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Morre ex-presidente Itamar
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A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO

Morre ex-presidente Itamar

Estava internado desde o dia 21 de maio, quando foi diagnosticado com leucemia. O ex-presidente, que governou o país de 1992 a 1994, após a renúncia de Fernando Collor de Mello, completou 81 anos no último dia 28 de junho
Morre Itamar Franco, em 2 de julho de 2011 (Foto: O POVC É HISTÓRIA)
Foto: O POVC É HISTÓRIA Morre Itamar Franco, em 2 de julho de 2011

* desde 1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da época em que foram publicadas.

 

3 de julho de 2011
O senador e ex-presidente Itamar Franco, 81, morreu ontem no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internado desde o dia 21 de maio, quando foi diagnosticado com leucemia. Itamar se licenciou do Senado poucos dias depois para realizar o tratamento contra a doença e, segundo os médicos, vinha respondendo bem às sessões de quimioterapia.

No dia 27 de junho, porém, boletim médico mostrou que o senador havia contraído uma pneumonia grave e foi transferido para a UTI (Unidade de Tratamento Intensiva) do hospital. A leucemia havia sido detectada após o ex-presidente realizar exames devido a forte gripe.

O ex-presidente, que governou o país de 1992 a 1994, após a renúncia de Fernando Collor de Mello, completou 81 anos no último dia 28 de junho. Itamar também governou o Estado de Minas Gerais entre 1999 e 2003 e foi eleito senador no ano passado, com 5.125.455 votos.

Engenheiro, Itamar Augusto Cautiero Franco nasceu em 28 de junho de 1930 a bordo de um navio. Ele foi registrado em Salvador (BA). Sua carreira política teve início no MDB (Movimento Democrático Brasileiro), legenda pela qual foi eleito prefeito de Juiz de Fora em duas gestões, entre 1967 e 1971 e entre 1973 e 1974.

Também representando o MDB, Itamar chegou a Brasília para seu primeiro mandato como senador em 1974. Ele se reelegeu em 1982, já como militante do PMDB. Quatro anos depois, migrou para o PL, após divergências com o diretório mineiro do PMDB. Ele chegou a concorrer ao governo de Minas, mas perdeu a disputa para a antiga legenda.

Em 1989, durante as primeiras eleições diretas para presidente depois da ditadura militar, Itamar foi eleito vice-presidente do Brasil pelo PRN, na chapa de Fernando Collor de Melo. Collor recebeu 20 milhões de votos no primeiro turno e 35 milhões no segundo turno, contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Dono de um temperamento marcado pela defesa das causas nacionalistas, explosões de humor e espontaneidade, Itamar Franco assumiu o comando do Executivo em 1992, com a renúncia do então presidente Fernando Collor de Mello. Durante sua gestão, foi implantado o Plano Real, cujo conjunto de medidas garantiu a estabilidade econômica e o controle da inflação no país.

Na equipe de governo de Itamar Franco estava o senador Fernando Henrique Cardoso, que assumiu, em momentos distintos, os ministério da Fazenda e das Relações Exteriores. Ao lançar-se candidato à eleição presidencial, Fernando Henrique ganhou o apoio de Itamar para a disputa. No governo Fernando Henrique, romperam politicamente. Itamar Franco chegou a pensar em voltar à Presidência, mas desistiu e preferiu concorrer ao governo de Minas Gerais.

 

 

Morre Itamar Franco, em 2 de julho de 2011(Foto: O POVC É HISTÓRIA)
Foto: O POVC É HISTÓRIA Morre Itamar Franco, em 2 de julho de 2011

 

Dilma confirma participação em velório

A presidente da República, Dilma Rousseff telefonou na manhã de ontem, logo após ser informada da morte do ex-presidente, para o ex-ministro Henrique Hargreaves para lamentar a morte do presidente Itamar Franco.

No telefonema a Hargreaves, amigo de Itamar, Dilma Roussef colocou um avião da FAB à disposição de amigos e parentes do presidente e disponibilizou o Palácio do Planalto para o velório. Segundo Hargreaves, o corpo de Itamar deve ser velado em Juiz de Fora e de lá será transferido para Belo Horizonte, onde será cremado.

A assessoria de imprensa do ex-presidente da República e senador Itamar Franco, confirmou a presença da presidente Dilma Rousseff no velório em Belo Horizonte, amanhã, que ocorrerá após velório em Juiz de Fora.

De acordo com a assessoria, o cerimonial do Palácio do Planalto assumiu a organização do velório, que terá honras de chefe de Estado. O corpo de Itamar será levado para o crematório de Contagem amanhã, no final da tarde, onde haverá uma cerimônia íntima para parentes e amigos do ex-presidente.

O governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), disse que recebeu com "grande tristeza" a notícia do falecimento do ex-presidente e classificou a morte como "uma perda irreparável” para o Estado.

 

Cearenses no governo Itamar Franco

O governo Itamar Franco (PPS-MG), senador que faleceu ontem, foi espaço para representação do Ceará na direção da política econômica do Governo Federal. Dois ex-governadores cearenses ocuparam espaços estratégicos: Ciro Gomes (à época PSDB, hoje PSB) e Beni Veras (PSDB), chefiaram os ministérios da Fazenda e do Planejamento, pilares da política econômica brasileira. Ambos trabalharam paralelamente, de meados de 1993 até o final de 1994. Ciro assumiu o Ministério da Fazenda em 1993 substituindo Fernando Henrique Cardoso, que saira para se candidatar, exatamete, à sucessão de Itamar.

Assim como Ciro e Veras, hoje deputado federal pelo Ceará Mauro Benevides (PMDB) também conviveu com o político mineiro. Durante o conturbado processo que resultou no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo (ex-PRN, hoje PTB), Mauro presidia o Senado Federal, posto que continuou ocupando durante o mandato de Itamar.

Foi o ex-presidente, inclusive, que, em viagem ao exterior, possibilitou a Mauro ocupar interinamente a presidência da República por pouco mais de três dias, em 1992.

No Ceará, a informação sobre o falecimento de Itamar foi recebida com pesar pela classe política. "Eu o visitei três vezes enquanto estava internado, mas foi por telefone. Infelizmente, não consegui encontrá-lo pessoalmente. Considero uma grande perda para a vida pública brasileira”, disse Mauro, emocionado, em conversa com O POVO na tarde de ontem. “Sempre mantivemos, eu e ele, um vínculo muito próximo”, destacou.

 

Morre Itamar Franco, em 2 de julho de 2011(Foto: O POVC É HISTÓRIA)
Foto: O POVC É HISTÓRIA Morre Itamar Franco, em 2 de julho de 2011

 

Presidência

O governo de Itamar Franco foi marcado por uma coalizão de partidos com o objetivo de garantir a governabilidade e a estabilidade democrática após o processo de impeachment que mobilizou a sociedade e os crescentes problemas econômicos, como a escalada da inflação.

Entre os feitos de Itamar como presidente está a aprovação do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF), que em 1996 passou a se chamar Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

Em 1993, o governo de Itamar realizou um plebiscito previsto na Constituição de 1988 para escolher a forma e o sistema de governo brasileiros. O resultado confirmou o regime republicano e o sistema presidencialista.

Itamar seguiu na vida pública desde que passou a faixa de presidente a Fernando Henrique. Ele se tornou embaixador do Brasil em Portugal entre 1995 e 1996 e, depois, representou o País na Organização dos Estados Americanos (OEA) de 1996 a 1998. Já no governo Lula, entre 2003 e 2006, foi embaixador na Itália.

Neste ano, depois de não ter conseguido a indicação do PMDB para disputar a Presidência, Itamar venceu as eleições para o governo de Minas Gerais. Em 2009, Itamar anuncia sua filiação ao PPS e, no ano seguinte, disputa as eleições para o Senado

 

4 de julho

Morte de Itamar Franco deixa mais pobre cenário da política - Editorial

A morte do ex-presidente da República Itamar Franco no último sábado pegou o Brasil de surpresa e deixou a política nacional meio que órfã de grandes quadros. O infausto acontece justo no momento em que o cenário nacional carece de formuladores de peso nas altas casas legislativas de Brasília. Por isso mesmo, havia a esperança de que com a volta de Itamar Franco ao Senado como representante do estado de Minas Gerais, o debate de alto nível ganhasse aliado importante, em contraponto as discussões nem tão republicanas que se tem visto nos últimos anos naquela instituição. Infelizmente, o destino não permitiu ao país esse período de aperfeiçoamento democrático. Itamar era daqueles políticos que pregavam a coerência como norte. Em vista dessa característica, não foram poucas as desavenças com ex-aliados que marcaram sua trajetória. Nesse sentido, se certas ou erradas suas atitudes em alguns momentos, é inegável o exemplo que deixa ao país. Seja com relação a defesa intransigente do nacionalismo, ou na transparência na condução da coisa pública, mas principalmente quanto ao caráter conciliador que o fez dirigir com maestria o Brasil em um dos mais turbulentos períodos de sua história recente.

Foi a partir desse estilo "mineiro" de fazer política que Itamar entrou definitivamente para a história com a criação do Plano Real, possibilitando o saneamento da economia, abrindo caminho para o que o Brasil é hoje.

Mesmo com as análises depreciativas sobre sua figura quanto a episódios pontuais acontecidos na passagem pela Presidência da República, Itamar Franco soube se manter fiel ao que se propôs como homem público, não se servindo do cargo, mas o assumindo como missão.

O Brasil, portanto, deve muito ao ex-presidente Itamar, tanto no aspecto da condução da política econômica, como pela habilidade de saber guiar o país no momento complexo quando assumiu os destinos da nação. Mas o País deve muito também pelo exemplo de político que são tão raros atualmente.

 

 

Morre Itamar Franco, em 2 de julho de 2011(Foto: O POVC É HISTÓRIA)
Foto: O POVC É HISTÓRIA Morre Itamar Franco, em 2 de julho de 2011

 

No velório, Lula é aplaudido e Collor recebe vaias do público

Três ex-presidentes chegaram juntos à Câmara dos Vereadores de Juiz de Fora (MG) para o velório do presidente Itamar Franco. José Sarney, Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto Lula foi aplaudido pela população em frente ao prédio, o senador Fernando Collor (PTB-AL) foi vaiado. Os três se aproximaram do caixão acompanhados do vice-presidente Michel Temer, dos senadores Magno Malta (PR-ES), Renan Calheiros (PMDB-AL), Lindberg Farias (PT-RJ), do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), e do ministro Aloizio Mercadante.

Temer voltou a lamentar a morte de Itamar Franco. Para ele, foi um grande brasileiro que teve a coragem de manter o país no trilho de uma boa economia. "O presidente Itamar Franco foi um exemplo de dignidade, de coerência ao longo da vida, especialmente em matéria administrativa e política. É um exemplo para todos nós que fazemos a vida pública. Especialmente porque ele foi o praticante de um dos atos mais importantes do país, que foi precisamente a estabilidade em relação a inflação", disse o vice-presidente.

O corpo do ex-presidente chegou às 11h15 à Câmara dos Vereadores de Juiz de Fora (MG) aplaudido por cerca de 400 pessoas que o aguardavam em frente ao local. O caixão estava envolto com uma bandeira do Brasil e outra de Minas Gerais. A Câmara permaneceu fechada por cerca de 10 minutos para cerimônia privada de família de Itamar e, em seguida, foi aberta para receber outras pessoas.

Hoje, às 8h, o corpo será transportado para Belo Horizonte, onde será velado no Palácio da Liberdade. A presidente Dilma Rousseff confirmou presença na cerimônia da capital mineira. O corpo será cremado em Contagem - como Itamar havia desejado.

 

Morre Itamar Franco, em 2 de julho de 2011(Foto: O POVC É HISTÓRIA)
Foto: O POVC É HISTÓRIA Morre Itamar Franco, em 2 de julho de 2011

 

Suplente

O Presidente do Cruzeiro Esporte Clube, Zezé Perrella (PDT) vai assumir a vaga de Itamar no Senado pelos próximos sete anos e sete meses de mandato. Segundo o senador Aécio Neves (PSDB-MG), Perrella tem um perfil "absolutamente diferente" de Itamar Franco. "Itamar foi uma figura única. Nenhum de nós tem condições de suprir a sua ausência. O que temos que fazer é seguir os seus exemplos", disse Aécio, na chegada do corpo de Itamar a Juiz de Fora (MG). "Tenho um orgulho enorme de ter tido a oportunidade de ser seu companheiro", disse Aécio. Para o tucano, Itamar foi único no seu tempo. "A sua retidão, a sua dignidade pessoa, a sua coragem em defender valores e princípios é um legado para as próximas gerações."

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