Logo O POVO+
MÁRIO COVAS
Foto de O POVO é História
clique para exibir bio do colunista

A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO

MÁRIO COVAS

A morte doída do tucano que melhor soube defender a social-democracia. O inesquecível governador de São Paulo que até hoje faz falta
Brasília - O ex-governador de São Paulo, Mário Covas, um dos defensores das eleições diretas para presidente da República.
Arquivo/ABr (Foto: Arquivo/ABr
)
Foto: Arquivo/ABr Brasília - O ex-governador de São Paulo, Mário Covas, um dos defensores das eleições diretas para presidente da República. Arquivo/ABr

7 de março de 2001

Fim da agonia

Comoção e dor, ontem, no velório do governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB). Políticos, personalidades e pelo menos 12 mil pessoas passaram até às 21 horas, pelo velório, realizado no salão nobre do Palácio dos Bandeirantes, durante todo o dia. Os elogios ao tucano vieram tanto de correligionários como de adversários políticos. Todos destacaram seu comportamento ético.

"Perdi: um amigo e um político que sempre serviu de referência", disse a ex-prefeita paulistana, Luiza Erundina (PSB). "A determinação demonstrada pelo senador na luta contra o câncer emocionou todo o País e vai se transformar numa declaração de amor à vida", dizia uma nota dos senadores do PSDB, distribuída pelo tucano Sérgio Machado.

O ministro da Saúde, José Serra, chorou duas vezes ao comentar a morte de Covas. Ele disse que a maior homenagem que poderia fazer a Covas era "começar uma nova campanha no dia de sua perda", numa referência à campanha nacional de detecção do diabetes.

O corpo do governador chegou ao Palácio às 11h43min, depois de um cortejo que atravessou as principais avenidas paulistanas. Nos primeiros 15 minutos de velório, apenas a família do governador pôde ficar no Palácio. Às 13h15min, os portões foram abertos ao público.

O cortejo fúnebre do governador foi observado em silêncio pelos moradores de São Paulo. Os motoristas que enfrentaram um megacongestionamento nas avenidas Rebouças e Euzébio Matoso não protestaram, como é usual. Nenhum som de buzina foi ouvido. Alguns saíram do carro e esperaram o cortejo pacientemente, outros aplaudiram, outros acenaram com lenços ou roupas brancas.

No Morumbi, os moradores e funcionários das mansões, normalmente fechadas, saíram para a calçada. Alguns levaram cartazes como "Covas, descanse em paz". Em todas as esquinas, pequenas aglomerações de paulistanos aplaudiram ou usavam lenços para acenar.

O novo governador paulista, Geraldo Alckmin, passou todo o tempo do velório olhando fixamente para Covas. Antes de sair, fez o sinal da cruz e um gesto de carinho, ao passar a mão sobre as mãos do governador morto.

O governador Mário Covas morreu às 5h30min de ontem, vítima de falência múltipla de órgãos, em decorrência de câncer nas meninges. Ele estava internado há nove dias no Instituto do Coração, mas vinha de uma luta de mais de dois anos contra o câncer. "Chegou o meu fim", disse Covas, logo após saber que seu quadro clínico piorara, na segunda-feira (5).

O presidente Fernando Henrique Cardoso decretou luto oficial de sete dias. Fernando Henrique pretendia estender o período para oito dias, o que não foi possível porque este tipo de luto só pode ser decretado no caso da morte do próprio Presidente. O governador do Ceará, Tasso Jereissati, decretou luto oficial de três dias. Outros estados também adotaram o luto.

IMAGEM 3.jpg(Foto: opovo mais)
Foto: opovo mais IMAGEM 3.jpg


Populares, amigos e autoridades fazem despedida

As primeiras autoridades a chegar ontem ao Palácio dos Bandeirantes para o velório do governador Mário Covas começaram a se posicionar no salão nobre 1h30min antes da entrada do corpo. Por volta das 11h, o governador Geraldo Alckmin surgiu no salão. Ele disse à imprensa que "o governo Mário Covas continua, em seus valores e princípios".

Às 11h30min, a mulher de Covas, Lila, e seus dois filhos, Renata e Mário Covas Neto, o Zuzinha, chegaram à entrada principal para aguardar o corpo. Às 11h43min, o corpo de Covas entrou no salão, sob silêncio absoluto das cerca de 400 pessoas presentes - metade delas jornalistas.

Os primeiros a velarem o corpo de Covas foram seus parentes e Alckmin. Lila, de óculos escuros e roupas pretas, passou alguns minutos ao lado de Covas, acariciando-o e chorando. Depois, sentou-se em uma cadeira para receber os pêsames.

Depois da família, por volta de meio-dia, formou-se uma fila de autoridades para velar o corpo. Alguns secretários e amigos, como a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), choravam bastante. Na primeira meia-hora do velório, chegou a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), acompanhada de seu marido, o senador Eduardo Suplicy.

Por volta das 13 horas, foi autorizada a presença da população. Às 15 horas, crianças da creche Meninos de Belém levaram flores ao governador. Durante todo o dia, várias autoridades estiveram no velório, entre elas, os governadores Anthony Garotinho (RJ)_< Dnate Oliveira (MT), Jaimer Lerner (PR), Espiridião Amin (SC), Itamar Franco (MG), Marconi Perillo (GO) e Tasso Jereissati (CE).

Também compareceram o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o ex-ministro Ciro Gomes (PFL-BA), o ex-ministro Ciro Gomes (PPS-CE), a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), o apresentador Augusto Liberato, o deputado José Genoino (PT-SP) e o empresário Antônio Ermírio de Moraes. Às 15h20min, o cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, fez uma prece em homenagem a Covas. "Estamos fazendo uma prece àquele que foi talvez o maior político deste século", afirmou.

Covas será enterrado hoje em Santos, cidade em que nasceu, com honras militares. Na cerimônia, prevista para ocorrer no início da tarde, no Cemitério Paquetá, no centro da cidade, onde estão sepultados seu pai e a filha Sílvia, morta em 1976.

IMAGEM 2.jpg(Foto: opovo mais)
Foto: opovo mais IMAGEM 2.jpg

8 de março de 2001

105 quilômetros de homenagens

A população fez ontem um corredor humano nas ruas e na estrada que liga a Capital ao litoral sul do Estado de São Paulo para ver e homenagear o cortejo do governador Mário Covas. Foram cerca de 105 quilômetros de homenagens entre o Palácio dos Bandeirantes, até a chegada ao cemitério do Paquetá, em Santos (72km de São Paulo). Mais de 400 carros acompanharam a comitiva até o litoral.

O cortejo deixou o Palácio dos Bandeirantes às 9h35min, meia hora depois de fechados os portões para a visitação pública ao velório. A Polícia Militar estima que 20 mil pessoas tenham comparecido ao Palácio dos Bandeirantes.

Às 10h40min, cerca de 1.500 pessoas aglomeravam-se nas imediações do Obelisco ao Heróis de 32, local escolhido pelo cerimonial do governo para a troca da escolta. Nas mãos, todas agitavam bandeiras distribuídas por militantes do PSDB."Ele morreu, mas fica na história. Fica na minha história", resumiu a dona-de-casa Marta Vieira de Souza.

A passagem da comitiva pelo Obelisco demorou quinze minutos. Em velocidade reduzida, ela ainda foi acompanhada pela multidão, que, a pé, pôde segui-la por alguns metros de avenida. Em seguida, seis ônibus do PSDB passaram pelo local e arrecadaram populares que queiram ir ao encontro, seguindo lotados rumo a cidade de Santos.

A Rodovia dos Imigrantes foi interditada. Todas as passarelas e viadutos por onde o cortejo passou estavam cheios e traziam faixas: "Covas, o exemplo" e "Você foi um guerreiro". Dois homens resolveram acompanharam o cortejo correndo. Hélio Dias, 31. e Hélio de Souza, 29. partiram no começo da manhã e chegaram a Santos por volta das 14 horas, pouco mais de uma hora depois da comitiva.

Em Santos, cerca de 3.500 pessoas compareceram à praça José Bonifácio, onde foram prestadas as honras militares. A Polícia Militar de São Paulo homenageou o governador com três salvas de 46 tiros de fuzil automático.

Nos muros do cemitério, coroas de famosos (Xuxa e Pelé, por exemplo) e faixas de anônimos que enviavam "condolências" à família. No caminho de volta do cemitério para São Paulo, o último pedido: "Vai, Covas, ajuda o Brasil lá de cima".

IMAGEM 1.jpg(Foto: opovo mais)
Foto: opovo mais IMAGEM 1.jpg

Foto do O POVO é História

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?