória dos casos de doenças infecto-contagiosas, fiscalização dos generos alimentícios, determinações relativas as instalações sanitárias e outras providencias inadiáveis.

O processo profilático que consiste em destruir vetores de doenças, hoje por todos bem acolhido e comumente usado no caso de parasitoses, tais como malária, esquistossomose, moléstia de chagas, constituia então novidade. Embora Walter Redd, em Havana, tivesse provado que a transmissão da febre amarela se fazia por meio da picada de um mosquito, ninguém a não o ser Oswaldo Cruz e seus amigos chegados - levava a sério tal idéia considerando-a absurdo. Acreditava-se em vez disso, que a doença era disseminada por intermédio de fômites contaminados pelas fezes e pelo vômito dos doentes. Daí a formidável campanha movida contra Oswaldo Cruz. A arma para hostilizá-lo era ridículo, em todas as modalidades; seu código sanitário chegou a ser denominado código de tortura. Em 1904, na célebre mazorca de exploração político-militar a pretexto da lei da vacina obrigatória contra a variola à própria vida de Oswaldo Cruz esteve em perigo. Apesar da sórdida campanha, Oswaldo Cruz recebeu total apoio do então Presidente Rodrigues Alves. Em 1907, ele afirmou que a febre amarela já não mais existia na cidade do Rio de Janeiro. No mesmo ano, ante o Congresso Internacional de Higiene Demografia reunido em Berlim, Oswaldo Cruz conquista o primeiro premio para o Brasil.

Planejador do saneamento do Vale do Amazonas e saneador de Belém foi, em 1913 eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Prefeito de Petrópolis, cargo que assumira em agosto de 1916, Osaldo Cruz não pode dar execução aos planos de urbanização da cidade que delineara em razão da precaridade de sua saúde. E com apenas seis meses de gestão transmitiu a posse ao Dr. Bulhões de Carvalho, vindo a falecer a 11 de fevereiro de 1917.

Foto do O POVO é História

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?