
A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
* desde 1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da época em que foram publicadas.
Poderia ser história de cinema, mas foi real. O cenário é composto por uma casa na rua 25 de março, um túnel escavado com mais de 200 metros e a caixa-forte do Banco Central (Bacen), localizado na sede da instituição, no cruzamento das avenidas Duque de Caxias e Dom Manuel, no Centro da cidade. O roteiro da história tem ápice no assalto de aproximadamente R$ 150 milhões, o maior já registrado no Brasil e um dos maiores do mundo. Até o final da tarde de ontem, a Polícia Federal trabalhava com a hipótese de que o grupo seria composto por mais de 10 pessoas.
O Bacen não informou oficialmente quanto havia de dinheiro no interior da caixa-forte no momento do assalto, mas confirmou a violação de cinco contêineres, que guardavam cédulas de R$ 50,00. As notas haviam sido recolhidas pela rede bancária e teriam seu estado de conservação analisado pelo Departamento do Meio Circulante. Após a análise, parte das cédulas seria encaminhada de volta ao sistema financeiro e parte seria incinerada.
Para ter acesso ao cofre, os assaltantes escavaram um túnel de 200 metros de extensão, com 70 centímetros de espessura, a uma profundidade aproximada de quatro metros. O espaço foi revestido de madeira e lona plástica e contava com iluminação elétrica, ligada de uma casa na rua 25 de março, 1.071, até o banco. Dentro do túnel, foram encontradas ferramentas, dentre elas, alicate de corte grande, furadeira, serra elétrica e maçarico. O piso do cofre do Bacen, de 500 metros quadrados, tem espessura de 1,10m, é feito de ferro e revestido de concreto.
O crime teria acontecido ainda no fim de semana, mas as polícias Militar, Civil e Federal só foram mobilizadas na manhã de ontem, quando o caso foi descoberto. O cofre possui sensores de movimento e câmeras de vigilância, mas nenhum dos instrumentos de alarmes disparou na hora do assalto. Os primeiros funcionários do Banco Central costumam chegar por volta das 6 horas, e o assalto só teria sido descoberto por volta das oito, quando a caixa-forte foi reaberta.
De acordo com nota oficial divulgada pela superintendência do Bacen em Brasília, no início da tarde, a caixa-forte foi fechada às 18 horas de sexta-feira e reaberta somente ontem pela manhã. Segundo um investigador da Polícia Federal, que preferiu não se identificar, o buraco teria sido feito na única parte do caixa-forte que não possui câmeras de vigilância filmando.
Um policial federal entrou e seguiu pelo túnel, que acabava nos fundos de imóvel na rua 25 de março. O imóvel que serviu de base para a operação da quadrilha foi alugado há três meses. Na fachada, uma placa de loja de fabricação de grama sintética. Sete peritos da PF estiveram no local para colher provas e impressões digitais, saindo de lá com sacos cheios de material recolhido para perícia. Um mapa do Banco Central também teria sido encontrado.
A Polícia Federal foi alertada em maio último sobre a possibilidade de que um grande assalto estaria para acontecer em Fortaleza. De acordo com fontes ouvidas pelo O POVO, o assalto renderia valores que superariam a casa dos R$ 10 milhões. A informação começou a ganhar consistência no último mês de junho, dando conta de que desde janeiro um grupo de assaltantes já planejava uma ação em Fortaleza.
De acordo com a fonte ouvida pelo O POVO, a PF teria então entrado em contato com empresas de segurança privada e empresas de grande porte financeiro para montar uma estratégia de prevenção. Como porém, somente o Banco do Brasil e o Banco Central possuem estrutura para garantir o depósito com segurança de valores acima de R$ 10 milhões, as duas instituições passaram a ser o alvo de preocupações da PF.
O Banco Central e a Polícia Federal não comentaram ontem a informação de que saberiam da possibilidade do assalto. Mas o serviço de inteligência de empresas de segurança de valores e o serviço de inteligência bancária, confirmaram que trabalhavam desde maio passado com a informação de que a segurança do Ceará era vulnerável, que a qualquer momento poderia ocorrer um assalto de grandes proporções em Fortaleza.
A confirmação foi repassada com exclusividade para O POVO, por um gerente de uma empresa segurança e admitidas por um chefe de inteligência bancária no Ceará. Segundo eles, em junho estiveram reunidos com várias autoridades policiais do estado para tratar do assunto. A reunião, segundo as fontes que O POVO opta por não revelar seus nomes por questão de segurança, disseram que o serviço de inteligência da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a Polícia Federal e a Polícia Civil já haviam sido alertadas e que da reunião ocorrida em junho, participaram, entre outros, o subsecretário da Segurança Pública, coronel Laerte Macambira, que representou o então secretário Wilson Nascimento; o ex-superintendente da Polícia Civil, delegado Jaime de Paula Pessoa; e o superintendente da PF, delegado federal João Batista de Sousa.
Na ocasião, representantes das empresas de segurança e da segurança bancária solicitaram apoio operacional para transportes de valores, principalmente para cidades do interior do Estado. "Havia na época informações levantadas por nossas equipes que bandidos de outros estados estavam chegando a Fortaleza e se instalando, objetivando grandes roubos. Tudo foi repassado às autoridades, mas não foi feito muita coisa", revelou uma das fontes.
O POVO obteve a confirmação de pessoas citadas pela fonte de que teriam mesmo tratado do assunto. Elas no entanto, não quiseram se identificar. Uma delas disse apenas não recordar se teria ocorrida em junho ou no final de maio. A outra disse que pouco se acreditava que o grupo agiria contra agências bancárias e por conta disso, a Polícia passou a se preocupar em dar mais seguranças a grandes empresas e indústrias cearenses que lidam com muito dinheiro, principalmente em dias de pagamentos de funcionários.
O nome do Ceará ocupa, hoje, as principais manchetes policiais do País com o espetacular roubo de R$ 156 milhões do cofre da agência do Banco Central, em Fortaleza. O enredo só tem similar em grandes filmes do gênero, o que indica o grau de sofisticação da quadrilha responsável pela operação.
Os ladrões escolheram o alvo a dedo, pois se sabe que o Banco Central é o depositário do dinheiro das agências bancárias da Região Metropolitana, alcançar seu cofre seria efetivamente uma ação de proporções inimagináveis para os nossos bandidos pés-rapados. A primeira dedução é que seria gente de fora. Será mesmo? Desde há algum tempo essa tese deixou de ser acolhida com a facilidade de antes. Nestes tempos de globalização houve também a disseminação da tecnologia criminosa, rompendo-se as barreiras dos particularismos, com o know-how criminoso universalizando-se, deixando de restringir-se aos centros mais avançados - para o bem e para o mal.
De qualquer forma, nunca uma ação dessas ocorre, sem a participação de apoiadores locais. A surpresa é quanto ao salto de qualidade ocorrido, tomando-se em conta os padrões da criminalidade local. Não se pode dizer, contudo, que uma possibilidade desse tipo não povoasse a mente de quem acompanha o noticiário policial ou vive ligado em filmes do gênero. Trata-se, na verdade, de uma ação clássica, visto que as telas de cinema e os vídeos de TV já a reproduziram por diversas vezes, em enredos cheios de suspense, de acordo com o estilo imaginativo dos diretores. Seria impensável que os responsáveis pela segurança do Banco Central nunca tivessem imaginado essa possibilidade. E num mundo onde a realidade cada vez mais supera a ficção, é também inadmissível que nunca se tenham precavido quanto a isso. Tal “vacilo não mais se justifica numa sociedade em que o crime organizado alcançou uma alta sofisticação.
Contudo, como é da cultura nacional só colocar cadeados depois de a porta ser arrombada, espera-se que tenha servido de alerta não apenas para o Ceará, mas para o País por inteiro. Na verdade, outras agências do Banco Central já haviam sofrido ações semelhantes em outros estados. Será possível que não se pensou num tipo de sensor capaz de acusar tentativas de perfuração de paredes de aço e concreto de edificações dessa espécie? Se for por causa dos gastos, se trata de uma "economia de palitos". É imperdoável.
Resta, agora, correr atrás do prejuízo. Isso só se faz através de polícia científica, sobretudo, com informação. Esse tipo de rastreamento exige quadros qualificados e uma operação de estado-maior para centralizar as informações e as ações. Temos muito de avançar, nesse campo, no Brasil - o que não dizer no Ceará?
O planejamento do roubo demonstra estar-se lidando com pessoas altamente racionais. O cinema chegou a glamourizar esse tipo de ação, sobretudo, ressaltando os aspectos de inteligência envolvidos. Mas esse tipo de crime não tem nada de glamour, para ser realizado sempre exige criminosos com longa ficha de atentados contra o patrimônio e a vida. Não são iniciantes. Seria uma grande surpresa se o fossem.
Se falhas de segurança permitiram a surpresa e a iniciativa dos bandidos, nada poderá justificar a falha em identificá-los e capturálos. Por isso se espera uma ação decidida do poder público. Trata-se de um crime federal e, por isso mesmo, poderá contar com mais recursos técnicos, humanos e financeiros para desvendá-lo. É o que espera a sociedade.
Uma Sprinter branca, de placas HOY-0734, teria sido um dos carros usados pelo provável líder da quadrilha que assaltou um dos cofres do Banco Central em Fortaleza. O POVO apurou que o suposto coordenador da operação no Ceará seria um homem que usava o nome de “Paulo". Pela descrição de moradores e comerciantes que vivem na rua 25 de Março (entre a avenida Duque de Caxias e a rua Pero Coelho), o “simpático e educado sujeito” era moreno claro, alto (media aproximadamente 1,80 metro), calvo, usava barba rala, aparentava ter entre 40 e 45 anos de idade e tinha um corpo atlético.
O nome "Paulo" consta em um recibo do estacionamento Avenida que fica em frente à casa alugada pela quadrilha, no número 1071 da rua 25 de Março. Um funcionário, que pediu para não ter o nome nem a imagem identificados, revelou que "Paulo" usava a vaga 36 e pagava R$ 40, por mês, pelo serviço.
O documento, datado de 14 de julho desse ano, não está assinado e tem o nome do suposto assaltante impresso em umas das três linhas do documento. "Como sou novato, vi ele umas duas vezes. E como estava conhecendo os clientes, anotava no caderno o número das placas e pegava alguns dados. Dele, peguei apenas o número da placa e esse nome que ele deu”, informou.
O empregado do estacionamento, que trabalha lá desde o dia 13 de junho, disse ao O POVO que o dia 26 de julho teria sido uma das últimas vezes que "Paulo" estacionara a Sprinter na garagem 36. “Foi por volta do meio-dia. Não lembro do horário de saída. Nesse mês, não me recordo dele aqui", disse o funcionário que cumpre um expediente diário de 7h às 19 horas.
Pelo menos três pessoas, empregados ou proprietários de bares situados na rua 25 de Março, no trecho que fica entre a avenida Duque de Caxias e a rua Pero Coelho, foram levadas à sede da Polícia Federal (PF) para repassar informações sobre a fisionomia dos assaltantes e ajudar na elaboração dos retratos falados. "Não temos nada a ver com isso, não sei pra que esse negócio", reclamava uma garçonete de um dos comércios.
"Paulo”, segundo informação que corre entre moradores e comerciantes da rua, fazia pequenos lanches e bebia, vez ou outra, nos estabelecimentos. "Ele andava sozinho e, às vezes, acompanhado por dois homens que pouco falavam. Quem conversava era ele", afirmou um dos donos de um bar na Pero Coelho. Segundo relato de populares, o motorista da Sprinter seria branco, alourado, magro, estatura mediana e não usava barba. Características semelhantes de um terceiro suspeito do crime.
Segundo alguns moradores, o suposto líder dos assaltantes não tinha sotaque de "gente de fora", mas a alguém ele teria dito, em "conversas de bar”, que era da cidade de Niterói (RJ). "Tudo é boato, ninguém sabe. Já ouvi dizer também que ele seria de Campina Grande na Paraíba”, afirmou um flanelinha que trabalha no local.
Por volta do meio-dia, o quarteirão onde fica a casa 1071 da rua 25 de Março foi isolado por policiais federais. A residência, usada pela quadrilha dos ladrões do Banco Central, foi ocupada até o fim da tarde de ontem por peritos da PF e do Bacen.
"Tem bastante impressão de digital na casa e no túnel, que dá para um homem descer e seguir até o banco de joelhos”, limitou-se a dizer um dos peritos, antes de seguir a pé para na sede do banco.
E não foram só impressões digitais que os peritos recolheram entre a casa, na 25 de Março, e a sede do banco que fica na Duque de Caxias. A carroceria de uma Chevrolet branca saiu lotada de dezenas de sacos pretos para a sede da PF. Foram pás, picaretas, enxadas, cavadores, rolos de fios para instalação elétrica, arames, alicates para cortar ferros, serras, serrotes, martelos, chaves de fenda, baldes, bolsas, roldanas, botas e outros materiais utilizados em qualquer canteiro de obra de grande porte.
Além de roupas - calças e camisas -, os policiais encontraram também um razoável estoque de alimentos. Muitas latas de feijoada, sacos de pães e uma boa reserva de refrigerante que estava na geladeira ou armazenado em uma das prateleiras da cozinha. "É impressionante a competência técnica que eles tiveram. Foi perfeita", se admirava um dos agentes federais que fazia a segurança do local. Na noite de ontem, pelo menos dois policiais dormiram no local para que curiosos não tentassem violar o cenário do crime. (DT/DA)
A casa 1071 da rua 25 de Março, no Centro, tem 12 cômodos. É um dos prédios antigos da Cidade e conserva ainda hoje um desenho que comporta corredor, despensa e quintal. Foi nos fundos de seu terreiro que os assaltante (entre 6 e 10) escavaram um túnel, de aproximadamente 200 metros quadrados, e chegaram a um cofre do Banco Central.
Talvez ninguém, nem os moradores da residência do número 1063, vizinha do lado direito da "casa dos assaltantes" e nem as pessoas do Hotel Studart (vizinho da esquerda) imaginassem que ali havia sido instalado um "canteiro de obras" desde maio deste ano.
Em um compartimento no fundo do quintal, limite com uma edificação que seria da Bolsa de Valores, um buraco foi aberto. Os "operários" da quadrilha cavaram uma vala com cerca de três metros de altura, que tem na base uma abertura -porta de entrada do túnel.
"O túnel foi cavado em 'Z'. Por quê? Supostamente, onde havia uma galeria subterrânea, principalmente na Dom Manoel, eles faziam desvios”, comentava, sem se identificar, um funcionário do Banco Central. Surpreso, o servidor informava ainda que na saída do túnel no banco foram encontrados um macaco hidráulico e material para serrar barras de ferro. "Talvez para quebrar o concreto e partir as ferragens", arriscava. Segundo o funcionário, a “coisa foi tão bem feita" que os ladrões conseguiram violar a estrutura driblando os sensores de movimento e o circuito interno de câmara. "Eles tinham plantas de tudo, da rua e do banco".
O POVO apurou que na parte interna do Banco Central estaria acontecendo uma reforma em uma de suas estruturas. Toda a tubulação dos detectores de incêndio estaria sendo substituída, inclusive a que fica no cofre onde os assaltantes entraram. (DT)
Departamento de Investigação Sobre Crimes Organizados (Deic), de São Paulo, está acompanhando e auxiliando a Polícia Federal a identificar a quadrilha que agiu contra o Banco Central de Fortaleza e praticou o maior assalto a banco no Brasil. Para o delegado geral do Deic, Godofredo Bittencourt, a forma como o crime foi praticado é semelhante ao que as organizações criminosas que agem nas regiões Sul e Sudeste do País costumam realizar. "Foi uma ação que se assemelha ao modo de agir do PCC (Primeiro Comando da Capital). Uma ação extremamente estudada e elaborada com precisão, sem falhas", disse o delegado geral.
O PCC tem sua base montada nas penitenciárias paulistas, de onde o grupo planeja e comanda grande assaltos a bancos, carros-forte, empresas estatais ou privadas e ainda seqüestros em todo o Brasil. "Embora haja indícios do envolvimento do PCC, ainda é cedo para termos a confirmação de que a ação tenha mesmo sido de componentes do bando. No momento, o grupo está fragilizado, mas como há várias ramificações espalhadas pelo País, nada pode ser desconsiderado", disse.
Para Bittencourt, somente uma organização criminosa da envergadura do PCC ou até mesmo do Comando Vermelho, cuja base fica instalada em presídios do Rio de Janeiro, seria capaz de uma ação dessa natureza. O delegado da Deic explicou que, além de experiência, a quadrilha tem que ter suporte financeiro para bancar tanta ousadia. "São necessário pelo menos seis meses de estudos. Uma ação dessa não sai por menos de R$ 150 mil em investimentos, que vão desde a compra de armas, veículos e aluguel de imóveis e material para a escavação", explicou.
De acordo com o delegado Godofredo Bittencourt, que se considera um especialista em caça a organizações criminais, há 10 dias, policiais do Deic, juntamente com a Polícia paranaense prendeu um braço da organização criminosa que vinha agindo no estado do Paraná praticando assaltos a bancos e seqüestros. "O grupo caiu numa casa alugada em Curitiba, onde havia uma rádio-base instalada. A partir dali, o grupo comandava ações contra bancos e carros-forte", afirmou.
Um crime inédito. O assalto de ontem à sede do Banco Central (Bacen) em Fortaleza foi o primeiro ocorrido em um prédio de funcionamento exclusivo da instituição. Bases da corporação já haviam sido assaltadas, mas em postos de atuação conjunta com o Banco do Brasil. No início da noite de ontem, o presidente do Bacen, Henrique Meirelles, anunciou a instauração de uma Comissão de Sindicância Disciplinar para apurar internamente o episódio.
Em trinta dias, a comissão composta por quatro servidores do quadro de funcionários da autarquia deve apresentar à presidência um relatório com as informações levantadas durante aapuração. Segundo a assessoria de comunicação do Bacen, a sindicância é uma obrigação prevista em lei e não tem relação com qualquer linha de investigação que considere a hipótese de um funcionário do banco ter participado da operação.
A assessoria não informou detalhes sobre o sistema de segurança adotado no edifício e nem sobre a existência de um seguro para os valores ali depositados. Disse apenas que as informações sobre o episódio serão divulgadas à medida que a Polícia Federal (PF) for desvendando o caso.
Apesar do alto valor levado pelos ladrões, cerca de R$ 156 milhões segundo levantamento da PF, não faltará dinheiro em nenhuma das agências bancárias do Estado. A garantia foi dada pelo advogado da Associação dos Bancos do Estado do Ceará (Abance), Lúcio Paiva, segundo o qual existe um suporte técnico garantido pelo Bacen e pelas agências bancárias que evitará qualquer transtorno para os correntistas.
O advogado não soube explicar que órgão deve arcar com o prejuízo do furto. Mas ressaltou que pela sua experiência de ex-gerente bancário, nem o Bacen e nem os bancos devem pagar pelo furto, ficando este ônus por conta de sistemas de seguro.
Paiva explicou que não há nenhuma rotina no transporte de valores entre as agências e o Bacen e vice-versa. "A todo instante os bancos enviam e recebam dinheiro do Central", disse. A explicação para este trânsito está em uma das funções acumuladas no Bacen que é a de “fiel depositário". O Banco Central faz um papel de mediador entre os bancos e o Tesouro Nacional, já que as instituições financeiras não podem ficar com reserva livre, por segurança e por uma questão de mercado.
No Bacen, o dinheiro oriundo dos bancos é aplicado em letras do Tesouro, na compra e venda de títulos e nas operações de investimento noturnas conhecidas como "overnight". É também no Banco Central onde são debitados os impostos legais relativos às transações financeiras.
As notas roubadas estavam no cofre para serem analisadas pelo Departamento do Meio Circulante. Este setor é responsável, dentre outras funções, pelo projeto de cédulas e moedas, pela distribuição do dinheiro (abastecimento das representações regionais e atendimento à rede bancária), pelo saneamento do meio circulante (substituição do dinheiro desgastado) e pela segurança da moeda (monitoramento das falsificações, etc.). A distribuição e o recolhimento de dinheiro em regiões onde não há base do Bacen é realizada pelo Banco do Brasil.
Após ser analisado, parte dos milhões roubados seriam encaminhados de volta ao sistema financeiro e parte seria incinerado e trocado por cédulas novas. Por se tratar de dinheiro usado, já em circulação no sistema financeiro, o Bacen não tem como monitorar as cédulas por sua numeração.
10 de agosto de 2005
Um dia depois do assalto em que cerca de R$ 150 milhões foram retirados da sede do Banco Central (Bacen) em Fortaleza, a assessoria de imprensa do Banco confirmou: a instituição não tem seguro para cobrir o dinheiro levado. Com isto, na prática, o Banco assume o prejuízo decorrente do assalto. As informações foram repassadas ontem, laconicamente, pela assessoria de imprensa do Bacen ao O POVO.
Os contribuintes vão ter de bancar o prejuízo causado pelo assalto ao cofre do Banco Central, o maior já registrado no País. Pelas regras em vigor, todo o prejuízo do banco deve ser contabilizado no balanço da instituição. Quando o resultado é lucro, isso é repassado ao Tesouro Nacional, para reforçar o caixa do governo, formado basicamente por impostos pagos pela população. Mas quando o BC tem prejuízo, solidariamente, o buraco é coberto pelo Tesouro.
Essas explicações foram dadas ontem por técnicos do governo que acompanham as investigações, feitas pela Polícia Federal e por funcionários do Bacen, em Fortaleza. A PF ainda não tem indicações sobre o destino dos autores nem do dinheiro.
Na última segunda-feira (8), foi descoberto que o assalto - numa operação cinematográfica - ocorreu a partir de um túnel escavado por 200 metros, de acordo com nota do banco, que ia de uma residência na rua 25 de março à caixa-forte do Banco Central (Bacen), no cruzamento das avenidas Duque de Caxias e Dom Manuel, no Centro de Fortaleza.
Segundo a assessoria, o dinheiro levado do Banco Central estava creditado em conta reserva da instituição. Com isto, os recursos seriam posteriormente conferidos pelo Banco Central, para identificação de cédulas velhas - que sairiam de circulação - e de eventuais cédulas falsas. Todas as notas eram de R$ 50.
Ainda de acordo com a assessoria de imprensa do Bacen - que adota a "lei da mordaça" quanto a várias questões relativas ao assalto - o dinheiro levado será inscrito, em prestação de contas trimestral do Banco, na rubrica "débito extraviado". O prejuízo total, conforme a assessoria, será apurado pelo Banco somente a partir de hoje, quando está prevista a liberação da sede do Bacen em Fortaleza pela Polícia Federal (PF). "O prejuízo é do País”, resumiu um funcionário do Banco, que se identificou apenas como Carlos e que trabalha na assessoria de imprensa do banco.
A assessoria descartou ainda que a direção do Banco tenha sido informada anteriormente sobre a possibilidade de o assalto vir a ocorrer. Caso a hipótese de assalto tivesse sido comunicada ao Bacen, frisou a assessoria, a instituição teria se prevenido. (Com Agência Estado)
A Polícia Federal descobriu, ontem à tarde, dois cômodos falsos na casa de número 1071 da rua 25 de Março que serviu de base para a quadrilha que assaltou o Banco Central. Os locais estavam cheios de sacos de areia. Uma parte da areia também foi usada para a construção de um possível piso falso no quintal da casa. Sobre esse piso, foi colocada grama natural. De acordo com levantamento dos peritos, a condição do imóvel indica que passou por reforma recente
Cinco peritos do Banco Central estiveram ontem pela manhã na casa. Eles não quiseram dar entrevista, nem disseram seus nomes, mas a presença serviu para que fossem iniciados os trabalhos da Comissão Disciplinar Interna aberta pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A criação da comissão está prevista em Lei e tem 30 dias de prazo para entrega de relatório.
O trabalho dos peritos está sendo realizado com apoio da Polícia Federal, mas ainda na noite de segunda-feira, três deles teriam tentado entrar no local, sem sucesso. O delegado Luiz Wagner Gonzaga explicou que as investigações da entidades ocorrem paralelamente, com colaboração de informações. Segundo ele, os outros estados do Nordeste e Sudeste também trabalham na operação de captura dos criminosos.
A imprensa teve acesso à casa depois que os peritos do Bacen saíram do local. Entre os restos de material deixados pelos bandidos, alguns demonstram a preocupação que tinham com a saúde. Para matar o calor dentro do túnel, um aparelho de ar-condicionado foi instalado para garantir a ventilação através de um tubo.
Muitas garrafas de bebida isotônica (de fácil absorção pelo corpo) estavam jogadas no chão, assim como embalagens do remédio Tongifort 600. O medicamento é um polivitamínico e repositor de sais minerais. Além disso, um freezer e uma geladeira garantiam o armazenamento da comida e água gelada. No local havia também muitos calções. Os peritos da PF não encontraram até agora, nada indicasse a presença de mulheres. (Dilson Alexandre. Colaborou Luiz Henrique Campos)
De acordo com informações obtidas por fontes do O POVO, a Polícia Federal já possui o nome de possíveis suspeitos de terem participado da escavação do túnel de acesso à caixa-forte do Banco Central, e algumas prisões podem acontecer a qualquer momento.
No período da manhã circulou a informação de que uma operação realizada no bairro Serviluz havia resultado na prisão de um desses suspeitos, mas a PF negou no, final da tarde, que isso tivesse acontecido. A Polícia Federal tem dado poucas informações sobre as investigações. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Federal, a orientação de ser econômico nos comentários, faz parte da estratégia utilizada para obter sucesso nas investigações, como forma de surpreender os assaltantes. No dia do assalto foram marcadas duas coletivas com a imprensa no período da tarde, mas nenhuma delas se concretizou, com a PF se limitando a divulgar uma nota.
A expectativa era que ontem fossem divulgados os retratos falados de suspeitos do assalto, o que acabou não ocorrendo. Por meio da assessoria de imprensa, a informação passada aos jornalistas foi que somente hoje deverão ser tornadas públicas as primeiras notícias oficiais sobre o andamento das investigações.
Uma das hipóteses investigadas pela PF, segundo fontes ouvidas pelo O POVO, é de que o assalto tenha contado com a participação de um engenheiro na construção do túnel que levou os bandidos até a caixa-forte do Bacen. A suspeita de que alguém com essa qualificação participou do assalto está ligada à precisão do trabalho feito pela quadrilha. A construção é uma obra de engenharia com levantamento topográfico, iluminação e ventilação internas.
Outra hipótese é que o dinheiro ainda não saiu do Ceará. Caso a quadrilha seja mesmo formada por 10 homens, como supõe a PF, cada um teria de transportar cerca de 350 quilos de notas de R$ 50,00, o que poderia chamar a atenção. Envolvidos na apuração do crime apostam que o mais provável é que os criminosos tenham escondido tudo em algum lugar próximo de Fortaleza para retirar o dinheiro quando as buscas da polícia diminuírem.
Essa desconfiança se justifica porque um assalto desse tipo geralmente é planejado durante meses e muito dinheiro é investido no crime. Os policiais estimam em seis meses o tempo de planejamento e levantamento de informações e construção do túnel. Já os gastos com uma ação como essa ficam entre R$ 100 mil e R$ 150 mil, pois a quadrilha precisa pagar aluguéis, comprar carros, ferramentas, armas, comida, gastar com transporte para os criminosos, além de preparar um esquema para a fuga. A possibilidade de envolvimento de pessoas ligadas ao banco também é considerada provável pelos policiais.
Os peritos que examinaram o interior da casa de onde partia o túnel para o banco, encontraram diversos fragmentos de impressões digitais. Eles devem ser confrontados com os suspeitos de terem participado do crime. Por enquanto, as investigações apontam para bandidos de fora do Ceará, por causa do sotaque dos criminosos que freqüentavam a casa.
A Polícia Federal trabalha com várias linhas de investigação para justificar como a quadrilha conseguiu perfurar o piso da caixa forte do Banco Central. A utilização de explosivos não está descartada, mas os peritos também analisam outros recursos que possam ter provocado o acesso aos R$ 150 milhões em espécie que estavam guardados em contêineres. "Estamos avaliando todas as possibilidades", disse o especialista em identificação da Polícia Federal, Ulisses Sampaio. O Banco Central informou que o piso de concreto e lâminas de aço.
Os policiais federais conseguiram localizar impressões digitais num aparelho de telefone e em uma das paredes da casa. Um pó branco, parecido com cal, foi espalhado no acesso ao buraco perfurado no quintal da casa, que vai até a caixa forte do Banco Central. O objetivo, segundo Ulisses Sampaio, foi dificultar o trabalho dos peritos em detectar as digitais das pessoas que trabalharam no local.
Peritos da PF acrescentaram que o sistema de circuito interno de TV do Banco Central não teria focalizado a ação da quadrilha, como também o alarme não haveria sido acionado no momento que os homens entraram na caixa forte e retiraram as 3,5 toneladas de cédulas.
Em outro quarto da casa alugada, um banco traseiro de um automóvel foi abandonado, levantando a suspeita que este mesmo carro foi usado para transportar parte do dinheiro levado pelos assaltantes. (Rogério Gomes)
O sistema de segurança interno usado para proteger a caixa-forte do Banco Central não gravava as imagens de dentro do local, apenas as exibia a um vigia que ninguém explica até agora por que - não acionou o alarme. Peritos da Polícia Federal e do banco investigam agora o motivo de o sistema de segurança não ter sido acionado durante o assalto.
Segundo um dos delegado da PF responsáveis pelo caso, Luiz Wagner Mota Sales, o circuito de câmeras interno estava ligado, mas não gravava nada, apenas filmava. O monitoramento das imagens deveria ser feito por um vigia, “mas o sistema não funcionou a contento", disse. Sales afirmou ainda que a vigilância era feita por uma empresa terceirizada. O Banco Central não confirma nem desmente a informação, apenas afirmou que não vai se pronunciar agora. (Da Agência Folha)
O furgão de placa HOY-0734, um dos veículos utilizados pelo grupo que furtou o Banco Central, foi comprado por Paulo Sérgio de Souza, mas ainda permanece no nome de outra pessoa. Ontem, a Polícia Federal (PF) ouviu o homem que responde pela propriedade do carro e o dono de uma concessionária em Fortaleza onde foi feita a negociação. O POVO opta por não revelar nomes.
Segundo informações, o carro foi quitado pelo atual dono (de direito) em 2003 e financiado através do Banco ABN-AMRO. Mas, o assaltante Paulo Sérgio de Souza - proprietário de fato - teria comprado o veículo somente esse ano. O dono da concessionária não quis comentar sobre a informação ou qualquer outra relacionada ao negócio e de como Paulo teria chegado a sua loja. "Não posso falar nada. O delegado Wagner (Sales, da PF) pediu para não dizer nada a ninguém. Já fui lá e prestei informação", disse pelo telefone.
O POVO também telefonou para a casa do homem que tem o furgão registrado em seu nome. Segundo sua irmã, ele não estava em casa e talvez fosse chegar tarde da noite. "Eu não sei como esse carro foi parar no nome dele, mas ele está tranquilo, não tem nada a ver com esse negócio do banco, já foi na Polícia com um advogado. Ele trabalhava na concessionária e atualmente está empregado em um firma de alimentos. Só tem hora pra entrar", disse. O POVO apurou que no nome dele também foi financiado um Fiesta pelo ABN-AMRO.
Caso Paulo Sérgio de Souza ainda esteja utilizando o furgão Renault, poderá, além de responder por furto ao Banco Central e formação de quadrilha, pagar multa por não ter licenciado o veículo este ano. O último pagamento é de 2004. O carro utilizado por Paulo é um furgão branco, tipo microônibus, de placa HOY-0734 (provavelmente do Maranhão). Seu motor é a diesel, modelo 1998, apesar de ter sido fabricada em 1997. (DT e LHC)
Pelo menos dois endereços fantasmas foram utilizados por Paulo Sérgio de Souza, suposto líder da quadrilha que levou entre R$ 150milhões do Banco Central (Bacen) em Fortaleza, para abrir a firma PS Grama Sintética Ltda. Na Junta Comercial do Ceará (Jucec), "Paulo" regularizou o negócio informando que o empreendimento funcionava em Maranguape, município da Região Metropolitana de Fortaleza.
No endereço que constava como a primeira sede da PS Grama Sintética O POVO constatou que, na verdade, existe um terreno baldio há pelo menos quatro anos. O chefe do grupo, que provavelmente também usou nome falso para operar no Ceará, declarou que na rua José Fernandes Vieira, número 448, Centro, era sua base comercial.
Na rua José Fernandes Vieira, em frente ao que seria a PS Grama Sintética, funciona desde 2001 a empresa Betel Móveis S.A. "Aí, antes, era uma casa. Derrubaram e nunca mais construíram nada. Do tempo que estamos aqui, não teve essa empresa (Grama)”, afirmou Sebastião Marques, carpinteiro da fábrica de móveis.
Na Junta Comercial, o assaltante Paulo Sérgio de Souza transferiu a sede da Grama Sintética para Fortaleza no dia 31 de maio deste ano. Saiu do endereço fantasma em Maranguape e foi instalada "de fachada" na rua 25 de Março, número 1071, no Centro da Capital cearense. O único telefone da empresa, 3253-6936, também era registrado no nome do provável líder do grupo.
O POVO apurou que o endereço residencial dado por Paulo Sérgio à Junta Comercial também não existia. Ele informou que morava na rua Mundica Paula, 220, no Centro de Maranguape. No local, funcionou o Avenida Clube e, atualmente, uma igreja evangélica. Do lado esquerdo, no número 216, é a sede da Faculdade Kurios, e, à direita, a Secretaria da Educação da cidade seria sua vizinha.
A casa na rua 25 de Março, em Fortaleza, teria sido alugada a Paulo Sérgio de Souza pela Imobiliária Cláudio Jereissati. Ontem, por telefone, o proprietário da empresa disse que não poderia falar sobre o assunto. A pedido da Polícia Federal não repassaria o que revelou aos policiais.
A quadrilha, que realizou o maior assalto do Brasil e o segundo maior do mundo, estaria morando no Centro de Fortaleza há pelo menos três meses. Durante esse período, a casa 1071 se transformou em um canteiro de obras clandestino. No último fim de semana, os ladrões usaram o túnel para entrar no cofre do Banco Central e fugiram misteriosamente. O endereço fica a pouca distância da Superintendência da Polícia Civil do Ceará e dos quartéis do Batalhão de Choque e 5º Batalhão da Polícia Militar.
O comerciante Pedro Alexandre parece não acreditar no que aconteceu. A casa quase vizinha à lanchonete onde trabalha, na rua 25 de Março, serviu de base para os assaltantes construirem o túnel até o cofre do Banco Central. Ao falar sobre o caso, lembranças dos estranhos vizinhos que viu, pela última vez, no sábado.
"Eles passavam por aqui. Vi os dois pela última vez na manhã de sábado. Sei que um era o que dirigia o carro da empresa. Estranhei porque eles foram embora a pé, caminhando pela Duque de Caxias. Acredito que o assalto tenha acontecido ainda na noite de sexta", contou.
Segundo ele, a história do roubo ao Banco Central mexeu com os moradores e trabalhadores da rua em todos os sentidos. "Quando eles chegaram, causaram um inconveniente. Eles pediram para a Telemar tirar o telefone público que ficava em frente à casa", explicou.
O comerciante alertou sobre outra coincidência. Ele estava devendo à Coelce e, após uma denúncia, a energia do ponto foi cortada. "Paguei uma multa e parei de atender à noite. Isso acabou com o movimento da rua. Acho que era isso que eles queriam".
Depois do crime, a casa de número 1071 da rua 25 de Março, além de lugar de investigação, também virou "atração turística”. Desde que foi descoberta como base dos assaltantes, o local não pára de receber "visitas". Pessoas vêm de toda parte da cidade para conhecê-la, ao menos pelo lado de fora.
O estagiário dos Correios, Marksuel Mariz, 29 anos, acompanhou o movimento na casa pela manhã de ontem. Para ele, o caso representa uma vergonha para a Segurança Pública do Estado. "Como é que pode isso? Se tivesse mais policiais na rua, ficaria mais fácil perceber coisas estranhas ou alterações na rotina do lugar", comentou. (Dilson Alexandre)
A empresa PS Sousa Grama Sintética, utilizada como fachada para as ações do grupo que assaltou a caixa-forte do Banco Central, era considerada legal perante a Junta Comercial do Ceará (Jucec). A firma foi aberta em 19 de abril de 2005, tendo como único proprietário Paulo Sérgio de Sousa, natural de Vila Velha, no Espírito Santo. O capital inicial registrado foi de R$ 10 mil.
A condição legal da empresa não foi a única pista deixada pelo suposto Paulo Sérgio de Sousa. A Polícia Federal já tem informações de que ele teria efetuado compras em depósitos de construção com a nota fiscal sendo emitida em seu nome. Segundo populares, com os comerciantes da vizinhança, Paulo Sérgio de Souza era educado e cumprimentava discretamente os moradores da rua 25 de Março, sem receio de aparecer em público. (Luiz Henrique Campos)
O ousado furto de R$ 150 milhões da sede do Banco Central em Fortaleza, por meio de um túnel subterrâneo de aproximadamente 200 metros de extensão, ganhou as manchetes dos principais jornais do mundo. Tanto na Europa quanto nas Américas e na Oceania, as matérias repercutiram a impressionante história do maior assalto a bancos do Brasil e o segundo maior assalto realizado no mundo. Com destaque especial para a astúcia dos assaltantes e a riqueza de detalhes da empreitada.
A façanha teve repercussão até no norte-americano "The New York Times". Em seu site na Internet o jornal estampou: "Ladrões gastam três meses em túnel de banco brasileiro", ressaltando que este é um dos maiores assaltos a bancos da história. Manchete parecida com a dos norte-americanos foi a do jornal australiano "The Sidney Morning Herald". Outro respeitado veículo, a Rádio BBC de Londres também noticiou o assalto, em três matérias no site da rádio.
Na Alemanha, a imprensa deu imenso destaque ao crime, que recebeu manchete nos maiores jornais do País. "Roubo de banco cinematográfico no Brasil" (Die Welt), "Assaltantes roubam 52 milhões de euros" (Süddeutsche Zeitung), "Saque de cerca de 52 milhões no maior assalto a banco do Brasil" (Frankfurter Rundschau) e "Assaltantes de bancos dão golpe histórico via construção de túnel" (Der Spiegel), foram algumas das manchetes.
Já o inglês "The Independent", comparou a ação dos bandidos a um filme da ação. A matéria publicada pelo jornal londrino fez referência, inclusive a um crime que envolveu os dois países, o famoso Assalto ao trem pagador. Em 1963, um grupo de doze ingleses surpreendeu o comboio que fazia a linha Glasgow-Londres, e roubou uma soma superior a R$ 85 milhões, em valores atuais. Pouco depois, o líder da quadrilha, Ronald Biggs, se refugiou justamente no Brasil, onde viveu por muitos anos, casado com uma brasileira.
O também inglês “The Times" classificou o crime como "perfeito”, destacando a dificuldade que a Polícia encontrará para rastrear o dinheiro, já que as notas roubadas não são seqüenciais e ainda estavam em circulação. Na mesma linha, o argentino "O Clarin" considerou o golpe "uma operação milimétrica". O La Nación, também da Argentina, foi além e afirmou: "O Século XXI já tem seu 'roubo do século".
A prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), deverá assinar, nesta semana, decreto criando uma comissão de cinco integrantes para articular um convênio com o Governo do Estado que permitirá o uso das câmeras do Controle de Tráfego em Área de Fortaleza (CTA-FOR), que monitora o trânsito da Capital, para reforçar a área da segurança pública da cidade. A medida permitirá que a polícia possa usar imagens registradas pelas câmeras do CTA-FOR para rastrear indícios de crimes como o assalto à sede do Banco Central (Bancen) em Fortaleza, ocorrido na última segunda-feira (8).
Atualmente, o CTA-FOR mantém duas câmeras de vídeo ao longo das avenidas Aguanambi e Domingos Olímpio - que abrangem a área em que foi escavado um túnel por mais de 200 metros, que ia de uma residência na rua 25 de março à caixa-forte do Banco Central, no cruzamento das avenidas Duque de Caxias e Dom Manuel, no Centro de Fortaleza. As imagens não são armazenadas em tempo integral.
Conforme o diretor geral da Guarda Municipal, Arimá Rocha, um dos integrantes da comissão a ser criada, as discussões estão sendo feitas entre ele e o secretário-adjunto da Segurança Pública e Defesa Social do Estado, coronel Laércio Macambira.
Conforme Arimá Rocha, na prática, o grupo ficará encarregado de discutir com Laércio Macambira a formatação do convênio de cooperação técnica a ser firmado entre Prefeitura de Fortaleza e Governo do Estado. "A política de segurança pública é de competência do Estado, mas entendemos que o município pode contribuir com os instrumentos que possui", sustenta o diretor da Guarda Municipal.
O coronel Laércio Macambira afirma que os contatos para a celebração do convênio começaram ainda na gestão do ex-prefeito Juraci Magalhães (sem partido), de 2001 a 2004. A discussão teria sido suspensa e retomada apenas neste ano, depois da posse de Luizianne Lins, em janeiro passado.
Para Laércio Macambira, caso o convênio seja firmado, o Governo do Estado poderá disponibilizar técnicos para acompanhar as atividades desenvolvidas pelo CTA-FOR, identificando eventuais indícios de crimes. (Salomão de Castro)
Especialista em investigações criminais e consultor de segurança há mais de 30 anos, o americano James Wygand acredita que será difícil as autoridades descobrirem os autores do assalto caso não contem com "bom serviço de informantes no mundo do crime".
De acordo com ele, o bando estava estruturado. "O crime não foi planejado em mesa de bar. Foi algo pensado. Vale um filme". Ele disse que o fato de as notas serem usadas tornará a investigação mais difícil. "As notas podem pingar no Paraguai ou em outros Estados aos poucos", disse o americano, que ajudou a solucionar crimes no Brasil.
Wygand recomendou que se investigue se houve cooperação de funcionários do banco no caso, pois o alarme foi desligado. "Ou então os próprios criminosos realizaram este trabalho, o que mostra o seu preparo". Ele explicou que, por mais que o plano seja bem feito, os bandidos sempre deixam rastro. "Pode demorar, mas sempre se chega ao bando". (Agência Estado)
O secretário-adjunto da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), coronel Laerte Macambira, negou que tenha participado de uma reunião, no mês de junho, para avaliar a possibilidade de que estaria para acontecer em Fortaleza um grande assalto. A informação foi publicada na edição de ontem do O POVO, com base em fontes que teriam participado do encontro.
Macambira confirmou a informação de que a Polícia Civil e a Polícia Federal foram informadas sobre essa possibilidade, mas ele só ficou sabendo desse fato ontem. De acordo com o secretário adjunto, o alerta foi passado por policiais de São Paulo à Policia Civil do Ceará, com base em denúncia anônima feita em julho. Ele disse porém, que pelo que ficou sabendo, a versão surgiu de “forma genérica”.
O delegado Jaime de Paula Pessoa, ex-superintendente da Polícia Civil, também negou ter participado da reunião, mas disse ter tomado conhecimento de que o chefe do Departamento de Inteligência Policial (DIP), delegado Luís Carlos Dantas, teria sido avisado por policiais de São Paulo da suposta presença de bandidos do Sul em Fortaleza e que estariam se preparando para realizar um grande assalto. Essa informação, segundo Jaime de Paula, teria sido repassada por escrito pelo delegado Dantas à Polícia Federal.
O POVO, no entanto, mantém a informação revelada por fontes da segurança bancária e de empresas de vigilâncias de que entre maio e junho passados, autoridades policiais cearenses estiveram reunidos na PF para tratar de assuntos relacionados à existência de uma quadrilha no Ceará para praticar assaltos.
11 de agosto de 2005
A Polícia Federal prendeu ontem em Minas Gerais dois homens que teriam participado do assalto ao Banco Central em Fortaleza. A dupla estava em um caminhão cegonha, que transportava uma camioneta importada, Mitsubish Pajero, com dinheiro que continham os lacres dos bancos Central e do Brasil. Eram maços com notas de R$ 50. O POVO apurou que ainda em Fortaleza a quadrilha havia comprado três veículos para serem utilizados na fuga. Por toda a noite, a PF mineira fez buscas tentando encontrar mais dois outros carros.
Fontes ligadas à PF no Ceará confirmaram a informação, sem precisar nomes e a quantidade de dinheiro apreendida (que teria sido algo em torno de R$ 50 milhões). Porém, os policiais federais em Belo Horizonte negaram. "Não procede. Chequei com a Superintendência aqui e com os seis núcleos que existem no interior de Minas e não existe isso. É boato", garantiu Ricardo Amaro, relações públicas da PF mineira.
A identificação dos dois homens presos em Minas, quando tentavam atravessar uma barreira policial, teria sido facilitada por fotos tiradas em Fortaleza, que já estavam em poder da PF cearense. As imagens, segundo O POVO apurou, teriam sido enviadas a Belo Horizonte.
Desde a última segunda-feira, 8, policiais do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Brasília e São Paulo trabalham nas investigações para chegar aos nomes e ao paradeiro dos integrantes da quadrilha que furtou R$ 150 milhões do Banco Central (Bacen). O líder do bando estaria usando o nome falso de Paulo Sérgio de Souza.
Ele foi o responsável pela abertura da empresa PS Grama Sinté tica S.A. que funcionou como fachada na casa 1071 na rua 25 de Março. No piso de um dos compartimentos, que fica nos fundos da residência, entre seis e dez homens iniciaram um túnel em direção à caixa-forte do Banco Central. O Bacen de Fortaleza fica na esquina das avenidas Dom Manuel com Heráclito Graça, a dois quarteirões da empresa fantasma.
Ontem, peritos da PF confirmaram que entre o material recolhido na casa da rua 25 de Março, existe uma jaqueta suja de sangue. Segundo O POVO apurou, teria havido uma briga entre dois deles e alguém saiu ferido. Os vestígios encontrados na vestimenta foram submetidos a teste de DNA. De posse de uma provável identificação do homem ferido, agentes da PF estiveram no Instituto Dr. José Frota no Centro de Fortaleza, mas teriam pedido à diretoria do hospital para não comentar o motivo da visita.
A informação sobre a jaqueta manchada de sangue surgiu no fim da manhã de ontem, após o boato de que policiais que realizaram a incursões no túnel teriam encontrado um corpo. Por volta das 11 horas, uma equipe de sete bombeiros militares foram chamados ao local. Meio-dia e trinta, saíram da casa e retornaram para o quartel.
Um dos peritos, que não quis se identificar, informou que não havia sido encontrado nenhum cadáver. "Tudo é possível, estamos trabalhando com diversas possibilidades. A jaqueta suja de sangue existe, mas acreditamos que o dono está vivo". Em meio a tantos objetos recolhidos e indícios que aparecem a cada dia, a PF foi acionada na noite da última terça-feira para recolher, no terminal da Parangaba, dois sacos contendo lacres dos bancos Central e Brasil. Mais pistas para serem periciadas. (Colaborou Luiz Henrique Campos)
A pessoa que registrou a empresa P.S. Souza Grama Sintética na Junta Comercial, e se apresentou como Paulo Sérgio de Souza, utilizou artifícios na foto da carteira de identidade para dificultar sua identificação. De acordo com funcionários do órgão que tiveram contato com ele, o suposto Paulo seria calvo, mas na foto, utiliza um gorro para esconder essa característica.
A fotografia já está com a Polícia Federal, mas o delegado Eliomar Lima Júnior afirma que pessoas que tiveram contato com Paulo, na rua 25 de março, não o reconhecem na foto. Na identidade, ele se diz natural de Vila Velha (ES), sendo filho de Pedro de Souza e Almeida e Maria Santos de Souza.
A Polícia Federal já confirmou que o documento é falso e foi expedido no Rio Grande do Norte. Um detalhe chamou a atenção. É que Paulo afirma ter nascido no dia 5 de agosto de 1968. A data do aniversário falso coincide com o dia em que teria começado a retirada do dinheiro.
Além da foto, a PF já está efetuando quatro retratos falados dos suspeitos com a ajuda de depoimentos de vizinhos. O delegado, porém, diz que os retratos não são oficiais já que há discrepância na identificação pelas testemunhas. Hoje, a PF espera realizar a reconstituição do assalto para elaborar o laudo.
O delegado da Polícia Federal, Eliomar Lima Júnior, reforçou ontem as suspeitas de que o assalto ao caixa-forte do Banco Central tenha contado com a participação de pessoas ligadas ao banco, ao informar que uma empilhadeira, normalmente usada para transportar blocos de dinheiro no interior do cofre, estava posicionada em frente às câmaras do circuito interno de vídeo.
Outro detalhe observado pela PF, é que a empilhadeira se encontrava próxima ao buraco aberto pelos ladrões para acessar o túnel. A localização do equipamento, que foi deixado na tarde de sexta-feira nessa posição, impediu a visualização da entrada pelo acesso do túnel, e facilitou a circulação do ladrões.
Logo após a entrada pelo buraco aberto na caixa-forte, os homens teriam se arrastado por trás dos depósitos de dinheiro, que ficavam posicionados próximos à lateral do cofre. Essa trajeto também impediu a visualização pelo circuito interno de vídeo, já que acabaram sendo protegidos pelos próprios depósitos de dinheiro.
A Polícia Federal também teve a atenção despertada em relação a possível participação de pessoas ligadas ao Bacen, porque o buraco aberto no piso do cofre, é bem próximo aos depósitos de onde foram retiradas as cédulas levadas pelo grupo. A PF não soube informar a quantidade de dinheiro existente no momento do assalto, mas para se ter uma idéia, as cédulas furtadas pertencem a apenas três depósitos, que não representariam 1/20 do que se encontrava no local.
Desde o início das investigações a Polícia Federal tem se deparado com suspeitas sobre o Bacen. Uma delas, é que não foram gravadas imagens do assalto. Outro aspecto em dúvida é porque o circuito de câmeras da caixa-forte, formado por três aparelhos, que apenas filmava, mas deveria estar sendo monitorado por um vigia dentro da sede do banco, não foi.
O Banco Central não tem se pronunciado sobre as possíveis suspeitas e questionamentos levantados sobre o sistema de segurança desde a divulgação do assalto. Uma comissão de sindicância foi criada por determinação do presidente Henrique Meirelles e técnicos do órgão se encontram em Fortaleza desde terça-feira à tarde.
Os policiais federais descobriram ontem entre o material apreendido para perícia, uma planta de obras da Prefeitura de Fortaleza, detalhando a encanação existente na área onde foi escavado o túnel. O delegado Eliomar Lima acredita que o material tenha sido fundamental no planejamento da construção do acesso ao cofre e a pergunta é saber como obtiveram esse detalhamento.
A Polícia Federal trabalha com a hipótese de que pelo menos duas quadrilhas tenham se unido para realizar o assalto ao Banco Central. Segundo o delegado Eliomar Lima Júnior, dos suspeitos surgidos até agora, dois seriam de grupos diferentes. Ele porém, não descartou que outras quadrilhas também tenham colaborado.
O delegado usou o termo "consórcio" para definir a operação, levando em conta que seria necessária uma grande soma de dinheiro e apurada operação logística. Apesar de afirmar a existência de suspeitos de duas quadrilhas conhecidas, Eliomar Lima preferiu não revelar a quais grupos de assaltantes pertenceriam.
Mesmo não revelando os grupos aos quais os suspeitos teriam ligação, Eliomar Lima não descartou nenhum nome surgido até agora. Entre eles, estaria Moisés Teixeira da Silva, o "Cabelo", de São Paulo. Outro nome poderia ser o de Abedinaldo Gonçalves Medeiros, conhecido como "Tatuzinho". Cabelo é suspeito de liderar os dois maiores roubos de 2004 em São Paulo, nos quais os ladrões agiram de modo semelhante aos do Bacen.
Já Medeiros liderou o roubo ao Banespa, em 1999, o segundo maior da história. Ele está preso, porém, seis dos 13 membros de seu grupo já cumpriram a pena pelo roubo de R$ 37 milhões (equivalentes hoje a US$ 24 milhões).
Depois de avisada por um dono de estacionamento no Centro Fortaleza, a Polícia Federal (PF) no Ceará recolheu o furgão Renault Trafic, de placa HOY - 0734 para ser periciado. O veículo, foi um dos carros utilizados pela quadrilha que assaltou o Banco Central (BC) no último fim de semana. Na terça-feira,9, O POVO noticiou com exclusividade o número da placa e um recibo que trazia o nome do suposto líder da ação criminosa na capital cearense.
No carro, tipo microônibus, os peritos encontraram um maço de R$ 5 mil reais e mais R$ 350 em notas soltas de cinqüenta reais e indícios que, entre os integrantes da quadrilha, pode existir uma mulher. A suspeita foi levantada depois que a PF recolheu do piso do furgão pontas (filtros) de cigarro e no meio delas, uma suja de batom. “É material para se fazer teste de DNA", comentava um policial.
O alerta sobre a localização do furgão foi dado por Valdis Vasconcelos, 47, proprietário do estacionamento do "antigo Ibeu-Centro" na última terça-feira. Segundo Vasconcelos, o carro foi deixado na Solon Pinheiro, 58, no último sábado por volta da 17 horas por um homem que depois saiu a pé. "Desconfiei, o cara ficou de vir buscar o carro na segunda-feira (8) e ontem já era terça (10) e nada. Liguei pra polícia", disse.
Ainda na noite da última terça-feira, os policiais federais rebocaram o furgão branco e o levaram para ser periciado. Durante todo o dia de ontem, os peritos da PF trabalharam em busca de pistas científicas que pudessem traçar caminhos que levassem à localização dos integrantes da quadrilha do BC.
Além dos restos de cigarro, os policiais federais recolheram para ser examinados lacres usados pelo Banco do Brasil e Central, datados de 17 de março de 2005 e 11 de abril de 2003, carimbados com a palavra "dilacerados". Dezenas de sacos de nylon secos, do tipo utilizado para ensacar 60 quilos de açúcar, também foram catalogados como pista. Eles estavam na Van e teriam sido usado para transportar a areia do túnel.
Também foi levado para o laboratório da Polícia Federal, duas caixas de suporte para fita lacradora CIS T-336, uma bolsa pequena azul, duas garrafas plásticas de Coca-Cola (uma vazia e outra contendo uma porção de um líquido amarelado), um adesivo da empresa Grama Sintética e areia.
De acordo com informações publicadas em O POVO, na edição de ontem, o documento do furgão não está no nome de Paulo Sérgio de Souza - suposto líder da quadrilha em Fortaleza. Segundo os peritos da PF, o veículo ainda pertenceria de direito a Antonio Nilson dos Santos e foi negociado na Santana Veículos no dia 8 de junho deste ano.
Segundo depoimento prestado na PF por Antonio Ferreira de Aguiar, dono da concessionária, a Trafic foi vendida por R$ 28 mil e Paulo Sérgio pagou à vista em dinheiro. Ele teria informado ao dono da Santana Veículos, irmão de Antonio Nilson dos Santos, que os R$ 28 mil do negócio seriam oriundos da venda de um apartamento que possuía em Recife (PE).
Além da Trafic, ano 1997, modelo 1998, o grupo que assaltou o BC, ainda teria comprado na concessionária uma Kombi 1992 por R$ 4 mil. Na PF, Antonio Ferreira disse que o carro teria sido devolvido por Paulo Sérgio sob a alegativa que não agüentava transportar areia. Além do furgão e da Kombi, a quadrilha teria usado também um Gol Branco e caminhões.(Demitri Túlio)
A responsabilidade pelo fechamento do túnel que deu acesso ao caixa-forte do Banco Central (Bacen), em Fortaleza, será da Prefeitura. No entanto, qualquer intervenção na área só poderá ser executada quando a Polícia Federal (PF), que investiga o caso, liberar o local. Porém, antes, deverá ser realizado estudo pela Secretaria da Infra-Estrutura do Município (Seinf) sobre as possibilidades de danos à via pública.
O secretário da Infra-Estrutura do Município, Luciano Feijão, observa que para adotar uma providência o órgão depende da liberação da área. "Vamos verificar a extensão dos problemas para aquele entorno, como danos para via pública e ainda o que fazer e como fazer". O trabalho deverá ser feito em conjunto com a Regional II.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo (Crea-CE), Otacílio Borges, diz que o túnel terá de ser fechado de imediato por causa do risco de desmoronamento, e colocou a estrutura da entidade à disposição para realizar perícia técnica na região onde ocorreram as escavações.
Otacílio Borges, diz que o fechamento do túnel deverá ser feito com o material do próprio solo (areia) e sem muita demora por causa do risco de desmoronamento, que conseqüentemente, influenciaria a camada superficial. Neste caso, a metodologia recomendada para essa situação é com inundação (jogando água) para ajudar na ocupação dos espaços vazios.
De acordo com a PF, os assaltantes escavaram um túnel de 200 metros de extensão, com 70 centímetros de largura e a uma profundidade aproximada de quatro metros para chegar à instituição, que fica no Centro. A ação da quadrilha leva a crer que o grupo tinha conhecimento da região, já que foram feitos desvios para evitar o rompimento de tubulações.
O engenheiro civil Fernando Sales, da coordenação de urbanismo da Seinf, observa que por se tratar de uma parte antiga da cidade, o cadastro da Prefeitura contém informações apenas do "caminhamento da drenagem (por onde passa), mas faltam dados, por exemplo, sobre a profundidade". Isso porque os projetos feitos na época não foram localizados.
Ele ressalta que essa dificuldade foi constatada no diagnóstico para revisão da legislação urbanística da cidade, ocorrida entre 2003 e 2004. Já o cadastro das obras recentes dispõem de mais detalhes. Mas nas duas situações, o acesso oficial ao mapeamento geralmente se dá por solicitação de instituições mediante a justificativa para o qual será utilizado. Segundo o engenheiro, esses dados são importantes na hora de executar obra que exija conhecimento se a rede está próxima ou não ao meio-fio.
Sales diz que o levantamento da drenagem da área de localização do Bacen com todos os aspectos seria um trabalho criterioso. A assessoria de Comunicação da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) informa que na área do Bacen a profundidade da rede coletora de esgoto sanitário é em torno de 2,5 e 3 metros e que a de água possui nível de profundidade bem maior. O setor também explica que os documentos cadastrais são usados na rotina da empresa para realização de estudos e trabalhos. (Fátima Guimarães)
O presidente do Crea-CE, Otacílio Borges, diz que enviou ontem documento à Polícia Federal colocando os profissionais da entidade à disposição caso seja necessário realizar perícia na área do túnel.
Segundo ele, uma das ações do Crea seria na identificação dos equipamentos utilizados pela quadrilha na construção e para quebrar o piso da caixa-forte do Banco Central (Bacen). “Existem várias maneiras de abrir, com uma simples perfuratriz ou o moderno extrator de concreto". Esse último é muito utilizado na construção civil para perfurar laje.
Além desses, ele acrescenta que o trabalho pode ter sido feito com um rompedor elétrico ou pneumático. Borges acredita que informações como essas podem contribuir com a investigação. "Se for preciso, vamos ajudar, pois conhecemos empresas que trabalham com esses equipamentos". Segundo ele, os aparelhos podem ser alugados ou adquiridos em lojas do ramo.
A perícia também pode identificar o material usado para proteger a escavação contra desabamento. Borges ressalta que a quadrilha que assaltou o caixa-forte do Bacen deveria ter pessoas com prática de construção em terra, pois sem experiência o grupo não teria tido sucesso. O Crea dispõe de engenheiros especializados em minas que poderiam ser acionados para verificar a área das escavações.
Otacílio Borges observa que se for considerado que o túnel tenha 70 centímetros de diâmetro com 80 metros de comprimento, teria-se 30 metros cúbicos de material, o equivalente a aproximadamente 45 toneladas retiradas das escavações. Isso corresponde a seis carradas de caçambas pequenas. (FG)
Nas ruas não se fala em outra coisa: a audácia dos assaltantes que levaram cerca de R$ 150 milhões do Banco Central (Bacen) em Fortaleza. “É dinheiro que não acaba mais", comenta a mulher no corredor, que mesmo tendo a noção de que se trata de uma quantia extremamente considerável, nem desconfia que o prejuízo vai ser pago com o dinheiro do contribuinte, no qual ela se inclui. Isso porque de acordo com a assessoria de imprensa do Bacen, quem perde com o roubo é "o patrimônio do País".
Miguel Vargas, um dos assessores de imprensa do Bacen, disse que ainda não se sabe a quantia oficial do roubo e que até o momento o que se divulga são estimativas. As perdas, segundo ele, serão percebidas pelas contas do banco apenas em fevereiro, quando houver o balanço anual. E quem vai arcar com prejuízo? O próprio Tesouro Nacional, composto por impostos pagos pela população. Vargas não soube explicar porque o Bacen não dispõe de um seguro para garantir o dinheiro que o banco movimenta em caso de assalto e respondeu com evasivas. "Não existe seguro. Acho que nem vai existir”.
Quando o assunto é segurança, Vargas reforça que o Bacen não vai se manifestar. "O problema, na verdade, foi de segurança pública”, afirmou Vargas, contradizendo-se em seguida ao ser questionado sobre o banco dispor de uma segurança própria que teoricamente poderia ter impedido a entrada dos bandidos no cofre. O assessor chega a comparar a improbabilidade do assalto à agência do Banco ao atentado do dia 11 de setembro, ocorrido nos Estados Unidos, onde aviões se chocaram ao World Trade Center matando dezenas de pessoas. "Nunca havia acontecido nada parecido. Não tem histórico".
Apesar do prejuízo a ser amargado pelo contribuinte, os especialistas afirmam que o assalto não deve causar transtornos ao sistema financeiro. De acordo com Miguel Ribeiro, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a quantia roubada é grande, mas relativamente pequena se comparada ao capital circulante brasileiro que gira em torno de R$ 56 bilhões. Quanto a quem vai arcar com as perdas, Ribeiro explica que o Bacen teria duas alternativas: emitir mais papel moeda - o que não é o caso pelo fato de gerar aumento na inflação e pela quantidade de dinheiro não compensar -, ou recorrer ao Tesouro Nacional, alternativa que já é consenso.
Lúcio Paiva, diretor e assessor jurídico da Associação dos Bancos do Estado do Ceará (Abance), diz que não há previsão de uma mudança na rotina dos bancos no Estado, mas conta que hoje haverá uma reunião entre os associados para discutir as maneiras de suprir os bancos com dinheiro da maneira mais segura possível, assim como ajustes de saques.
"Grana Sintética". Pronto, bastaram três dias do anúncio do assalto ao Banco Central (Bacen) para a casa 1071 da rua 25 de Março virar piada, bem ao estilo cearense. "Rapaz, eles escolheram esse nome (Grama Sintética) pra frescar com a cara da gente", disse o ambulante Francisco das Chagas Silas, 34, que ontem deixou de trabalhar para "espiar" e "fofocar" com os curiosos plantonistas. Gente que veio da Lagoa Redonda, Barroso, Maranguape, Baturité, Senador Pompeu e Sobral. Fincou o pé em frente à casa, formou rodas de debates e de gargalhadas.
"Se prenderem eles tem que levar 'tudim' pra tomar conta do Banco Central, afinal, eles conhecem melhor do que os que tão lá dentro”, disse Dalvânio Uchôa, 35, cobrador. Outro acha que os assaltantes seriam perfeitos funcionários públicos estaduais. "Rapaz deviam falar com eles pra que eles ensinem como terminar esse Metrofor", completa um curioso.
O local já habita o imaginário de grande parte da população, como ponto de partida para "um projeto cinematográfico". A ex-Grama Sintética virou a “Casa da Esperança". Já a passagem usada pelos assaltantes, que levaram cerca de R$ 150 milhões, foi batizada pela população de “O Poço da Felicidade”.
Tem gente até querendo ser "figurante" numa possível superprodução. “Olha é coisa grande, coisa pra Spielberg fazer um filme sobre ação e quem sabe eu também estarei lá", disse, seriamente, o locutor de rádio, José Ribamar Soares. Em meio à concentração de pessoas, era comum se ouvir brincadeiras do tipo: "Eu aluguei a casa, vim só ver o que a polícia está fazendo” ou "Vim pegar o que é meu”. Ou, "Desci do ônibus só pra pegar o trocadim que eles deixaram pra mim (os mais de R$ 5 mil encontrados ontem em um carro)'.
Há os que ultrapassam a linha entre a realidade e o fantástico. "Pra mim, isso não passa de propaganda enganosa. Esse dinheiro foi roubado pra desviar a nossa atenção de Brasília (Caso Mensalão)', disse, em tom sério e seguro, Tibúrcio Januário da Silva, 59, aposentado. Há os que admiram. "Não devem ser presos, são perfeitos. Tudo meticulosamente planejado, executado. Uma obra prima", elogia Francisco Pereira Alves, 47, porteiro.
Há os que pensam o contrário. "Acho que devem ser presos porque caso contrário a Polícia Federal se desmoraliza de vez", disse Márcia Araújo, 26, balconista. E foi nesse “disse me disse" que surgiu um boato de que haveria um ou dois corpos dentro da casa. Era boato mesmo, segundo os quatro policias da Polícia Federal que faziam a "preservação da cena do crime" ontem à tarde. Mesmo assim, até isso foi parar na roda de piadas, prontas. Especulações de quem seria o corpo encontrado. A versão popular era de uma briga entre os assaltantes: "Num assalto desses, quanto menos gente para dividir o dinheiro, eles (os assaltantes) acham melhor”, opinou um cidadão. (Vanessa Alcântara e Giselle Dutra)
Pessoas do interior do Ceará - como Baturité, Senador Pompeu e Sobral e até de outros estados, como São Paulo, foram até a 25 de Março só para serem testemunhas do maior assalto da história. Eram poses para fotos, especulações sobre os assaltantes, gestos com a mão cada vez que apareciam na televisão e gritos quando os bombeiros chegavam perto da porta de entrada, que estava trancada.
O motorista Eliandro dos Santos, 22 anos, saiu de Sobral às 4h30min de ontem, só pela curiosidade de ver o esquema usado pelos assaltantes, mas não pôde entrar. Para ele, como conseqüência do assalto, vai faltar dinheiro no Ceará. "Eles não vão ser pegos nunca, mas se eu os visse, ligaria para a Polícia”, enfatizou.
Para o motorista, as pessoas estão achando fantástico porque acham que isso nunca poderia ter sido realidade, e embarca na onda: "Tenho muita admiração pela inteligência deles. São astros”. Ele acredita que são pessoas bem formadas e vindas de outros estados
De Maranguape estava o representante da família Silva. "Vim em nome dos Silva para garantir esse registro e pendurar na sala de casa", disse Valdélio Cristóvão Belém Silva.
Ele viajou de trem, às 6 horas de ontem, somente para olhar para uma casa fechada. “Vale a pena, é história", resume. (VA e GD)
12 de agosto de 2005
Uma casa-duplex, no bairro Luciano Cavalcante, seria a outra base de operações da quadrilha que assaltou o Banco Central (BC) no Ceará no último fim de semana. Segundo O POVO apurou, e foi confirmado por policiais federais e pela 2ªSeção da Polícia Militar, o casarão pertenceria a um homem que usaria o nome falso de Marcos Rogério e atuava entre São Paulo e Fortaleza há pelo menos quatro anos. Um dos planos do grupo era retirar dinheiro pelo mar. A desconfiança surgiu depois do roubo de um barco no Rio Grande do Norte.
No último sábado, por volta das 17 horas, uma Hilux e uma Pajero de cor preta foram vistas entrando na garagem. Depois de estacionados os carros, o forro da Pajero passou a ser "ajeitado" segundo informação da Polícia. Uma das pessoas que estariam “depositando dinheiro” no veículo, pela descrição, seria Paulo Sérgio de Souza - suposto líder do grupo que levou os R$ 164 milhões e 755 mil. Branco, calvo, alto, forte e com "sotaque diferente". O outro, seria Marcos Rogério.
A casa duplex, que tem aproximadamente 12 cômodos, quintal e piscina, foi "abandonada" no último sábado, horas depois do "ajuste" no forro da Pajero. Um dia antes da fuga de parte da quadrilha da capital cearense, Marcos Rogério, que tinha esposa e filho em Fortaleza, os enviou no começo da tarde para São Paulo.
Coincidentemente, segundo dados levantados pelo O POVO, por volta das 14 horas de sábado, 6, a quadrilha comprou oito passagens em um guichê da TAM, no Aeroporto Pinto Martins, com destino a São Paulo. Primeiro adquiriram dois bilhetes e em um espaço de tempo de 10 a 15 minutos depois compraram mais seis.
Todas as passagens foram pagas com cédulas velhas de R$ 50 e cada uma custou entre R$ 800 e R$ 1.000. O POVO apurou que a Polícia Federal esteve na última segunda-feira no Aeroporto e ontem retornou ao local, que é monitorado por um circuito interno de câmeras. O grupo que invadiu um cofre do Banco Central também havia feito reservas de vôos para o próximo sábado (13).
Antes de viajar, há cerca de um mês, Marcos Rogério havia dispensado a empregada doméstica e trocado a numeração de seu telefone fixo. Segundo uma atendente do Informador Popular, o número e o endereço que O POVO teve acesso constam como sigilosos.
Ontem pela manhã, um homem que estava em um Gol Verde teria ido à residência de Marcos Rogério buscar uma caixa de som. À tarde, ele teria voltado ao local, mas não teria levado nada. Segundo policiais federais, na garagem da casa foi deixado um terceiro carro.
O homem que usava o nome falso, moraria na casa há pelo menos quatro anos e, costumeiramente, viajava a São Paulo. Era um vizinho de pouca conversa e geralmente recebia visitas de amigos com sotaques diferentes. A casa, localizada em um bairro de classe média alta de Fortaleza, possui um sistema de segurança 24 horas com circuito interno e externo de câmeras e cerca elétrica. (colaborou Cláudio Ribeiro)
Dois supostos integrantes da quadrilha do Banco Central teriam sido identificados pela Polícia Federal através de fotos. As imagens dos ladrões foram registradas durante uma festa de aniversário em uma sauna gay localizada no Centro de Fortaleza. Um funcionário do lugar, que O POVO opta por não revelar o nome, negou que os homens da casa 1071 da rua 25 de Março tivessem participado de alguma comemoração no local.
"Não costumamos tirar fotos de clientes, só dos transformistas que fazem show na noite. Aqui é assim, não sabemos da identidade de ninguém. Se divertiu, pagou, vai embora. A alma do nosso negócio é a discrição, afirmou.
Mas a versão não seria essa. De posse das fotografias, uma das pessoas que participou da festa teria se assustado com um telefonema que recebeu. Segundo policiais federais, um dia depois de agentes da PF terem percorrido casas e comércios em busca de indícios que levassem aos suspeitos, o rapaz teria recebido ameaças. Para se proteger, o dono das fotos resolveu repassá-las para um policial militar que as entregou na Superintendência da Polícia Federal em Fortaleza.
Delegados e agentes da Polícia Federal cumpriram na tarde de ontem, oito mandados de buscas e apreensões em residências e empresas dos irmãos Dermival Fernandes e José Eliziomartis Fernandes, o "Neném", donos da revenda de veículos Brilhe Car, na avenida Humberto Monte, Os mandados foram expedidos pelo juiz plantonistas da Justiça Federal, Bruno Fernandes Carrá. A PF também esteve na JE Transportes de Veículos, de propriedade de José Charles Machado de Morais. A PF aprendeu computadores, notas fiscais e documentos de veículos para serem analisados pela perícia.
O objetivo da PF era buscar ligações comerciais entre a Brilhe Car e a JE Transportadora. Em depoimentos na PF, os empresários Dermival e Neném disseram ao delegado Eliomar Lima que mantiveram negócios com Charles Morais por sete anos e seis meses, mas há uma ano e sete meses haviam desfeito os negócios.
De acordo com os advogados Paulo Quezado e Paulo César Feitosa, responsáveis pela defesa dos empresários da Brilhe Car, Charles Morais havia acertado a compra de 10 veículos na Brilhe Car. Nove foram colocados no caminhão-cegonha e seriam levados para São Paulo. O décimo veículo seria entregue logo que Charles voltasse da viagem. A negociação ocorreu no último sábado, 6.
O POVO apurou com fontes na PF que 15 dias antes do assalto, integrantes da quadrilha teriam ido à Brilhe Car encomendar os veículos. A encomenda teria sido feita por Charles Morais, que estava com seu pai, uma criança e um homem, identificado como Robson. Este último, segundo a PF, teria participado do assalto à Corpvs, em 7 de julho de 2000, quando roubaram R$ 6,9 milhões.
O advogado Paulo César Feitosa informou que durante seus depoimentos, os empresário Dermival e Neném fizeram a devolução de R$ 800 mil e que hoje irão devolver mais R$ 180 mil à PF. O dinheiro, conforme Feitosa, seria referente à venda dos veículo. "Meus clientes são idôneos. Não compactuam com o crime organizado. Os veículos foram vendidos de boa fé. Até então, eles não sabiam do assalto. Mesmo assim estão fazendo a devolução do dinheiro", disse Feitosa.
A operação nas casas e empresas dos sócios da Brilhe Car levou 2,5 horas. Seis delegados federais estiveram envolvidos. O delegado Wagner Mota Sales admitiu ter encontrado evidências que ligam as duas empresas.
Os advogados de Charles Morais, proprietário da JE Transportadora, e dos donos da Brilhe Car, Dermival Fernandes e Nenê, apresentaram versões diferentes para o caso da compra dos nove veículos por parte de membros da quadrilha. As versões acabaram gerando contradições e levantando mais suspeitas sobre os envolvidos.
A principal contradição é quanto à intermediação para a compra dos carros. Os donos da Brilhe Car afirmaram que Charles, acompanhado do pai, de um irmão, uma criança e um amigo, esteve a cerca de 15 dias antes da efetivação da compra, na Brilhe Car para garantir o negócio. Já os advogados dele negam o fato, dizendo que Charles só faria um serviço para determinado cliente que afirma não conhecer. Os carros seriam transportados para São Paulo.
Outra contradição é quanto à identificação do local onde se encontrava Charles e a cegonha com os carros. Os donos da Brilhe Car garantem que foram eles que telefonaram quarta-feira à tarde para Charles, localizando-o no interior de Minas Gerais. Em seguida, teriam passado o telefone para um policial federal, que mandou ele parar o carro no posto mais próximo da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
A advogada do dono da transportadora também nega a versão. Segundo ela, Charles não falou com os donos da Brilhe Car na quarta-feira, muito menos com alguém da Polícia Federal. A advogada diz ainda que Charles não viajava na cegonha, e sim em um carro que ia atrás. Ele parou no posto da PRF, porque o caminhão foi interceptado e, procurou saber o que estava acontecendo. (LHC)
A Polícia Federal localizou mais R$ 2 milhões em um dos 11 automóveis que estavam na carreta do tipo "cegonha" que foi apreendida na quarta-feira, 10, em Minas Gerais. Para a PF, o dinheiro faz parte dos R$ 164 milhões e 755 mil roubados. O dinheiro estava escondido no interior de uma caminhonete Montana. Na noite de quarta-feira, os policiais já haviam encontrado R$ 1.010.100,00 escondido no assoalho de uma caminhonete Mitsubishi L-200, que também estava na cegonha. A apreensão foi num posto policial da BR-040 em Sete Lagoas, município a 70 quilômetros de Belo Horizonte.
No final da tarde, o dinheiro foi levado para conferência no Banco Central e depositado na Caixa Econômica Federal. De acordo com um delegado que participou da apreensão da carreta, a Polícia Federal já estava monitorando o veículo desde que ele saiu de Fortaleza. Os policiais já tinham a informação de que havia dinheiro da quadrilha que assaltou o Banco Central nos dois veículos. Eles fazem parte dos nove adquiridos pela quadrilha e por isso foram os primeiros a passar pela revista.
A Polícia Federal informou que a carreta foi apreendida por volta de 16 horas da quarta-feira. Os peritos acreditam que há mais dinheiro na Mitsubishi, cuja placa é MYB-4597. A Montana, de placa HYE-8959, só começou a ser periciada na tarde de ontem na Superintendência da Polícia Federal em Belo Horizonte, depois que o dinheiro apreendido na Mitsubishi foi conferido no Banco Central.
Na Montana, os policiais encontraram, numa contagem preliminar, R$ 2.085.000, 00. Os trabalhos devem continuar até hoje porque todos os 11 veículos serão vistoriados. (Com agências)
Quatro pessoas estão presas desde ontem na superintendência da Polícia Federal em Fortaleza como suspeitos de terem participação na quadrilha que assaltou a caixa-forte do Banco Central. Além de José Charles Machado de Morais, proprietário da J.E. Transportadora de Veículos, e o motorista do carro cegonha detido em Sete Lagoas na tarde de quarta-feira, Francisco Rogério Maciel de Souza, foram presos os irmãos Dermival Fernandes e José Eliziomartis Fernandes, conhecido por "Nenê".
José Charles Machado e Rogério Maciel desembarcaram em Fortaleza por volta das 10h30min e seguiram direto para a superintendência da Polícia Federal. Segundo seus advogados, Herbênia Rodrigues, e José Nogueira Granja, ele não foi ouvido na PF, já que o depoimento foi prestado no dia anterior em Minas Gerais.
Dermival Fernandes e Nenê são proprietários da revendedora de veículos Brilhe Car, onde foram comprados os nove carros pela quadrilha, na tarde de sábado. Eles tiveram a prisão temporária decretado à tarde, pelo juiz plantonista da Justiça Federal, Bruno Leonardo Camará, após prestarem depoimento à Polícia Federal.
No depoimento, de acordo com o advogado Paulo César Feitosa, os irmãos negaram participação na quadrilha e afirmaram ter vendido os carros em uma operação comercial considerada normal por eles, com o valor total sendo de R$ 980 mil. Segundo o advogado, a Brilhe Car é uma das maiores revendedoras de veículos do Estado, chegando a vender em média 70 carros por mês, faturando em torno de R$ 1 milhão e 300 mil.
Sobre o fato de terem recebido grande quantia em dinheiro e não terem se questionado em relação ao fato, Paulo César explicou que Dermival e Nenê faziam negócios com Charles há pelo menos sete anos, e não tinham motivos para desconfiar de qualquer coisa. Ainda ontem, eles devolveram R$ 800 mil pagos pelos carros, ficando de entregar o restante hoje.
Paulo César Feitosa ressaltou que a venda foi feita em dinheiro, sendo que a compra tinha sido acertada 15 dias antes. Ele disse ainda que os empresários foram surpreendidos com as notícias do assalto e passaram a levantar suspeitas sobre a venda dos carros. Na tarde de quarta-feira foram procurados por policiais federais para detalhar a transação comercial.
Charles também negou participação no assalto, afirmaram seus advogados. De acordo com Herbênia, ele teria sido contratado por um cliente para transportar os carros até São Paulo e pelo serviço recebeu R$ 850.000. Os advogados também inocentaram o motorista, que seria funcionário de Charles. Apesar disso, até ontem, o motorista não estava oficialmente com advogado constituído.
Os quatro homens suspeitos de participação no milionário assalto ao Banco Central de Fortaleza foram submetidos a exame de corpo de delito, ontem à noite, no Instituto Médico Legal (IML). Sob a guarda de policiais federais, os acusados chegaram algemados ao local, por volta das 20 horas. Cerca de meia hora depois, eles já retornavam para a Superintendência da Polícia Federal (PF) - onde cumprem prisão temporária.
Nesse meio tempo, os quatro reagiram de maneira diferente ao assédio da imprensa. Enquanto uns demonstravam nervosismo e pouco falaram sobre o assunto, outros aparentavam calma diante da incômoda situação. Todos, porém, aproveitaram a oportunidade para se declararem inocentes da participação no assalto.
Em meio ao empurra-empurra, o único dos acusados que falou demoradamente com a imprensa foi José Charles Machado de Morais. Ele negou a participação no golpe. "Intermediei a compra dos veículos. Tenho uma transportadora e ajudei na venda. Não tenho nada a dever, por isso posso mostrar minha cara”, foi logo adiantando.
No entanto, Charles não foi claro quando questionado sobre com quem teria tratado na "intermediação", sem especificar se manteve contato com algum membro da quadrilha. "Só tratei com a Brilhe Car (empresa que vendeu nove carros à quadrilha, dentre os quais a Pajero apreendida)", limitou-se a responder. Ele negou ainda ter conhecimento prévio de que a Pajero transportada pelo carro cegonha continha parte do dinheiro roubado. O motorista da cegonha, Francisco Rogério Maciel de Souza, também negou saber da existência do dinheiro, repetindo constantemente: “Só sei que sou inocente”.
Os irmãos Dermival e José Eliziomartis Fernandes também preferiram não dar declarações, afirmando apenas inocência nas suspeitas e que desconheciam Paulo Sérgio, apontado como articulador da quadrilha. Entretanto, o advogados deles não souberam informar sobre a existência de comprovantes da venda dos veículos, que poderiam funcionar como provas para a elucidação do caso.
Aumenta a possibilidade de participação de alguém de dentro do Banco Central (Bacen) na ação dos assaltantes que levaram R$ 164 milhões e 755 mil da instituição. A informação foi dada ontem por dois peritos da Polícia Federal que percorreram o túnel cavado de dentro da casa 1071, na rua 25 de Março, até o cofre do Bacen. Depois de constatar algumas curvaturas na extensão da escavação, os policiais chegaram a conclusão de que "poderia ter gente dentro da caixa-forte que facilitou a entrada”. Segundo o geólogo e perito Marcelo Blum, rádios, bússolas, mira a laser ou até um equipamento de topografia podem ter sido usados para guiar quem estava dentro do túnel.
Algo simples, como um pedaço de cano ou pau também pode ter sido utilizado para comunicação com quem estava cavando."É possível gente até dentro do cofre porque quando estávamos passando debaixo da avenida (Dom Manuel) ouvimos barulho de carros. Alguém poderia estar fazendo barulho para que eles seguissem", disse o perito. O que chama atenção é que o túnel, nas imediações da avenida, já bem próximo ao banco, faz uma curvatura para a esquerda. “Como se alguém tivesse avisado o caminho", acrescenta.
Mais ainda, o local onde os criminosos saíram dentro do cofre do banco é exatamente onde a câmera, escondida por uma empilhadeira, deveria focá-los. Mas como o equipamento, usado normalmente para transportar blocos de dinheiro dentro do cofre, estava bloqueando, a câmera nada registrou. “Uma pessoa conhecendo o interior saberia onde estava a empilhadeira e por isso pode ter tido uma participação de dentro do banco”, disse Blum.
Segundo ele, o túnel "é seguro, bem escorado e até os locais onde a areia era mais solta foram forrados com madeira". Todo o percurso foi fotografado. A cada 15 metros havia um ventilador para garantir a passagem de ar. Em determinados pontos, de acordo com o perito, o túnel ficava somente com 50 centímetros de altura, mas era possível passar se arrastando.
Em outros locais, a passagem pôde ser feita até mesmo de joelhos. Em praticamente toda a extensão o revestimento é de madeira.
"Aquele tipo de areia é muito fácil de ser removida, até mesmo com as mãos", acrescentou Blum. O perito que o acompanhou foi o engenheiro civil Flávio Segundo Wagner. Ambos vieram de Brasília para realizar a perícia. De acordo com Wagner, para abrir o chão do cofre, que mede 1.10 metros de espessura, os assaltantes usaram dois aparelhos do tipo Makita (uma serra manual de corte) e em seguida um macaco hidráulico para romper outra barreira de 40 centímetros. O equipamento utilizado é composto por um disco diamantado capaz de cortar concreto e até rochas. Ainda ontem, Wagner iria testar um dos aparelhos no próprio concreto do Bacen para acrescentar à perícia.
Quatro homens do Corpo de Bombeiros acompanharam a perícia e um deles entrou no túnel com cilindros de oxigênio, de forma preventiva, com os peritos. Os outros três ficaram na casa, onde se inicia o túnel, dando cobertura para qualquer eventualidade.
Também ontem, uma empresa de serviço terceirizada realizou a remoção dos objetos já periciados dentro da casa. Móveis, eletrodomésticos, colchões, roupas e eletroeletrônicos foram levados para a Superintendência da Polícia Federal. Tudo faz parte do inquérito que foi instaurado para investigar o caso. Segundo a Polícia Federal, como já foram realizadas todas as perícias necessárias, a casa deve ser liberada nos próximos dias para o proprietário.
A dúvida sobre o real valor levado pelos assaltantes da caixa-forte do Banco Central (Bacen) foi dissipada ontem com a oficialização, por parte da instituição, da quantia subtraída. Em nota oficial, o Bacen informou que o total retirado "de sua Gerência Regional de Fortaleza (CE) no final de semana passado foi de R$ 164.755.150,00".
Ainda segundo a nota, o Banco Central chegou a este número hoje, depois da Polícia Federal ter liberado o local e após a realização de todas as perícias necessárias. Antes da divulgação oficial, especulou-se que o valor seria de R$ 156 milhões. O POVO, porém, trabalhou com a versão oficial apresentada na segunda-feira (8), de que o assalto teria rendido R$ 150 milhões.
A nota oficial divulgada pela Banco, no entanto, não esclarece as dúvidas relacionadas a possíveis falhas no sistema de segurança. A situação fez a Polícia Federal não descartar a possibilidade de que pessoas ligadas ao Banco Central tenham colaborado para a execução do assalto. Dentre as dúvidas está o posicionamento de uma empilhadeira, dentro da caixa-forte, que impediria a visualização do circuito interno de vídeo.
A PF também teve a atenção despertada, porque o buraco aberto no piso fica bem próximo aos depósitos de onde foram tiradas as cédulas. Os policiais ainda não obtiveram resposta sobre o porquê de não terem sido gravadas imagens do assalto pelo circuito interno. De acordo com informação extra-oficial, o circuito de câmaras do cofre é formado por três aparelhos que apenas filmam, mas não gravam as imagens, mas que deveria ser monitorado por um vigia. Isso acabou não acontecendo.
Depois da perícia realizada no túnel, um grupo de especialistas da equipe do Laboratório de Geofísica da Universidade Federal do Ceará (UFC) realizou um exame minucioso no solo e nas paredes da casa. De acordo com o professor de Geofísica, Mariano Castelo Branco, a intenção era descartar a hipótese de algum corpo ou qualquer material suspeito enterrado no local.
O equipamento utilizado foi o Ground Penetrating Radar (GPR) ou Radar de Penetração no Solo. O aparelho é o mesmo que foi usado no caso da morte dos seis portugueses, enterrados vivos, na barraca Vela Latina, no dia 12 de agosto de 2001. "A finalidade é que através de ondas eletromagnéticas, nós investigamos estruturas como cimentos, por exemplo", explicou Castelo Branco.
O GPR também tinha capacidade para checar se havia ou não risco de desabamento por causa da construção do túnel. Segundo o professor da UFC, foram adquiridos dados que ainda estão sendo processados, mas adiantou que duas paredes falsas foram descobertas. "Não existe nada além do que já se sabe", informou o especialista. Entre a equipe que realizou o trabalho estavam dois pesquisadores do Centro de Geofísica de Lisboa.
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